Novembro assombrado na política fluminense
Aldir Sales 17/11/2018 16:42 - Atualizado em 20/11/2018 11:56
  • Garotinho

    Garotinho

O Dia das Bruxas é celebrado em 31 de outubro, no entanto, é o mês seguinte, novembro, que vem assombrando alguns dos figurões da política fluminense. Nos últimos dois anos, caciques como os ex-governadores Sérgio Cabral (MDB), Anthony Garotinho (PRP) e Rosinha Garotinho (Patri), além dos ex-presidentes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) Jorge Picciani (MDB) e Paulo Melo (MDB) foram presos em operações da Polícia Federal. Isso sem contar que o então líder do governo na Alerj, Edson Albertassi (MDB), e os sete deputados alvos da operação Furna da Onça na última semana também foram para trás das grandes no mês da proclamação da República.
Quem inaugurou a “maldição de novembro” para os políticos fluminenses foi Anthony Garotinho. O ex-governador foi preso pela primeira vez no dia 16 de novembro de 2016 dentro das investigações da operação Chequinho, na qual ele foi condenado posteriormente em primeira instância a 9 anos e 11 meses de prisão no “escandaloso esquema” de troca de votos por Cheque Cidadão na última eleição municipal.
Na época, Garotinho chegou ir para a superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro e seria transferido para o presídio em Campos, mas alegou problemas de saúde e foi levado para o Hospital Souza Aguiar. Após denúncias de regalias, o juiz Glaucenir Oliveira, então responsável pela 100ª Zona Eleitoral de Campos, determinou que campista fosse encaminhado para o presídio de Bangu, onde receberia assistência na UPA. Porém, o político da Lapa resistiu à transferência e se debateu na maca, chutando enfermeiros e policiais enquanto era colocado na ambulância. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revogou a prisão alguns dias depois.
No dia seguinte a Garotinho, foi a vez de Sérgio Cabral ir para a prisão, mas por outros motivos, dentro da operação Calicute, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro. A denúncia dizia que Cabral e os outros alvos da ação receberam propina em troca da concessão de obras, como a reforma do Maracanã para a Copa de 2014, o PAC Favelas e a construção do Arco Metropolitano. Segundo o Ministério Público Federal, o ex-governador teria recebido R$ 2,7 milhões de propina em espécie por contrato em obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
No entanto, no dia 22 de novembro do ano passado, Garotinho voltou a ser preso, mas, desta vez, dentro da operação Caixa d’Água. Além dele, Rosinha Garotinho também chegou a ir para o presídio. O casal foi acusados de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais e até uso de armas de fogo para intimidação. Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público com base nas delações do ex-executivo da JBS, Ricardo Saud, e de empresários locais, a multinacional dos alimentos firmou contrato fictício com a empresa de serviços de informática Ocean Link para repassar R$ 3 milhões para a campanha de Garotinho ao Governo do Estado em 2014. Além disso, o político da Lapa é apontado como o comandante de um esquema para cobranças de propinas na Prefeitura de Campos durante a gestão de Rosinha. (A.S.)a
Alerj
Alerj / Divulgação
Operação Cadeia Velha completa um ano
Em um estado marcado pela corrupção, a Alerj vem ganhando destaque nas páginas dos jornais pelos sucessivos escândalos envolvendo os deputados estaduais e a cúpula da política fluminense. Na última sexta-feira (16), a operação Cadeia Velha completou um ano. Nela, o então presidente da Casa, Jorge Picciani, o seu antecessor no cargo, Paulo Melo, e o então líder do governo na Casa, Edson Albertassi, foram presos acusados de receber propina para legislarem em favor dos interesses de empresários do transporte.
Um dia depois, o plenário da Assembleia Legislativa votou pela soltura dos três deputados, que chegaram a deixar a prisão. No entanto, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) decidiu pela manutenção da prisão preventiva do trio. Posteriormente, Picciani conseguiu converter a medida em prisão domiciliar para um tratamento de câncer, porém, Albertassi e Melo continuam atrás das grades.
Os procuradores dizem que os pagamentos começaram na década de 90 e continuaram até em 2017. Só da Fetranspor, a federação que reúne empresas de ônibus no Rio, Jorge Picciani teria recebido R$ 77 milhões de 2010 para cá. Melo é suspeito de receber R$ 54 milhões, a maior parte quando foi presidente da Alerj. Albertassi, por sua vez, teria recebido R$ 3,7 milhões em propina.
Furna da Onça prendeu dez deputados da Alerj
Uma ação conjunta do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), num desdobramento da operação Cadeia Velha, levou à prisão, no último dia 8 de novembro, sete deputados estaduais, além de mais três que já encontravam-se custodiados. Também foi preso o secretário estadual de Governo, Affonso Monnerat, além de assessores que atuavam na Alerj, do presidente do Detran, Leonardo Silva Jacob, e seu antecessor Vinícius Farah, recém-eleito deputado federal pelo MDB.
A operação Furna da Onça foi desencadeada para investigar a participação de deputados em esquema de corrupção e loteamento de cargos públicos e mão de obra terceirizada. De acordo com a denúncia, o esquema teria movimentado R$ 54 milhões e o “mensalinho” chegava até a R$ 900 mil.
Foram presos os deputados André Correa (DEM), Chiquinho da Mangueira (PSC), Coronel Jairo (MDB), Luiz Martins (PDT), Marcos Abrahão (Avante), Marcus Vinicius “Neskau” (PTB) e Marcelo Simão (PP), este último teve a prisão revogada, mas está impedido de exercer a função.

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