Paula Vigneron
01/12/2018 14:54 - Atualizado em 03/12/2018 14:49
Restos de lixo espalhados pela rua após brigas, tiros e desrespeito à Lei do Silêncio: este é o cenário do encerramento de uma festa particular promovida em uma boate localizada na rua Pero de Góis, no Parque Tamandaré. O evento foi iniciado na noite dessa sexta-feira (30), por volta das 23h, e terminou pela manhã, às 7h. Já sob a luz do sol, homens, mulheres, vendedores ambulantes e carros em desordem tomavam as duas pistas da Pero de Góis, embalados por canções em alto volume que saíam dos veículos.
O fato tem sido rotina dos moradores da rua há aproximadamente seis meses. Síndico de um dos prédios localizados na Pero de Góis, Rider Gonçalves relatou que as festas são promovidas, pelo menos, duas vezes por semana.
— Muitas vezes, acontece em dia de semana, véspera de dia útil, no horário em que as pessoas estão dormindo. Mas, nessa madrugada, foi terrível porque o som foi muito alto e foi até as 7h. Já passou da hora de resolver isso.
Um morador da rua e comerciante, que preferiu não se identificar, explicou que as pessoas que vivem na área não conseguem dormir devido ao barulho excessivo e à desordem urbana causada não somente pelo tumulto, mas também pelas barracas irregulares instaladas no local.
— Acontece especialmente quando tem funk. O problema, além da boate, é da ordem pública. No entorno das barraquinhas, ficam carros com alto volume de som e tocam músicas que não são para ser tocadas em lugar nenhum. Elas enaltecem tráfico, sexo livre, com palavras de baixo calão. É uma coisa absurda. E o mais grave de tudo isso é que eclode em brigas de frequentadores e agressões a mulheres. A gente acorda várias vezes, à noite, com mulheres pedindo socorro. Para culminar, essa noite, houve tiros. Toda a vizinhança ouviu. Aconteceu por volta das 3h30, 4h. Foram três tiros. Estampidos muito fortes, bem perto da gente. É um caos total — relatou o homem.
O comerciante contou, também, que, no momento da saída da boate, pela manhã, houve uma briga generalizada, envolvendo homens e mulheres. “Foi um inferno. A gente não sabe o que fazer. Ficamos acuados porque não podemos descer para tomar atitude nenhuma. A gente pede a ordem pública. Sou pagador de impostos e tenho direito de descansar para trabalhar no outro dia e resguardar a minha família”, afirmou.
Entre as medidas tomadas pelos moradores da área, está um abaixo-assinado, que foi protocolado, há aproximadamente 15 dias, no Ministério Público. O documento foi feito, segundo o síndico, após tentativas de diálogo com proprietários do estabelecimento e outras medidas de segurança.
— Em outras oportunidades, a gente chama a polícia. Ela vem e, quando chega, o som diminui. Mas, quando vai embora, começa tudo novamente. Também acionamos a Postura, não só em relação ao som alto, mas também a toda a desordem urbana. Colocam barracas no meio da rua para vender coisas. Foi a mesma coisa: a Postura veio, deu alerta, foi embora e tudo voltou. Não houve consequência — relatou Rider.
Brigas e agressões — Agressão a mulheres é um dos pontos destacados por quem ouve e assiste, de casas vizinhas, aos desdobramentos das festas da boate. Na manhã deste sábado, não foi diferente. Segundo o comerciante, na saída do estabelecimento, rapazes agrediram moças, que pediam socorro.
— Por volta das 6h30, houve uma confusão muito séria. As moças gritavam loucuras, os rapazes jogavam bebidas nelas. Todos enlouquecidos. Eu não posso tomar uma atitude. Nós estamos acuados. O negócio foi feio. É uma situação muito difícil. Desvaloriza não só a nossa rua, mas a nossa cidade. Isso não pode ocorrer.
Um dos proprietários da boate, o advogado Amaro Galaxe afirmou que o estabelecimento contrata uma empresa para garantir a segurança dos clientes e do local. Em contato com os profissionais, de acordo com o advogado, ele foi informado de que, durante a festa, não houve registros de violência.
— Houve outros eventos na cidade ontem (sexta) e, na nossa casa, não houve tiro. Até perguntei ao chefe da segurança, e ele disse que não houve. Perguntei se houve confusão e se colocaram alguém para fora, e ele também disse que não; que, pelo contrário, tudo correu muito tranquilo. Às vezes, lá dentro, quando há algo assim, a gente coloca para fora e marca para a pessoa ser chamada a atenção e, de repente, nem entrar mais. Na rua, pós-evento, a gente não tem como acompanhar. Mas, mesmo assim, nossos seguranças, quando saem, ficam em volta para evitar confusão ao redor da boate. Mas, ontem, não aconteceu, graças a Deus.
O comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Fabiano Santos, explicou que uma viatura foi acionada pelos moradores após a briga. Ao chegarem ao local, no entanto, os policiais não encontraram os responsáveis pela situação. A informação sobre os tiros não foi confirmada, segundo o comandante. Em casos como este, o comandante ressalta a necessidade de acionar a Polícia Militar, por meio do 190, para que sejam tomadas as medidas de segurança cabíveis.
Em nota, a Prefeitura de Campos informou que "a superintendência de Postura fez a fiscalização no local, constatou o som alto e notificou verbalmente os responsáveis pela boate na madrugada de sábado, o que foi acatado logo em seguida, mas ainda há outras medidas a serem tomadas quanto a boate ao longo da próxima semana. Quanto aos ambulantes, eles estão autorizados pelo município a trabalhar".