Guilherme Belido escreve - "Mito" sem oposição
06/01/2019 09:46 - Atualizado em 10/01/2019 14:54
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Ainda é muito cedo para se tire conclusões sobre isso ou aquilo, no que diz respeito ao governo Bolsonaro. E não poderia ser diferente. Afinal, não faz nem uma semana que assumiu o cargo.
Por outro lado, independente do maior ou menor acerto da equipe governamental – a despeito de qualquer coisa – o Brasil tende a se ressentir da falta de uma oposição consistente e responsável, condição sine qua non para que as ações administrativas e as políticas públicas incrementadas tenham maior chance de dar certo.
Logo, ao contrário do que pode parecer num primeiro exame de olhar míope, oposição interessa a todos, inclusive ao próprio governo. Não há contradição. Uma oposição que tenha em mente os interesses do País, ainda que incômoda, ajuda com sugestões, com críticas construtivas e na fiscalização para que as ações governamentais tenham êxito.
Contudo, pergunta-se: quem hoje representa a oposição no Brasil? O questionamento não pressupõe resposta simplista, de pontuar partidos sem maior expressão, e que estão lá na oposição por estar. Oposição partidária sempre teremos. Mas não é disso que se trata.
Cuida-se de indagar quais lideranças de peso, que costumeiramente se revezaram na oposição, estão capacitadas para exercê-las no momento. Salvo melhor entendimento, nenhuma.
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O PSDB, partido que mais se contrapôs aos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, está desfacelado. De um lado, desmoralizado; de outro, desprestigiado ou distante.
O ex-senador Aécio Neves, nome talhado no cenário tucano para ser presidente da República e que disputou a penúltima eleição com Dilma, recolheu-se, agarrando-se ao mandato de deputado federal para manter o foro privilegiado e tentar se esquivar das gravíssimas denúncias das quais foi acusado.
A bem da verdade, a partir da divulgação daquele áudio em que pedia dinheiro a Joesley Batista – da forma como se deu e com as observações que fez – o que cabe a Aécio é ‘ficar na sua’ e tangenciar o quanto puder para não ser preso. Logo, não tem mais fichas para fazer oposição nem a vereador do interior de Minas.
O ex- governador Geraldo Alckmin, outra figura de destaque no PSDB, saiu da disputa presidencial de mãos vazias, com menos de 5% dos votos, perdendo, inclusive, em São Paulo. Nem em seus piores pesadelos fez cálculos de ter 5 milhões de votos no 1º turno, enquanto o segundo colocado somou mais de 31 milhões. Ou seja: sem mandato, Alckmin não tem respaldo eleitoral para falar nada.
Os outros nomes tucanos, José Serra e Fernando Henrique, também estão recolhidos. Serra, por estar sendo investigado; FHC, em virtude de não ser do seu estilo estabelecer oposição gratuita. Portanto, no ninho tucano, não sobra quase ninguém.
Deixando de lado o MDB, que além de não gostar de oposição (gosta mesmo é de vender apoio), está todo enrolado com o chamado ‘quadrilhão’, – bem como Ciro Gomes que ainda não deixou claro em que direção irá caminhar – restaria ao PT cumprir a tarefa, como fizera nos governos Collor e Fernando Henrique. Então, só uma perguntinha: como?
Lula da Silva, a maior liderança petista, está condenado, preso e tem novas denúncias a enfrentar. Com o nome do partido jogado na lama nos últimos anos, de onde vai tirar força política para se opor ao governo Bolsonaro?
Neste ponto cabe ressalvar que, evidente, o PT vai fazer oposição. Mas qual oposição? O contraponto que Brasil precisa, exige credibilidade, respeito e respaldo. O PT não tem nada disso.
Não se fala da oposição odiosa, bem característica das redes sociais. Fala-se, sim, da oposição sensata e responsável, que tenha respeito no Congresso e junto à sociedade, para fiscalizar com eficiência o governo. Oposição, ainda, com força para que seus questionamentos sejam ouvidos e levados em conta. Convenhamos, o PT passa longe disso.
Logo, estamos a falar de um governo que pela primeira vez na história recente assume o Palácio do Planalto sem vozes contrárias ou estaturas suficientes para serem ouvidas. Isso não é nada bom.
Então, por enquanto, temos um ‘mito’ na cadeira presidencial, que terá que fazer força e manter os pés no chão para que essa bobagem de mito não lhe suba a cabeça.
Convém, também, que pare de dar declarações do tipo “PT quebrou o Brasil de tanto roubar” – afinal, a campanha já passou – e ‘segure’ Paulo Guedes, a quem tanta corda deu, para que o super-hiper-mega ministro não acabe com déficit público e leve junto o Brasil.

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