Arnaldo Neto
24/11/2018 15:16 - Atualizado em 27/11/2018 14:21
A não conclusão da ponte João Figueiredo, iniciada nos anos 1980, foi fator preponderante para emancipação do antigo sertão de São João da Barra, que, desde 1997, é o município de São Francisco de Itabapoana. Já em 2014, os pilares foram descartados para construção de outra ponte, que ficaria pronta em um ano, batizada de Integração. Só que pontes sobre o Paraíba nos municípios da foz parecem ter o mesmo destino: começam, mas não são concluídas (ao menos dentro do prazo). O governador Luiz Fernando Pezão (MDB), que lançou a pedra fundamental da obra, ainda está confiante. “Nós vamos inaugurar em dezembro”, disse na última sexta-feira (23). Mas quem acompanha a construção de perto não está tão otimista. E não dá para esquecer que há dois meses, em visita ao canteiro, a promessa de Pezão foi de concluir a obra em novembro.
Para o diretor regional do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Rio de Janeiro, o engenheiro Ivan do Amaral Figueiredo, a ponte não termina este ano. Ele atribui o atraso a condições climáticas:
— Está muito complicado. O rio subiu, uma ventania danada, ninguém consegue trabalhar. Nós estamos brigando contra o tempo: primeiro foi aquela chuvarada, ficou todo mundo parado. Agora, o vento forte, que atrapalha bastante.
Para Ivan, se o verão não for chuvoso, a ponte só fica pronta em março. Nem por isso, diz ele, o ritmo de trabalho diminui. “Tem 100 homens na obra. Na fábrica, em Magé, deve ter mais 80, produzindo vigas, laje. Até o final do mês já vai estar tudo aqui. Aí é só colocar no lugar. O problema é que você não pode montar viga em dia de ventania, por exemplo. Tudo isso atrasa a obra”, explica o engenheiro.
Em nota, contrariando o diretor regional, mas ratificando a posição de Pezão, o DER informou que obra será concluída este ano. Ainda de acordo com o departamento, houve atraso devido a questões de desapropriação dos acessos. Ivan afirmou que a desapropriação não foi solucionada e que deve voltar a discutir o assunto nesta semana.
Prefeita de SJB, Carla Machado (PP) destaca que, de acordo com o Governo do Estado, há recurso para concluir a obra este ano, se dezembro não for um mês de muita chuva:
— Acreditamos, portanto, que não irá haver uma nova paralisação. Se, por ventura, isso acontecer, voltaremos a pleitear sua conclusão, por entender a grande importância da ponte em termos de integração e desenvolvimento regional, além das questões históricas, já que interligará dois municípios que antes formaram um só território.
Francimara Azeredo (PSB), prefeita de SFI, também torce pela conclusão da ponte neste ano. Porém, caso não ocorra, ela já deixou claro que vai ao governador eleito, Wilson Witzel (PSC), com o objetivo de sensibilizá-lo sobre a importância da ponte para o Norte Fluminense. A prefeita descarta a possibilidade de a obra ser abandonada, como ocorreu com os pilares da ponte antiga. “Os governantes têm que zelar pelo dinheiro público”, salientou Francimara, acrescentando que a conclusão da ponte deixa SFI em um ponto estratégico, entre o Porto do Açu e o futuro Porto Central, na cidade de Presidente Kennedy (ES).
Não concluir a ponte João Figueiredo contribuiu para emancipação de SFI. Último prefeito eleito quando os dois municípios eram só um, o economista Ranulfo Vidigal lembra como a construção fez falta ao município. “Eu tinha um secretário, que a gente chamava de secretário do sertão, o Cláudio Henriques (atual vice-prefeito de SFI). Ele reclamava muito, e com toda razão, que a falta dessa ponte tirava muito a capacidade de geração de riqueza da cidade. A partir disso foi crescendo a vontade, dentro das lideranças políticas, para questão emancipatória”, pontuou Ranulfo.
O prefeito não concluiu o mandato. Foi cassado em 1996. Quem assumiu foi o vice, Edinho Mansur, de raízes políticas no antigo sertão. Ele conta que o movimento pela emancipação, do qual sempre fez parte, reuniu nomes de diferentes partidos e que não ter a ponte contribuiu para o processo:
— Tudo que nós precisávamos com relação a Fórum, Cartório, Prefeitura era lá (em SJB). Você podia ir pelo rio, tinha barco. Mas quando você precisava se deslocar de carro, saindo de Praça João Pessoa até Campos, por exemplo, são 75 quilômetros. De Campos a SJB, mais 40. Uma viagem de quase 250 quilômetros. Era tudo muito difícil.
Últimos prefeitos da época em que os municípios da foz eram um só, Ranulfo e Edinho acreditam na conclusão da nova ponte e ressaltam sua importância para toda região.
Obras lançadas, jamais terminadas
Com pedra fundamental lançada em junho de 2014, e orçamento inicial de R$ 105,7 milhões, a ponte da Integração, que teve a obra paralisada diversas vezes, terá 1.344 metros de comprimento e 16,2 metros de largura.
São 35 pilares, sendo 17 no trecho do rio Paraíba do Sul, 14 em SJB e quatro em SFI. A ponte vai encurtar em 80 quilômetros a distância entre a sede dos dois municípios.
A Folha tentou mais informações sobre o andamento da construção com a Premag, empresa responsável, e com a secretaria de Obras do Estado, mas não obteve resposta até o fechamento da edição.
O projeto em andamento substitui o original, da ponte João Figueiredo, que teve início em 1981, mas foi paralisado em 1985, cinco anos antes da extinção do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), no governo Fernando Collor. Matéria divulgada no site da Prefeitura de SJB em 2013 informava que na estrutura antiga “eram 7 quilômetros de viaduto passando em uma área que fica totalmente alagada no período de cheia do Paraíba do Sul e a construção de um dique para determinados trechos seria inviável pela questão ambiental”.