Jane Ribeiro
15/11/2018 14:53 - Atualizado em 19/11/2018 14:41
A Internet é, por larga margem, a mais popular fonte de informação e a escolha preferencial para obter notícias, fazer amigos e principalmente comercializar produtos. É essa ferramenta que os agricultores quilombolas estão utilizando para comercializar as suas produções, gerar renda, incentivar as vendas nos meios digitais e dar visibilidade às tradições de 15 comunidades remanescentes de quilombolas do Norte e do Noroeste do Estado do Rio de Janeiro. Um desafio que está sendo levado para outros estados.
O site da Rede Produtiva Quilombola (redeprodutivaquilombola.org.br) foi criado pelo Instituto de Desenvolvimento Afro Norte Noroeste Fluminense (Idannf) e pelo colegiado de agricultores quilombolas, devido à necessidade de expandir a venda de seus produtos, conquistando clientes interessados nas verduras, frutas, hortaliças e produtos de origem animal com a marca de qualidade quilombola.
O site da Rede Produtiva Quilombola lançado em 2017 é administrado por jovens das próprias comunidades tradicionais e conta, atualmente, com mais de 30 produtos disponíveis para compra imediata, dentre um total de mais de 120 catalogados. O site já foi lançado também em Quissamã e São Francisco de Itabapoana.
A presidente do Instituto de Desenvolvimento Afro do Norte e Noroeste e Coordenadora Nacional das Comunidades Quilombolas em Campos, Lucimara Muniz, informou que o site conseguiu o apoio de várias entidades e reconhecimento nacional.
— Na rede produtiva quilombola temos, hoje, mais de 140 produtores catalogados das 11 comunidades da Região Norte, sendo Campos a maior em número de comunidades. A experiência que foi referência em organização social é inédita no Brasil e ficou como referência para Fundação Palmares e o Ministério de Desenvolvimento Agrário de Brasília — conta Lucimara, acrescentando que a ideia gera renda criando um catálogo de produtos de comunidades quilombolas na internet, com identificação desses itens que são produzidos por eles.
Vários itens disponíveis no site possuem o Selo Quilombos do Brasil – associado ao Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (Sipaf) – que atesta que os produtos são originários da agricultura familiar, praticada em territórios quilombolas reconhecidos. O diferencial está nos produtos que são cultivados sem a utilização de qualquer tipo de química, conforme a tradição ancestral dos quilombolas. “Frutas, verduras, leite fresco, queijos da roça e outros gêneros alimentícios, todos os itens vendidos pelo site são produzidos de modo agroecológico, sem utilização de agrotóxicos e sem causar danos ao meio ambiente”, disse Lucimara.
Marca chama atenção dos consumidores
A marca da Rede Produtiva Quilombola junto com o site já tomou uma proporção difícil de acreditar, segundo Lucimara. A marca vem chamando a atenção de potenciais consumidores de outros estados: como São Paulo e Espírito Santo.
O fornecimento aos supermercados tem proporcionado uma renda entre R$ 8 mil e R$ 9 mil mensais. Esses valores são partilhados entre os agricultores quilombolas, conforme a participação de cada um no fornecimento das encomendas.
— O site vem chamando a atenção de potenciais consumidores. E isso é muito importante, já que o reconhecimento e o bom trabalho executado por eles são partilhados entre os agricultores quilombolas. A internet trouxe renda para dentro das comunidades na forma de escoar a produção. Está vindo demanda daqui de Campos, do Rio de Janeiro e até de São Paulo. Um desafio para todos nós. Eles estão se sentindo donos do site, que vai crescer dentro de pouco tempo e isso é muito gratificante para todos que trabalham — ressaltou Lucimara.
Iniciativa levada para outros estados no Brasil
O sucesso está se expandindo tanto que a presidente do Idannf, Lucimara Muniz, está participando do Seminário de Organização e Cidadania Quilombola, que está acontecendo em Maceió, Alagoas, no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares, em evento organizado pela Fundação Zumbi dos Palmares que prossegue até segunda-feira.
Lucimara participa do espaço que fala sobre “As faces do Empreendedor Negro no Brasil” e mostra a iniciativa das nossas comunidades quilombolas. Na palestra, Lucimara, que será a única participante da região, vai falar sobre as ações e desafios e alternativas para escoamento de produtos quilombolas por iniciativa e organização social.
— O convite chegou numa hora muito especial para todos nós que fazemos parte da comunidade quilombola. Somos hoje referência em organização social inédita no Brasil e com reconhecimento de órgãos importantes no país. A Fundação Cultural Palmares realiza a segunda edição do “Projeto Vamos Subir a Serra”, com diversas ações de cunho socioeducativo e cultural no âmbito das manifestações espontâneas que anualmente celebram, na Serra da Barriga, patrimônio cultural do Mercosul, no município de União dos Palmares, Alagoas, o Dia Nacional da Consciência Negra. Contar a nossa experiência está sendo muito gratificante — falou.