Campista no Miss Brasil Top Brasilian
Matheus Berriel 04/02/2019 18:28 - Atualizado em 07/02/2019 14:41
A cidade de Campos terá uma representante no Miss Brasil Top Brasilian Juvenil 2019, concurso de beleza feminina que acontecerá no dia 18 de maio, em Porto Seguro, na Bahia. Moradora do Jardim Carioca, a estudante Maria Luíza Pereira Horácio, de 16 anos, foi selecionada para o evento após ter ficado em segundo lugar na categoria juvenil do Musa Verão Jovens Talentos, em Conceição de Macabu, no dia 26 de janeiro. Convidada pelos organizadores, a campista teve sua participação confirmada na última sexta-feira (1º), ao aparecer no Facebook Henrique Mattioli, diretor presidente do concurso.
Luíza Pereira representa em grande estilo a beleza negra. Com 1,74m, a adolescente alimenta há alguns anos o sonho de ser modelo, sempre assistindo alguns desfiles pela televisão. Apesar de ter participado de poucos concursos, costuma ter bom desempenho quando pisa na passarela. Em 2017, foi eleita a Garota Nilo Peçanha, vencendo o concurso escolar no Ciep de mesmo nome. Apesar de não ter sido campeã em Macabu, se destacou por ter ousado no cabelo. Mesmo não estando presente, Henrique Mattioli tomou conhecimento das candidatas e gostou de Luíza.
— Na semana passada, ela chegou em casa falando que o Mattioli tinha curtido uma foto dela no Facebook, contando que ele é um organizador do Miss Brasil (Top Brasilian). Ficou ansiosa. Depois, me falou que a coordenadora do Rio entrou em contato com ela, querendo saber quem era a campista de cabelo verde. Eu não sei quem ficou mais feliz, porque eu estava em choque, a coordenadora numa felicidade danada, o Mattioli apostando todas as fichas nela. É uma coisa que eu via ela assistindo pela televisão, e agora ela vai representar Campos. Choro todo dia. Quando ela desfilar, vou chorar muito também — disse a mãe da candidata, Milaydi Pereira.
Além de modelo, Luíza Pereira também tem o sonho de ser policial militar. Atualmente, ela cursa o terceiro ano do ensino médio e, segundo a mãe, aos domingos, vende salgados pela manhã, buscando ter uma renda própria que já serviu até mesmo para pagar inscrição em desfile:
— Ela começou fazendo passinho, em um evento que tinha aqui na praça. De lá, foi chamada para desfilar. Nos primeiros concursos, foi tomando um gostinho. E ela se vira sozinha. Trabalha na frente de casa aos domingos, vendendo salgado, até o meio-dia, e ela mesma pagou a ida ao concurso. É muito guerreira — afirmou Milaydi.
Após ter confirmado a participação de Luíza no Miss Brasil Top Brasilian, Henrique Mattioli recebeu questionamentos pela internet sobre as tranças verdes de Luíza. Novamente usando o Facebook, fez um texto explicando que, na sua opinião, os apliques capilares ou mega hairs não descaracterizam uma modelo, pois não alteram suas características físicas. Segundo ele, além da beleza, quesitos como desenvoltura e carisma também são levados em conta pela comissão julgadora. No texto, Mattioli levantou a possibilidade de questionamentos racistas: “quero ver se lançarmos uma loira de olhos azuis, usando um aplique ou até um mega hair, se haveria questionamento”, escreveu, fazendo uma reflexão em defesa das mulheres negras que fogem dos padrões de beleza:
— Essas mulheres, que passo a passo buscam a politização e o fortalecimento da percepção de si, levam suas características faciais e corporais a um patamar transformador que repercute em todas as esferas sociais. É a resistência e o empoderamento dessas mulheres que criam caminhos por onde a desintegração do racismo pode trilhar e acontecer. Com essa importante reflexão, é possível virar a mesa e jogar com as palavras originalmente usadas para oprimir. Ao invés de reproduzir a ideia dos “traços finos” desejáveis, deve entrar em cena a exaltação dos “traços em negrito“: fortes, escuros e evidentes. A beleza da negritude, afinal, pode e deve existir em muitos tons, tamanhos e pluralidade — disse.
No que depender de Luíza, as tranças verdes continuarão em destaque: “Eu já coloquei minhas tranças duas vezes, só que sempre colocava pretas. Do nada, veio na minha cabeça que ia colocar verdes, e coloquei para o concurso em Conceição de Macabu. Isso partiu de mim. Eu gosto e, se não for me prejudicar na carreira que vou seguir, vou continuar fazendo. Até porque, tudo se renova. O tempo muda, as coisas vão evoluindo”.
Até o momento do desfile, o mais difícil será controlar a ansiedade. “Eu estou muito ansiosa. Não sei nem explicar, acho que minha ficha nem caiu ainda. Às vezes, fico muito feliz, mas parece que é tipo um sonho, que vou acordar e tudo vai acabar”, falou Luíza. Antes do desfile oficial, ela participará de treinamentos nos dias 16 e 17 de maio, já em Porto Seguro. Independente do resultado no concurso, um pensamento é constante: “Temos que lutar pelos nossos sonhos, porque a gente sempre é capaz de conseguir, tendo perseverança e fé”.

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