"Guilherme de Brito" e "Fala Mangueira" no Cineclube
Matheus Berriel 22/01/2019 18:58 - Atualizado em 25/01/2019 19:10
Tire o seu sorriso do caminho que o samba vai passar com a sua dor. Um dos filmes apresentados pelo pesquisador Marcelo Sampaio, na noite desta quarta-feira (23), no Cineclube Goitacá, será o curta-metragem “Guilherme de Brito“ (2008), sobre um dos compositores de “A Flor e O Espinho”, apesar de esquecido por muitos quando a música é mencionada. A outra escolha foi por “Fala Mangueira” (1981), documentário sobre a Estação Primeira e o morro da Mangueira no início dos anos 1980, escancarando os problemas e as glórias do subúrbio carioca. A sessão dupla está marcada para as 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, localizado à esquina das ruas Conselheiro Otaviano e 13 de Maio, no Centro de Campos. Entrada franca.
Dirigido por André Sampaio, “Guilherme de Brito” faz, em 20 minutos, uma viagem pela vida do grande parceiro de Nelson Cavaquinho (in memorian). Nascido em 3 de janeiro de 1922, Guilherme foi compositor e artista plástico. Morreu no em 26 de abril de 2006, por falência múltipla dos órgãos, após ter sofrido com problemas respiratórios e um infarto.
— Eu tive o privilégio de conhecer o Guilherme de Brito pessoalmente, tive uma relação muito bacana com ele. O curta tenta reparar uma injustiça cometida, quando ele não é citado como parceiro na composição de músicas que estão entre as mais bonitas da MPB, como, por exemplo, “A Flor e o Espinho”. Ele compôs sozinho a primeira parte, inclusive o antológico verso “tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor”, depois entregou, e Nelson Cavaquinho fez a segunda parte, mas a gente só se refere à música como composição de Nelson. E o Guilherme tem músicas sozinho e também com outros parceiros.. É claro que o Nelson Cavaquinho deu a ele uma projeção, tendo ficado mais conhecido em função do Nelson — afirmou Marcelo Sampaio.
“Fala Mangueira!”, por sua vez, teve direção de Frederico Confalonieri. As cenas gravadas exclusivamente para o filme mostram a preparação da escola de samba para os carnavais de 1981 e 1982, incluindo entrevistas feitas com moradores locais. Há ainda imagens de arquivo sobre a realidade local do morro desde a sua fundação. A duração é de 51 minutos. O ator e comediante Grande Otelo (in memorian) foi o responsável pela narração do média-metragem.
— É muito interessante, porque ele tem um texto muito inteligente, ousado e crítico. É, talvez, um dos documentários mais críticos que já assisti na minha vida. Conta com imagens muito cruas, extremamente reais e realistas. Um documentário daqueles que você assiste e sai para comer, fazer alguma coisa, mas vai ficar refletindo sobre o que você assistiu, porque ele toca nas feridas da miséria, do despreparo dos moradores do morro.. Mas, também mostra coisas interessantíssimas, como quando Sérgio Cabral pai, um grande pesquisador, fala da Mangueira como um lugar de criação de arte — contou Marcelo.
Uma das características da Mangueira é a união de seu povo. O documentário relata isso ao lembrar que, em 1974, foi justamente esta união que impediu o fim do morro, numa época em que o governo municipal realizava um processo de remoção das favelas cariocas, especialmente as localizadas nas proximidades do Centro.
— Isso mostra a Mangueira como um espaço de resistência. E a escola de samba mantém isso em seus desfiles, porque ela não é uma escola que se entregou tanto ao luxo. Tem uma declaração de Neuma da Mangueira, Tia Neuma, a quem também tive o privilégio de conhecer pessoalmente e fui muito amigo, em que ela dá uma aula sem ter formação acadêmica para isso. Diz que escola de samba é, antes e acima de tudo, samba no pé. Esse negócio de alegorias luxuosas é coisa para as grandes sociedades, existentes antes das escolas. Ao dizer isso, ela está lutando por uma coisa que eu digo até hoje: que se o Carnaval deixar de ser popular, vai deixar de ser Carnaval e virar outra coisa — completou o apresentador.
Marcelo Sampaio adiantou que, após a exibição dos filmes, entrará em contato com Reizilan Cartola Neto, para que este, neto do ícone mangueirense Cartola (in memorian), contribua no tradicional debate do Cineclube Goitacá por meio do viva-voz do celular.

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