Camilla Silva
30/01/2019 21:38 - Atualizado em 31/01/2019 21:02
A tragédia provocada pelo rompimento de uma barragem da mineradora Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, trouxe um alerta sobre a situação de construções deste tipo no Rio de Janeiro. O Estado apareceu em dois relatórios de órgãos de fiscalização que apontam alto risco de acidentes. A Agência Nacional de Águas apontou, em novembro do ano passado, irregularidades nas barragens de Juturnaíba, em Araruama, e Gericinó, em Nilópolis. Os dados considerados são de 2017. Em matéria publicada pelo jornal O Dia na última quarta-feira e não negadas pelos órgãos competentes, outras três unidades foram indicadas: Saracuruna, em Duque de Caxias; Triunfo, em Teresópolis e Lago Javary, em Miguel Pereira. Maior risco para o rio Paraíba do Sul, no entanto, está em barragens de rejeitos de minério em afluentes.
O presidente do Comitê do Baixo Paraíba, que acompanha a bacia hidrográfica da região, João Siqueira aponta que apenas a barragem de Teresópolis causaria efeitos no rio Paraíba do Sul.
— Além deles, barragens que ficam em afluentes, como rio Pomba e Muriaé, precisam ser acompanhadas, porque trariam reflexos para a região — explica.
Incidentes com reflexos ambientais já causaram estragos, lembra o biólogo e ambientalista Aristides Soffiati. “Em Minas, três já romperam e chegaram ao rio Paraíba. Se houver rompimento em uma barragens de água, poderia alagar uma cidade e causa muitos danos. No entanto, não haveria risco de contaminação”, explica.
Nessa quarta-feira, a Folha entrou em contato com a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA-RJ) sobre as barragens que foram indicadas nos relatórios, mas nenhum posicionamento foi enviado até o fechamento desta edição. Na última segunda, os órgãos informaram que um grupo multidisciplinar de estudos foi formado, composto por técnicos e especialistas próprios e do Departamento de Recursos Minerais (DRM). Uma atualização do diagnóstico da situação das barragens do Estado e de critérios para regulamentar os licenciamentos estariam no planejamento. “Em território fluminense, há 29 barramentos de água contabilizados”, informaram.
A fiscalização é fundamental para evitar novos incidentes, afirma o especialista.
— Quando houve o acidente de Mariana, isso veio à tona também. De lá para cá nada foi feito. A situação só piorou. Eu nunca questionei ‘se acontecer outro rompimento como em Mariana’, eu perguntei ‘quando?’. Os especialistas no assunto sabiam que iria acontecer em algum lugar. Há riscos novos por aí. São como bombas atiradas em uma guerra que não explodiram, mas que podem explodir a qualquer momento — alerta Soffiati.