Aluysio Abreu Barbosa e Aldir Sales
26/01/2019 17:12 - Atualizado em 29/01/2019 16:10
Depois de 30 anos dedicados à vida pública, o deputado federal Paulo Feijó (PR) anunciou que vai se aposentar da política na próxima quinta-feira (31), quando termina o seu quarto mandato eleito como deputado federal. Experiente, o parlamentar natural de Santa Maria Madalena ficou conhecido pelas emendas parlamentares encaminhadas aos municípios da região. Feijó também analisou o cenário político em Campos, no Estado e do país. Para ele, o governo Rafael Diniz ainda não deslanchou. Apontou a crise do petróleo como culpada e afirmou que os dois últimos anos são para colher os frutos da austeridade praticada. O deputado também falou que não carrega trauma por não ter conseguido ir ao segundo turno na polêmica eleição de 2004, quando chegou a liderar nas pesquisas e se diz aliviado.
Folha da Manhã – Desde que foi eleito vereador de Campos pela primeira vez, em 1988, foram dois mandatos na Câmara Municipal e cinco na Câmara Federal. Nestes 30 anos de vida parlamentar qual foi seu melhor momento?
Paulo Feijó – Foram 30 anos de dedicação integral à vida pública. Trabalhei muito durante todos esses anos, com folha vastíssima de serviços prestados a toda região. Nesse período, vivi muito os dois extremos, com incontáveis momentos de felicidade, como também de sofrimento. Na memória, levo para sempre o reconhecimento, o carinho e o respeito das pessoas comigo.
Folha – É correto afirmar que seu pior momento foi a condenação a 12 anos e seis meses de prisão, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso conhecido como Máfia das Sanguessugas? O que pode falar sobre o caso?
Feijó – Com certeza absoluta foi o pior momento de toda minha trajetória política. Nunca imaginaria que a política fosse me propiciar um sofrimento tão grande. Fui vítima de uma quadrilha que acompanhava as emendas dos parlamentares, praticamente todos foram absolvidos, pois foram julgados em 1ª instância. Eu, por ser deputado, por ter foro privilegiado, fui julgado em uma única vez pela 1ª turma do STF, o que me prejudicou muito, pois a decisão veio num momento de muita turbulência, com uma verdadeira caça às bruxas. Sendo assim, fui vítima de uma sentença muito desproporcional ao suposto fato gerador. Agora continuo na luta com meus advogados, clamando por uma decisão justa, na certeza que Deus, que sabe de todas as coisas, nunca vai me abandonar.
Folha – Muitos afirmam que, depois da morte de Alair Ferreira em 1987, você foi o deputado federal que mais trouxe verbas da União para Campos e região. Concorda? Por quê?
Feijó – Concordo com muita convicção, nunca querendo me comparar ou ser melhor do que ninguém. Os resultados estão aí, para todo mundo ver, assegurando para aqueles que conhecem todas as nossas realizações em Campos e na região que existe quase uma unanimidade em relação a esse reconhecimento. E creio que isso aconteça porque sempre priorizei Campos e região.
Folha – Você recentemente listou as emendas que conseguiu trazer para Campos no governo Rafael Diniz (PPS). São mais de R$ 47,6 milhões: R$ 26,4 milhões em 2017, R$ 6,2 milhões em 2018 e R$ 15 milhões, em 2019. Mas nem os R$ 10,5 milhões para o Hemocentro, referentes a 2017, foram ainda aplicados. Em entrevista à Folha, o prefeito disse que o processo está nas últimas etapas. Em sua visão, qual o motivo da demora?
Feijó – Primeiro agradeço ao prefeito Rafael por me oferecer essa oportunidade de parceria, visando sempre o bem comum, o melhor para o nosso município. Eu também cobro do prefeito agilidade na tramitação dessas emendas, mas entendo que o processo burocrático é muito lento, com prazos a cumprir, muita responsabilidade e fiscalização. Tudo que você listou na pergunta tenho certeza absoluta que vai acontecer, mas é lógico, vamos continuar na cobrança junto ao prefeito e a toda a sua equipe, pois Campos precisa muito da materialização de todos esses recursos.
