Verônica Nascimento e Virna Alencar
11/12/2018 06:04 - Atualizado em 13/12/2018 15:17
Treze pessoas foram presas na operação Quebrando a Banca, deflagrada nesta terça-feira, por volta de 4h, contra integrantes da máfia do celular que atua em Campos. As polícias Civil e Militar e o Ministério Público Estadual (MP), com auxílio da Polícia Rodoviária Federal, cumpriram 88 mandados de busca e apreensão. Outras 14 pessoas são consideradas foragidas. Durante a ação, que terminou no início da tarde, 700 aparelhos eletrônicos, além de cheques com valores variados, também foram apreendidos. Pelo menos 150 agentes e 30 viaturas atuaram na operação, que aconteceu em vários pontos do município, como no Shopping Popular Michel Haddad, que não abriu pela manhã, em São Francisco de Itabapoana e Itaperuna. Foram mais de seis meses de investigação, inclusive por meio de escutas telefônicas.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que até outubro deste ano o número de roubo de celular na área do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM) – que compreende os municípios de Campos, São Fidélis, SFI e São João da Barra (SJB) – é superior aos dos últimos três anos chegando a 418 casos contra 259 (2017), 219 (2016) e 117 (2015). Os dados oficiais revelam o aumento na modalidade criminosa, mas a sensação de insegurança é ainda maior considerando as subnotificações.
Segundo a polícia, o nome da operação foi escolhido como um trocadilho, tanto porque os envolvidos se gabavam de seus feitos, ostentando seus ganhos e achando que não seriam pegos, como porque a operação visa quebrar a reunião de núcleos independentes, cada um com seu papel, mas que estão ligados no esquema criminoso.
— É uma operação de repressão a roubos de celulares, em que a gente busca atacar toda a cadeia, desde o momento em que o roubo acontece na rua, passando pelas pessoas que são responsáveis por desbloquear esses celulares, fazer a alteração de IMEIs (Identificação Internacional de Equipamento Móvel) e recolocar esses telefones no mercado, através da atuação do terceiro grupo, que é responsável pela comercialização. Foram pelo menos seis meses de investigação para conseguirmos delinear esse tecido organizacional e identificar essas diferentes células, que atuam de forma coordenada para fazer girar esse “mercado”, que acaba ocasionando o aumento da criminalidade de rua — ressaltou o delegado adjunto da 134ª DP, Pedro Emílio Braga, que seguiu com equipes para a área de Guarus, onde a maioria dos mandados de prisão foi cumprida e, somente no Jardim Carioca, em menos de 30 minutos da operação, três pessoas foram presas em suas casas.
No Shopping Popular Michel Haddad, a operação foi coordenada pelo delegado titular da 134ª DP, Geraldo Rangel, e pelo promotor Fabiano Rangel. Inicialmente, 13 bancas seriam vistoriadas, mas outros mandados de busca e apreensão foram obtidos para o local. O presidente da associação de permissionários, Sandro da Silva Queiroz, informou que foi solicitado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil para acompanhar a ação pela manhã. “Os agentes já chegaram com o mapa do Shopping Popular, com as bancas que seriam vistoriadas marcadas. Eles pediram que eu acompanhasse, para conferir que a atuação deles estava dentro lei, e realmente eles fizeram tudo conforme disseram que fariam”, contou.
O titular da 134ª DP explicou a complexidade do esquema das quadrilhas. “Trata-se de uma organização criminosa, composta por vários grupos: o primeiro é o que rouba e furta aparelhos de telefone celular; o segundo é aquele que compra o produto do crime; o terceiro é aquele que desbloqueia, que adultera, para fazer com que o aparelho sirva, que possa ser utilizado; e o último é o que negocia, inclusive aqui, no Shopping Popular. Eles atuam conjuntamente. A investigação está desaguando na operação de hoje, para ver se a gente consegue fazer com que esse comércio ilícito de telefone celular diminua. É uma grande rede, com pelo menos 70 pessoas integrantes de núcleos diferentes, alguns fora de Campos. Os núcleos são distintos, mas estão ligados e compõem uma grande organização criminosa”, frisou Geraldo Rangel.
O promotor de Justiça Fabiano Rangel relatou que o trabalho do Ministério Público, em conjunto com a Polícia Civil, teve como foco identificar pessoas envolvidas com roubos. Para isto, foram analisados os modos de operação (modus operandi) utilizados pela quadrilha.
— Geralmente, há motos com duas pessoas e, outras vezes, com uma só. Elas se aproximam das vítimas e retiram os seus celulares. Posteriormente, esses celulares são desbloqueados e revendidos. Então, a gente conseguiu, nessa investigação, apurar toda a cadeia da organização criminosa; toda a coluna vertebral entre o assaltante em si e o revendedor, passando pela atividade de desbloqueio — pessoas envolvidas de outras cidades também, que atuavam principalmente no desbloqueio — e aqui, pelo Shopping Popular, onde eles agiam revendendo o produto da atividade criminosa. Nossa investigação tenta atacar toda essa organização — detalhou o promotor.
O comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Fabiano Souza, acompanhou os desdobramentos das investigações que resultaram na Quebrando a Banca. Ele acredita que, com a operação e muitos dos receptadores presos, haverá diminuição da incidência de roubo de celulares. Para ele, a ação ocorre em momento propício. “No final de ano, nós sabemos que as ruas ficam mais cheias e que esse tipo de crime ocorre com mais frequência. É propícia a operação, e nós buscamos, também, a participação da população a partir do Disque Denúncia, que é o 2723-177. O anonimato é garantido”, enfatizou.
Pela manhã, o trânsito ficou lento no local. Dezenas de pessoas, entre permissionários e consumidores, se aglomeravam na avenida José Alves de Azevedo (Beira-Valão), aguardando a abertura do camelódromo. Com o término da operação, por volta das 14h, o movimento também foi grande na 134ª DP, com familiares dos presos aguardando informações.
Durante a coletiva de imprensa, o delegado Geraldo Rangel informou que várias vítimas de roubo compareceram à delegacia nesta terça-feira após as apreensões dos aparelhos eletrônicos. O material recuperado, segundo ele, é fruto do roubo de rua e também de crimes cometidos em eventos na cidade.
“Pessoas já estão vindo à delegacia para relatar a ocorrência de roubo e vamos verificar se o aparelho roubado à época está dentro desses recuperados, identificar com quem estava esse aparelho, relatar e encaminhar para o MP. Percebemos que houve o aumento de casos envolvendo aparelhos de telefone celular de maior valor agregado. Estes crimes não ocorreram só em via pública, mas houve ocasião de subtração de até 50 aparelhos em shows musicais. Esses aparelhos, hoje, principalmente smartphones e iPhones são objetos de desejo de grande parte da população”, disse.
Já o delegado adjunto, Pedro Emílio, frisou que as investigações prosseguem nas próximas semanas com formato bem definido e não há estimativa do valor total movimentado pela organização, devido ao número de subnotificações.
Em Itaperuna e São Francisco de Itabapoana a operação ocorreu em comércio e também nas residências de investigados.