Religião e política na Bienal do Livro
Matheus Berriel 24/11/2018 17:26 - Atualizado em 29/11/2018 18:57
Rodrigo Silveira
Teve sucesso, neste sábado (24), a mesa “Política x Religião: O Estado é Laico?”, durante mais um dia da 10ª Bienal do Livro de Campos. O evento aconteceu entre o final da manhã e início da tarde, no auditório Cristina Bastos, no campus Centro do Instituto Federal Fluminense (IFF). Compuseram a mesa, mediada por Nelson Lellis, os especialistas Fábio Py, Silvia Fernandes e Brand Arenari. O jornalista Bob Fernandes chegou a ser anunciado pela organização da Bienal, mas não pôde comparecer. Por outro lado, o ativista negro Gilberto ”Totinho” inseriu-se no debate para representar as religiões de matrizes africanas. Estiveram na plateia o prefeito Rafael Diniz e a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima. A Bienal termina neste domingo (25), com programação das 9h às 20h. No encerramento, show de Paulinho Moska.
Para Brand Arenari, secretário de Educação, Cultura e Esporte, a mesa representou mais um avanço no democrático. “Não é importante discutir apenas o tema da política e religião, mas qualquer outro tema. O desafio, hoje, da democracia, é construir espaços de debates qualificados, que mostrem a complexidade dos problemas que a gente tem que enfrentar. As novas tecnologias difundem a informação de uma forma muito pobre, e isso tem um reflexo direto no debate, como também nas eleições. Nós achamos que temas muito complexos são muito fáceis, que pode ser mudado isso aí muito rápido, e a sociedade é muito mais complexa”, afirmou.
Nelson Lellis comentou a proximidade histórica de política e religião, evidenciada com as citações religiosas feitas por políticos no último período eleitoral, entre eles o presidente eleito Jair Bolsonaro. “A mesa contribuiu com essa possibilidade de olharmos para a interface religião e política de forma mais aprofundada, de pessoas que estão analisando empiricamente esse fenômeno religioso na política, como também os políticos que estão se envolvendo no campo religioso para instrumentalizar a religião para a sua popularização. As eleições de 2018 fomentaram grandemente essa interface de política e religião. A gente pôde discutir um pouco sobre o engajamento de jovens católicos na religião, a ideia do individualismo, enfim. Temos observado a importância desse fenômeno religioso na plataforma política. É uma coisa que tem que ser discutida nas esquinas, nos encontros, também em lugares sagrados, lugares públicos, porque, com certeza, é indissociável, nos dias de hoje, essa temática”, disse.
Após apresentar algumas informações de seu estudo feito com jovens católicos durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013, Silvia Fernandes abordou a necessidade de as religiões não permitirem que, como instituições, sejam usadas de forma a fomentar o autoritarismo. “O que extrapola é exatamente a dimensão autoritária, a dimensão do discurso único, que não ouve, não dialoga com a diferença. Isso você vai aplicar desde o budismo até o catolicismo, até todas as formas de cristianismo. Não há como a gente valorizar a religião como uma instituição se a gente não conseguir olhar, dentro desta instituição, aquilo em que ela mais falha, onde mais deixa rastros para fomentar o autoritarismo na sociedade brasileira. Acho que a gente não tem que acusar grupo nenhum, do ponto de vista da religião, como nenhum grupo do ponto de vista de outras instituições. Enquanto a gente não entender e não aprender a reconstruir o tecido social, eliminando o autoritarismo, a gente vai ter problema, seja com a religião, com os partidos, com as universidades ou qualquer outra instituição”, enfatizou.
Rodrigo Silveira
Tema sempre polêmico, a laicidade do Estado no Brasil foi abordada em determinados momentos. “A religião já se condiciona na política. Mas, a laicidade é um processo em construção. Com a bancada evangélica, essa noção inicial brasileira de laicidade está sendo colocada em pauta, em cheque por vezes. Temos que olhar isso com carinho, inclusive a dinâmica dos espaços religiosos que vêm se possibilitando em termos de política. Analisar se é importante, se é necessário, se dignifica ou não as outras partes da população. Espaços como esse ajudam”, destacou Fábio Py.
Inicialmente na plateia, Gilberto Totinho pediu a palavra e esteve presente no palco na reta final do debate. “Eu acho que é de extrema importância você discutir temas polêmicos, desde que trate o tema como deve ser tratado. A mesa está bem clara: política, religião e laicidade. Então, o tema tem que ser discutido pelas transversalidades, não mapeado. Eu faço uma análise de que focada em um tema único, que era a política. A laicidade ficou de lado, porque, para falar da laicidade, é preciso tocar em reparação, tocar nas mazelas do município, do estado. Não conseguir enxergar isso. Então, por isso pedi a fala, na condição de cidadão brasileiro, de um adepto das religiões de matriz africana, na condição de um Omo Ifá. Mas, eu gostei da mesa. Acho que a gente deve ocupar os espaços, fazer as falas pontuais, desde que sejam respeitosas aos companheiros. Deve haver as críticas. O papel dos movimentos sociais é sinalizar as insatisfações nas fileiras que ficaram para trás”, enfatizou Totinho.

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