Retorno do Prêmio Alberto Lamego
Matheus Berriel 20/12/2018 18:13 - Atualizado em 25/12/2018 13:11
Esquecido desde 2014, o Prêmio Municipal de Cultura Alberto Ribeiro Lamego, o mais importante do setor em Campos, voltou a ser entregue na noite de quarta-feira (19), em cerimônia realizada no Museu Histórico. Foram premiados pelo Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) as seguintes personalidades: a professora Arlete Sendra e o maestro Anoeli Maciel (in memorian) por 2014; o jornalista Herbson Freitas e o sambista Jorge da Paz Almeida (in memorian) por 2015; o radialista José Sales e o diretor teatral Antonio Roberto de Góis Cavalcante, o Kapi (in memorian), por 2016; a jongueira Geneci Maria da Penha, Noinha, e o professor Luiz Magalhães (in memorian) por 2017; o maestro Ricardo de Azevedo e a atriz Maria Helena Gomes (in memorian) por 2018.
Foto - Rodrigo Silveira
Na edição de quarta-feira (19) da Folha da Manhã, por meio da coluna Ponto Final, o diretor de redação do jornal, Aluysio Abreu Barbosa, disse que “entre músicos, professores, literatos, jongueiros e jornalistas de grande valor, um deles se destaca pela multiplicidade da sua criatividade artística, talvez maior do que a cidade que o abrigou em seus 59 anos de vida”. Ele se referia a Kapi, seu amigo pessoal e, de fato, um ícone da cultura campista, morto em abril de 2015. Foi justamente Aluysio o responsável por representar Kapi ao receber o troféu das mãos da professora Elizabeth Araújo, também vencedora do Alberto Lamego, em 2008, e outra grande amiga do homenageado.
— É difícil definir Kapi. Ele era poeta, diretor de teatro, cenógrafo, arquiteto prático, desenhista, tinha uma vocação de cineasta também, e formado em turismo. Um artista múltiplo, muito completo. Foi o maior artista que conheci nessa cidade. E acho, sinceramente, que a cidade, com toda a sua glória, todo o seu passado, foi pequena para o talento de Kapi. O compositor Cartola, filho de pai e mãe campistas, dizia: “Quer fazer por mim, faça em vida”. Eu fico muito sentido de Kapi não estar aqui para receber esse prêmio. Ele iria adorar. Dizia não acreditar em artista humilde. Ia adorar receber esse prêmio. E merecia muito — disse Aluysio.
Outro momento marcante se deu na homenagem póstuma à atriz Maria Helena Gomes. Sua representante foi a filha Fernanda, que fez um discurso emocionado sobre a mãe. A outra filha, Raquel, também esteve presente e falou poucas, mas agradecidas palavras.
— Poderia ficar aqui horas e horas falando da minha mãe. Mas, o que mais me chama atenção neste momento é que a minha vida e a de Raquel, como filhas, em momento algum esteve desassociada do fazer teatral. Nunca esteve, no palco ou na nossa casa, porque as portas da nossa casa sempre estiveram abertas a todos os artistas, para ensaio, para comer, dormir e morar. A minha mãe, Lena, é a pessoa mais generosa, mais gentil e mais humilde que eu conheço. Este prêmio é dividido com todos que fizeram parte da vida da minha mãe — disse Fernanda, pedindo licença poética a Manuel Bandeira ao adaptar seu poema “Irene no céu”: — Lena simples, Lena boa, Lena sempre de bom humor. Imagina Lena entrando no céu. “Licença, meu branco”. E São Pedro bonachão: “Entra, Lena. Você não precisa pedir licença”.
Uma das personalidades premiadas em vida, a professora Arlete Sendra, nascida em Cambuci, no Noroeste Fluminense, falou sobre a relação de amor com a cidade de Campos: “Estou profundamente lisonjeada, envaidecida e agradecida por esse prêmio. Quero dizer que, por mais conhecimento e condições que eu tivesse, retornaria a Campos, a terra que me acolheu”.
O orgulho em falar de Campos também esteve presente no discurso da filha de Jorge da Paz Almeida, a professora Clécia Almeida, ao receber o troféu entregue pelo professor e pesquisador Marcelo Sampaio: “Acho que a cidade é justa. É um lugar que ele sempre amou e defendeu. Em vários setores, deu tudo de si. A gente sempre se emociona muito, porque sabe do esforço do trabalho em tudo o que ele fez”.
Principal responsável pela reestruturação da Lyra de Apollo após o incêndio que atingiu a sua sede, em 1990, o maestro Ricardo de Azevedo deu detalhes sobre a obra: “Deus me reservou o destino de recuperar a Lyra de Apollo. Felizmente, com nossos próprios recursos, estamos com 80% da obra pronta. Fizemos a nossa escada totalmente original, o nosso assoalho todo em roxinho. No final de dezembro, quem olhar o prédio da Lyra de Apollo já vai contemplar as portas no alto, com toda a sua originalidade. E em fevereiro, estarão colocadas as liras no alto da torre do prédio”.
Compuseram a mesa do evento o vice-presidente do Comcultura, Wellington Cordeiro; a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Cristina Lima; o vice-presidente da mesma fundação, Vinícius Soares Barbosa; e o presidente da Academia Pedralva de Letras e Artes, Carlos Augusto de Alencar.
O prêmio — Criado em 1987, o Prêmio Alberto Lamego foi ideia da historiadora e empresária Diva Abreu Barbosa, diretora-presidente do Grupo Folha de Comunicação, então chefe do Departamento Municipal de Cultura, equivalente à atual FCJOL. Inicialmente, premiava três personalidades por ano, mas passou por modificações até chegar ao formato atual, com um premiado em vida e o outro in memorian. Na reestruturação do Comcultura, presidido por Rafael Damasceno, foi descoberto que haviam sido escolhidos os vencedores de 2014, 2015 e 2016, mesmo sem a entrega dos troféus. Desta forma, entre setembro e outubro de 2018, houve a escolha dos últimos quatro vencedores, para que fosse retomada a tradição.

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