Crítica de cinema - Sísifo
- Atualizado em 26/02/2019 19:25
(A morte te dá parabéns 2) —
Na década de 1960, o matemático e meteorologista Edward Lorenz fez uma simulação num computador ainda bem elementar. Lançou nele informações sobre oscilações do tempo climático para obter previsões. Combinando os dados, o computador forneceu um resultado. Ele repetiu a mesma experiência com os mesmos dados e o resultado foi diferente. Com as mesmas informações, os resultados finais sempre eram diferentes. Ou o problema era do computador ou um sistema em movimento é imprevisível. Lorenz ajudava a fundar ali a teoria do caos.
Ele atribuiu a variabilidade de resultados a partir das mesmas informações à hipersensibilidade das condições iniciais. A teoria do caos ganhou o cinema. Vários filmes foram concebidos a partir dela, como “Efeito borboleta”; a trilogia “De volta para o futuro”; “Corra, Lola, corra” e outros mais. Nem sempre os resultados têm sido bons porque roteiristas e diretores costumam simplificar a teoria para se tonarem mais palatáveis ao público. Ou não a conhecem devidamente.
“A morte te dá parabéns-2”, roteirizado e dirigido por Christopher Landon, dá continuidade ao primeiro filme da série investindo na teoria do caos. Os engenhos construídos por estudantes universitários levam o nome de Sísifo, personagem da mitologia grega condenado a empurrar eternamente uma pedra morro acima, já que, no topo, a pedra rola novamente para baixo.
Nem o primeiro filme nem este segundo podem ser considerados autênticos representantes do gênero terror. No primeiro, a personagem Tree Gelbman (Jessica Rothe) está condenada a morrer infinitas vezes até se livrar da maldição do eterno retorno. Ela consegue. No segundo filme, a maldição recai sobre um universitário americano-oriental integrante do projeto Sísifo. Por acidente, a maldição volta a recair sobre Tree. Ela fica enfurecida, mas se depara com dois cenários a sua frente. Num, a mãe morta torna à vida. Mas, neste, ela perde a oportunidade de conquistar Carter Davis (Israel Broussard), por quem se apaixona. Depois de muitas mortes e ressurreições, ela escolhe a mãe. Em seguida, quer mudar a história a favor da paixão.
A simplificação da teoria do caos reside em escolher trajetórias de vida. A hipersensibilidade das condições iniciais proposta por Lorenz, na verdade, vem a ser a hipersensibilidade das condições gerais ao longo de todo o processo. Já sabemos que a liberação de gás carbônico na atmosfera causa mudanças climáticas. Pode-se prever que as temperaturas da terra, na média, aumentem. Mas muitas outras resultantes podem ocorrer de forma imprevisível.
Voltemos a Sísifo. Pela teoria do caos, a trajetória da pedra morro acima e morro abaixo nunca será a mesma nas repetidas vezes. Ela é sempre idêntica na concepção trágica dos gregos da antiguidade, ou seja, Sísifo não foge da sua condenação, sempre empurra a pedra da mesma maneira. Por sua vez, a pedra rola o morro da mesma forma.
Na teoria do caos, Tree até poderia ansiar por um futuro numa escolha difícil (a mãe ou a paixão da sua vida), mas ela nunca teria garantia de cair numa trajetória ou noutra. Creio que a maioria das pessoas que estava comigo no cinema não entendeu o filme devidamente. Ninguém é obrigado a conhecer a teoria do caos. Mas o diretor dá ao drama toques de humor e de ficção científica, o que diverte o público. Parece ser o suficiente.
No mais, o chavão de sustos súbitos e o uso de máscaras. Elas sempre aumentam o medo. No final, um gancho para o terceiro filme da série. Se o segundo colar.

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