Matheus Berriel
11/12/2018 17:52 - Atualizado em 13/12/2018 15:36
Pesquisador da Música Popular Brasileira, o professor Marcelo Sampaio procura sempre levar ao Cineclube Goitacá filmes relacionados aos grandes nomes da história de nossa MPB. A obra apresentada nesta quarta-feira (12) será “Geraldo Pereira — O Rei do Samba” (1999), com direção de José Sette, mineiro que atualmente reside em Cabo Frio. A sessão está marcada para as 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, localizado à esquina das ruas Conselheiro Otaviano e 13 de Maio, no Centro de Campos. Entrada franca.
— A escolha deste filme tem um motivo muito peculiar. Se estivesse vivo, o Geraldo Pereira completaria, este ano, 100 anos de vida. Então, eu acho que seria um crime de lesa-cultura popular e lesa-samba o Cineclube Goitacá não homenagear o centenário do nascimento de Geraldo Pereira, um dos maiores sambistas brasileiros. Acho que ele não é muito divulgado e até mesmo conhecido porque, primeiro, morreu relativamente cedo, com 37 anos. Além de sambista, ele era negro e também muito envolvido com as religiões de matriz africana. O candomblé e a umbanda, nele, eram muito fortes. Então, eu acho que há um certo preconceito racial, social e religioso em cima dessa questão que o Geraldo Pereira reunia — avaliou Marcelo Sampaio.
Natural de Juiz de Fora/MG, Geraldo Theodoro Pereira nasceu no dia 23 de abril de 1918. Ainda criança, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou no Carnaval, desfilando pela extinta escola de samba Unidos de Mangueira, e na vida noturna da Lapa. Foi parceiro de grandes nomes do samba como o campista Wilson Batista e a figura que personificava a malandragem, Moreira da Silva. Com cerca de 100 composições gravadas, é considerado por muitos, inclusive por Marcelo Sampaio, um cronista do cotidiano, devido às suas letras retratarem coisas simples do dia a dia. Além da música, durante a vida, chegou a fazer participações especiais em três filmes: “Tudo é Verdade” (Orson Welles, 1942, inacabado), “Berlim na Batucada” (Luiz de Barros, 1944) e “O Rei do Samba” (Luiz de Barros, 1952).
— Um mineiro, assim como Ary Barroso e Ataulfo Alves, que foi para o Rio e se tornou um dos maiores sambistas. Foi gravado, por exemplo, por Chico Buarque, com a música “Sem Compromisso”. Morreu de uma forma trágica. Na verdade, ele era valentão, bom de briga, gostava de brigar. Uma vez, arranjou uma confusão, em um bar na Lapa, com um cidadão chamado Madame Satã. O cara era um negro, homossexual, quase travesti, andava vestido de mulher, mas não tinha peito, nada disso. Se travestia de mulher. E era fortíssimo, brigava bem. Quando Geraldo arranja uma briga com ele, leva um soco, cai com a cabeça no chão, vai para o hospital e de lá não sai mais. Morreu — contou Marcelo.
Uma das demonstrações da grandeza de Geraldo Pereira como compositor veio no ano de 1981, quando João Nogueira gravou “Wilson, Geraldo, Noel”, álbum formado exclusivamente por composições de Wilson Batista, Geraldo Pereira e Noel Rosa.
Na biografia dirigida por José Sette, rodada em sistema de cooperativa, em Juiz de Fora, Gérson Rosa interpreta Geraldo Pereira. A duração é de uma hora e 20 minutos.
— São basicamente imagens de arquivo. Tem algumas imagens feitas exclusivamente para o filme, mas a maioria é de arquivo. Imagens sobre sua vida, que era agitada. Morreu pobre, como a maioria dos sambistas. Era uma figura muito importante. O filme tem alguns depoimentos, algumas encenações de momentos e situações da vida dele, que, por exemplo, foi apaixonado por uma mulher chamada Isabel e fez um samba para ela dizendo: “Enquanto a Isabel, a Redentora, aboliu a Escravidão; outra Isabel, tão pecadora, escravizou meu coração” — finalizou Marcelo Sampaio.