Folha – Passado a metade do governo Rafael, que avaliação faz dele?
Feijó – Em relação à pessoa do prefeito, à sua ótima índole, à sua família de muita tradição, avalio da melhor maneira possível. Em relação aos resultados, vejo que estão abaixo do esperado pela população, fato que é fruto de uma crise financeira profunda vivida pelo país, estados e municípios. E nela Campos se destaca com um forte agravante: a perda significativa dos recursos dos royalties do petróleo, nossa principal fonte de arrecadação. Para se adequar a essa realidade financeira, o prefeito aplicou medidas impopulares e desgastantes, mas necessárias, e agora chegou a hora de aparecer os resultados. Procurei contribuir com meu trabalho e torço muito para que o prefeito supere esses obstáculos e os façam traduzir em ótimos resultados para o nosso município. A população espera isso.
Folha – Não há pesquisas de opinião divulgadas para dar critério estatístico, mas a impressão é de que Rafael perdeu parte da popularidade que o elegeu em 2016 no primeiro turno, em todas as zonas eleitorais do município. À Folha, ele confirmou a candidatura à reeleição em 2020. Para isso, a recuperação em 2019 é considerada fundamental. Como você enxerga?
Feijó – Se a eleição fosse agora, acho que o prefeito não se reelegeria. Mas espero que muita coisa aconteça em Campos a partir deste ano de 2019. Com os resultados aparecendo, consequentemente, o reconhecimento da população virá junto, de maneira espontânea. Sendo assim, o prefeito ficará competitivo eleitoralmente.
Folha – Em fevereiro é esperada a entrada do vereador Marcão Gomes (PR) no governo municipal. Tudo indica que será na secretaria de Desenvolvimento Social. Que contribuição ele poderia dar ao governo Rafael?
Feijó – Vai contribuir muito para que os resultados esperados apareçam. Marcão é muito preparado, é de trabalho, de confiança e faz uma ótima parceria com o prefeito Rafael.
Folha – Você apoiou Marcão em 2018 a deputado federal. Ele não se elegeu, mas fez mais votos que Wladimir Garotinho (PRP, de saída ao PSC), que conquistou o mandato. Faltou algo a Marcão, ou ele foi vítima do fenômeno Bolsonaro, que fez o PSL eleger 12 deputados federais só no Estado do Rio?
Feijó – Realmente o fator Bolsonaro atrapalhou todos os partidos. O nosso Partido da República (PR) deixou de eleger três deputados por falta de somente 2,3 mil votos de legenda. Marcão seria o 3º deputado eleito pelo PR. Lamento que nem todo o grupo político do prefeito tenha fechado com Marcão, infelizmente apoiaram candidatos de fora. Perdemos a eleição por esses motivos.
Folha – Eleito deputado federal, Wladimir é considerado como candidato certo a prefeito de Campos em 2020. Acha que ele conseguirá vencer a imensa rejeição que seu pai, o ex-governador Anthony Garotinho (PRP), ainda tem em Campos?
Feijó – Wladimir entra na Câmara Federal com muita motivação. Vai querer apresentar resultados, vai trabalhar muito, principalmente para vencer as dificuldades que advirão. Exercer mandato de deputado federal apresentando resultados está cada vez mais difícil. Torço para que faça um bom mandato, será bom para Campos e toda região. Sua competitividade eleitoral advirá a partir daí. Vamos aguardar.
Folha – Com a rejeição aos Garotinho e a perda de popularidade de Rafael, a eleição a prefeito de Campos em 2020 abre a possibilidade para uma terceira via? Nomes como o dos deputados estaduais Gil Vianna (PSL) e Rodrigo Bacellar (SD), do empresário Joílson Barcelos e do reitor do IFF, Jefferson Manhães de Azevedo, são ventilados. Depois de fenômenos como Wilson Witzel (PSC) e Romeu Zema (Novo), tudo é possível?
