Histórias de fé e devoção unem gerações na Festa de Santo Amaro, celebrada nesta terça-feira (15) pela 286ª vez no distrito homônimo, em Campos. A Prefeitura disponibilizou estrutura para os festejos do padroeiro da Baixada Campista. Além da tradicional Cavalhada, a programação também inclui alvorada, missas, procissão e show da banda Pequeninos do Senhor, selecionada por meio de edital, através da superintendência de Entretenimento e Lazer. De acordo com a comissão organizadora, milhares de pessoas são esperadas para o evento.

A programação religiosa começou no último dia 6, com missas sempre às 19h30, completando nessa segunda-feira (14) o novenário. Após o levantamento do mastro, houve queima de fogos. Para terça, várias missas foram marcadas: às 3h, 5h, 7h, 9h, 11h — esta com celebração do Bispo Dom Roberto Francisco Ferrería Paz —, 13h e 17h. Às 5h, aconteceu alvorada. O desfile das bandeiras está marcado para as 13h, seguido pela Cavalhada, às 15h, a procissão, às 18h, e show dos Pequeninos do Senhor, às 21h.

Segundo o bispo da Diocese de Campos, a primeira edição da Cavalhada, uma tradição equestre, aconteceu em 7 de outubro de 1730, no solar da Fazenda do Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro, o popular Solar do Colégio, onde hoje funciona o Arquivo Público Municipal. Esta tradição vem sendo celebrada ininterruptamente, sempre no dia 15 de janeiro, precedida pelo Caminho de Santo Amaro, uma romaria de 39 quilômetros, da Catedral do Santíssimo Salvador, no Centro de Campos, até a Capela de Santo Amaro.

— A Cavalhada está inserida profundamente no coração da festa e no espírito de Paz e reconciliação do cristianismo, legado da mística beneditina. A cavalhada acontece à tarde, pelas 15h, e encena o drama na luta dos cristãos e dos mouros, mas a trama termina na carreira do abraço, salientando a confraternização dos cavalheiros no que o Papa Francisco chama de Cultura do Encontro. Nestes tempos de intolerância e fundamentalismos religiosos inspirados na obra de Samuel Huntigton, “O choque de civilizações”, que visa a Recomposição imperialista da Ordem Mundial, a Cavalhada de Santo Amaro propõe o diálogo das culturas, tradições religiosas e das nações na mesa comum da cordialidade e da partilha. Por todas estas razões e valores religiosos, espirituais e culturais, podemos concluir que esta Cavalhada constitui um patrimônio histórico e civilizatório profundamente humano e cristão — disse Dom Roberto Francisco.

Aos 90 anos, a fiel Maria da Conceição Ramos conta a sua história de devoção ao Padroeiro da Baixada Campista. Nascida em Pindobas, no município de Quissamã, ela chegou a Santo Amaro depois do casamento e, durante 50 anos, foi uma das responsáveis pela confecção das roupas e dos adereços da Cavalhada:

— Recordo muitas histórias de minha juventude. Meu pai cuidava de uma capelinha de Santo Amaro em Pindobas, e foi nessa capela que fui batizada e fiz minha primeira comunhão. Me casei e vim morar em Santo Amaro. E, hoje, minha vida está muito ligada ao meu querido Santo Amaro. Foram anos de lutas para criar meus filhos, mas sou muito feliz — contou.

Apesar de o Caminho de Santo Amaro ser tradicionalmente percorrido de 23h do dia 14 até as 5h do dia 15, alguns romeiros fizeram nessa segunda-feira a romaria. O campista Marcelo Viana, de 56 anos, levou cerca de oito horas para completar o trajeto, iniciado por volta das 4h. “Percorro o caminho há sete anos e já estou acostumado, embora o cansaço seja sempre muito grande. Agora é chegar, orar e agradecer por todas as bênçãos da minha vida”, afirmou Marcelo.

A Prefeitura oferece suporte aos romeiros em alguns pontos da caminhada, com água, fruta, banheiro e atendimento de saúde. “O Caminho de Santo Amaro é uma das maiores tradições de Campos, e a recomendação do prefeito Rafael Diniz é de que os romeiros tenham todo o suporte necessário, e que esta tradição religiosa seja fomentada no calendário turístico”, frisou o diretor do Departamento de Turismo, Hans Muylaert.

São João da Barra — Também há programação pela Festa de Santo Amaro na praia do Açu, com missa às 19h, seguida por procissão. Em Grussaí, o dia começa com alvorada, às 5h. Serão celebradas missas às 10h e 19h. Após a missa da manhã, realização de batizados, às 11h. Uma procissão está marcada para as 20h.