Matheus Berriel
11/02/2019 19:41 - Atualizado em 13/02/2019 17:13
Campista radicado no Rio de Janeiro há 18 anos, o pianista, compositor e arranjador Adaury Mothé terá um reencontro com suas raízes na noite da próxima quinta-feira (14), quando lançará seu primeiro álbum autoral no Sesc Campos, às 19h. Batizado com o mesmo nome do chorinho feito em parceria com seu pai, o acordeonista e tecladista Adaury Mendonça, falecido em 2009, o CD “Dois Amigos” conta com mais sete composições do músico, passeando pelos ritmos samba jazz, bossa nova, choro e ijexá. Além das oito músicas gravadas no álbum, o show de lançamento, com entrada gratuita, terá ainda arranjos feitos pelo artista para clássicos como “Carinhoso” (Pixinguinha), “Avião” (Djavan) e “Desafinado” (Tom Jobim e Newton Mendonça).
Desde que iniciou carreira solo, em 2012, esta será a primeira apresentação de Adaury Mothé em sua cidade natal. O palco do Sesc tem grande significado pessoal, pois foi justamente na instituição que ele começou a aprimorar seu talento:
— O Sesc tem uma coisa muito simbólica para mim. Eu morei exclusivamente em Campos até 1999, quando tinha 22 anos, e estudei música na banda do Sesc na década de 1990. Cheguei a tocar saxofone na bandinha de música do Sesc, em 1990, 1991, por aí. Tenho até uns amigos que estudavam na época e vão ao show — explicou Adaury, que também toca escaleta.
A maior influência musical sempre esteve dentro de casa, na figura de quem agora é homenageado em memória:
— Meu pai foi o meu primeiro professor. Quando eu tinha oito anos de idade, ele começou a me ensinar música. Toquei acordeon influenciado por ele, que também me ensinou teclado. Sempre me incentivando, me colocou na aula de piano, depois me levou para a banda de música do Sesc. Na época, o professor de lá era o Roberto Campos, amigo do meu pai, tocava com ele nos bailes. Meu pai fazia muitos bailes na região de Campos, Macaé... Era um músico muito requisitado, tanto no acordeon, tocando choro, quanto no teclado, fazendo MPB. Foi o meu primeiro mestre, a pessoa que me incentivou e apoiou desde sempre.
Ao lado do pai, um no sax e o outro no teclado, Adaury Mothé chegou a tocar em algumas festas em Campos, como casamentos. Porém, não demorou para o filho descobrir sua preferência pelo piano. A ida definitiva para o Rio, em 2001, representou um distanciamento da planície goitacá, apesar de sua mãe e irmã ainda residirem na cidade. Em compensação, marcou o crescimento profissional. Na Cidade Maravilhosa, o músico se formou na Unirio e ampliou os horizontes de sua carreira, iniciada há 26 anos. Uma das boas lembranças da juventude em Campos é a criação do grupo Aryô, existente de 1999 a 2001:
— Esse quinteto foi muito importante, porque ali eu comecei a experimentar as minhas primeiras composições. Durou por uns três anos, até quando me mudei para o Rio. Tinha o baterista Renato Arpoador, o baixista André Rangel, que também estudou na banda do Sesc... Vai ser, realmente, um momento muito especial, poder apresentar composições dessa época e também falar do meu pai, falar do Sesc... Será uma noite marcante, sem dúvida alguma.
Adaury Mothé tinha 32 anos quando recebeu a triste notícia da morte do pai. Uma década depois, espera conseguir fazer com que sua música traga sentimentos mais leves ao público brasileiro, que chora as tragédias de Brumadinho, das chuvas no Rio de Janeiro, das mortes de 10 adolescentes no Centro de Treinamento do Flamengo e da queda de helicóptero que vitimou o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci, ontem, em São Paulo.
— É difícil, porque você vê uma realidade super pesada, terrível, com tantas tragédias. Acho que agora é que a gente (a classe artística) não pode se calar. Temos que ter força para tentar transmitir um pouco de leveza nesse momento. Se a gente se deixar levar pela maré de coisas negativas, acho que só piora. Não é ignorar o que está acontecendo, mas tentar, de alguma maneira, trazer um pouco de alívio. A música e a arte em geral têm essa função de trazerem um pouco de leveza para o mundo, para a vida. Num momento desse, é primordial que a gente continue fazendo (arte).
No show, Adaury Mothé estará acompanhado pelo baixista carioca Berval Moraes e o baterista Vitor Vieira, outro campista residente na capital fluminense. Após a apresentação, haverá venda do CD “Dois Amigos”, produzido pela Sputnik Phonograms. O repertório pode ser ouvido nas plataformas digitais Youtube, Deezer e Spotify.