Feijó – Baseado nos resultados da última eleição, em 2018, em todos os níveis, a palavra-chave é imprevisibilidade. Temos que aguardar!
Folha – Você já foi a terceira via que quase chegou ao segundo turno a prefeito de Campos na eleição de 2004, que liderou nas intenções de voto em boa parte da campanha. Mas acabou ultrapassado na reta final por dois candidatos, Geraldo Pudim e Carlos Alberto Campista, depois condenados pela Justiça Eleitoral. Pensa no que teria mudado na sua história e da cidade se tivesse sido eleito?
Feijó – Não carrego trauma, nem frustração em relação à eleição de prefeito em 2004. Pelo contrário, sinto até um grande alívio. Mas de fato eu era o grande favorito para vencer a eleição. Em todas as pesquisas meu nome era apontado em primeiro lugar. Resumindo: o resultado foi distorcido, mascarado pelo abuso de poder econômico que prevaleceu naquela eleição, pois tinha uma candidatura que era bancada pelo governo municipal, e a outra candidatura bancada pelo governo estadual. E naquela época não existia um Judiciário implacável, um Ministério Público forte, um Polícia Federal atuante, não existiam redes sociais. Perdemos por aí.
Folha – Qual sua expectativa para os governos Jair Bolsonaro e Wilson Witzel? Já deu para ter alguma impressão após os primeiros 20 dias dos novos governos do Brasil e do Estado do Rio?
Feijó – O presidente Bolsonaro foi muito feliz na montagem do seu governo, com nomes de muita credibilidade, preparo e experiência. Tem tudo para dar certo. Vamos torcer pelo Brasil. Em relação ao Governo do Estado, não tenho como avaliar, mas torço muito também para que dê certo.
Folha – Deputado federal de cinco mandatos, você conhece como poucos os caminhos do Congresso Nacional. Não é segredo que o primeiro teste de fogo do governo Bolsonaro será a Reforma da Previdência. Acha que ela conseguirá vencer os interesses corporativos do país? Concorda que é questão de aritmética ao Brasil, não de desejo? Como explicar isso à população?
Feijó – A grande prioridade do governo, com certeza, é aprovar a Reforma da Previdência, e de maneira muito profunda. Será o grande teste. Acredito na boa articulação política do Planalto, como também na responsabilidade dos congressistas. O governo não pode errar. O Brasil precisa muito dessa reforma para sanear financeiramente as contas públicas e adquirir a confiança interna e externa, no mundo lá fora, para retomar o desenvolvimento e a política de geração de empregos.
Folha – Tudo indica que, com o apoio de Bolsonaro e até do PT, Rodrigo Maia (DEM) será reeleito presidente da Câmara Federal. E que Renan Calheiros (MDB) pode ser ajudado na sua pretensão de voltar a presidir o Senado, a partir de um acordo por baixo dos panos para tentar proteger Flávio Bolsonaro (PSL), suspeito da prática da “rachadinha” e envolvido com as milícias. Como vê essas duas eleições?
Feijó – Vejo com mais solidez a eleição do deputado Rodrigo Maia na presidência da Câmara, ele está muito bem articulado, com o apoio de vários partidos de representação significativa. No Senado, vejo o senador Renan Calheiros muito desgastado, representando a velha política. Acredito que possa acontecer uma surpresa do Senado.
Folha – Sobretudo pela esquerda ainda ressentida pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pela vitória expressiva de Bolsonaro, você é acusado de ter votado não só pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), como pela flexibilização das leis trabalhistas aprovadas pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). Como responde a isso?
Feijó – Votei as duas proposições, impeachment e Reforma Trabalhista, com muita convicção naquela época. Entendia que o voto “sim” era o melhor para o Brasil. Hoje, os brasileiros veem com muito mais clareza o acerto dos meus votos.
