"Alvorada do amor" no Cineclube Goitacá
Matheus Berriel 29/01/2019 18:43 - Atualizado em 31/01/2019 16:02
O professor e crítico de cinema Aristides Arthur Soffiati apresenta, nesta quarta-feira (29), no Cineclube Goitacá, a comédia musical “Alvorada do amor” (“The Love Parade”, 1929), dirigida pelo alemão Ernst Lubitsch. Este foi o primeiro musical do cinema, reforçando a transição do gênero do teatro para as telonas, recém-iniciada com o advento do som. A sessão está marcada para as 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, localizado na esquina das ruas Conselheiro Otaviano e Treze de Maio, no Centro de Campos. Entrada gratuita.
Na opinião de Aristides Soffiati, o cinema falado colaborou para que Ernst Lubitsch desenvolvesse todo o seu potencial como diretor. Em novembro próximo, “Alvorada do amor” completará 90 anos de lançamento:
— O Ernst Lubitsch foi um alemão muito talentoso, mas que, na Alemanha, não tinha recursos suficientes para fazer tudo o que queria. Quando foi convidado para trabalhar nos Estados Unidos, encontrou o que precisava, os recursos financeiros, que eram fundamentais. Talento ele tinha. Escolhi o filme por causa do gênero, a gente está seguindo um roteiro de gêneros. Já apresentei drama, comédia, terror, ficção científica, agora é o musical. E essa é uma espécie de comédia cantada, que já existia enquanto musical da Broadway, mas não se podia pular do teatro para o cinema sem haver esse recurso do som, do cinema falado. Essa foi a primeira experiência de musical, uma experiência muito interessante. E o Ernst Lubitsch revela todo o talento no cinema. Já vinha revelando no cinema mudo. Quando vem o cinema falado, ele vai muito além — afirmou Soffiati.
No musical, é possível perceber a ligação de Ernst Lubitsch com a Europa. Mesmo trabalhando nos Estados Unidos, o Velho Continente continuou presente em sua obra.
— O Lubitsch era um diretor dividido, com intenções internas muito marcantes. Neste filme, ele está nos Estados Unidos, mas nunca esquece a Europa. Para ele, Paris é o centro do mundo. E a Europa Oriental foi o local com o qual ele se identificou, até com um aspecto de saudade do tempo em que morava na Alemanha, da ligação dele com o Império Austro-Húngaro, antes da Primeira Guerra Mundial — pontuou o apresentador da noite.
Na história, o cantor Maurice Chevalier interpreta Conde Alfred, um representante da nobreza em Paris. Por conta de envolvimentos em escândalos, o diplomata é chamado de volta à sua terra, a Sylvania, onde se apaixona pela Rainha Louise, personagem da cantora Jeanette MacDonald, então uma estreante no cinema. A relação dos dois resulta no casamento.
— Ao mesmo tempo em que o diretor parece exaltar a nobreza, ele também ridiculariza essa aristocracia. É algo parecido com “A Megera Domada” (comédia de William Shakespeare). O marido, que é nobre, acaba domesticando a mulher. Mas, isso também pode ser visto de outra forma, com a mulher sendo uma presa enquanto rainha. Ela não podia se libertar daquilo, mas ele aparece como um libertador, livra a mulher daquilo e passa a liderar — analisou Soffiati.
Numa época em que a nudez não era permitida nos filmes, Ernst Lubitsch soube criar um clima de erotismo sem cenas vulgares, apenas com insinuações do nu. O voyeurismo foi uma das características adotadas na forma de direção do musical. Para marcar a diferença de classes, até os animais se dividem em nobres e plebeus.

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