Folha – Seu primeiro mandato eletivo, como vereador de Campos, foi conquistado no mesmo ano em que a Constituição Cidadã foi promulgada pelo ex-deputado federal Ulysses Guimarães. Você é um político da Nova República, que muitos entendem ter chegado ao fim com a eleição de Bolsonaro a presidente. A Constituição é o maior legado da sua geração ao país?
Feijó – A Constituição é, sem dúvidas, o maior legado das três últimas décadas, mas é bom lembrar que muitos outros avanços aconteceram através do Congresso Nacional, como a quebra do monopólio das comunicações do país, a quebra do monopólio de produção e exploração do petróleo do Brasil, a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, dentre muitas outras conquistas ao longo desses 30 anos.
Folha – Enquanto deputado, você passou pelos governos federais de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula, Dilma e Temer. Que avaliação faz de cada um? Quais foram suas maiores conquistas e erros?
Feijó – Avalio positivamente os dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso, onde foram aprovadas reformas estruturantes, como já relatei anteriormente. O primeiro mandato do presidente Lula avalio como muito positivo, principalmente com os avanços na área social. Já no segundo mandato, o presidente Lula achou que podia tudo e começou a se perder. Os governos da presidente Dilma foram verdadeiros fracassos para o Brasil, lamentáveis. Já nos praticamente dois anos do governo Temer, embora muito desgastado e impopular, reconheço que houve avanços na estabilidade do país, principalmente nos resultados econômicos.
Folha – Cronologicamente, sua vida pública foi também construída junto com Garotinho. Você já foi seu principal opositor, depois aliado. E conseguiu ser talvez o único a dele se afastar sem ser atacado. Que avaliação faz do ex-governador? Depois das suas três prisões, ele está morto politicamente ou pode conseguir uma sobrevida com a tentativa de se aproximar de Witzel?
Feijó – O ex-governador Garotinho é um político de muito preparo e muita força de trabalho, tem muitos serviços prestados em todo o Estado do Rio de Janeiro. Até porque em todas as oportunidades eleitorais que pleiteou, os eleitores corresponderam. Carrega hoje um grande desgaste, natural dos seus mais de 30 anos de vida pública, e também em função dos vários erros cometidos ao longo de sua carreira. Na minha humilde avaliação, um dos maiores erros foi a inversão de valores com as pessoas que fizeram parte do seu grupo político, prestigiou muito a quem não poderia nunca prestigiar e pouco aos que deveria confiar. Voto ele tem, o complicador são os problemas judiciais que enfrenta.
Folha – Em sua aposentadoria política, você não esconde que a vida pública mudou muito no país. A própria eleição de Bolsonaro foi construída em cima da tentativa de erradicar a chamada “velha política”. Guru da nova direita, o filósofo (e ex-astrólogo) Olavo de Carvalho já disse: “cuidado com mudanças, pois de uma árvore você faz uma cadeira, mas não pode fazer uma cadeira voltar a ser árvore”. Como vê o que foi e o que agora se anuncia como novo?
Feijó – Tenho muita preocupação em relação a essa nova realidade. Sou a favor da renovação política, mas com segurança. A nova política está trazendo, em todos os níveis, representantes sem experiência pública e sem o mínimo espírito público, isso pode se transformar em novas e piores aventuras. O eleitor reclama, mas na hora de votar consegue votar pior. Analise só a queda de qualidade, a cada eleição, nos mais diversos níveis da política brasileira. Tenho muita preocupação com essa questão.
Folha – Qual é o legado do homem público Paulo Feijó? Olhando para trás, faria algo diferente?
Feijó – Certeza do dever cumprido, convicção de que pratiquei a boa política, com dedicação, honestidade, carinho, respeito e atenção com todas as pessoas. E, principalmente, com excelentes resultados conquistados para Campos e toda região Norte e Noroeste do Estado. Só tenho a agradecer a minha família e a todos que me ajudaram ao longo de todos esses anos.