Filme de Lars Von Trier desnuda o ser humano
Celso Cordeiro Filho 22/11/2018 18:41 - Atualizado em 24/11/2018 18:00
Ao comentar o filme “Dog-ville” (2003), dirigido pelo dinamarquês Lars Von Trier, apresentado na quarta-feira (21), no Cineclube Goitacá, o dentista e psicólogo Luiz Fernando Sardinha lembrou um princípio da Psicologia: “nada me estranha se vem do humano.” Aí citou uma série de crimes bárbaros praticados recentemente e noticiados fartamente pela mídia. “O filme é bem atual, pois mostra as contradições do ser humano dividido entre a bondade e a maldade”, acrescentou.
O filme se passa em 1930, logo após o crash da Bolsa de Nova Iorque, período em que os gângsters estavam em alta nos Estados Unidos. A personagem Grace, vivida pela atriz Nicole Kidman, é filha de um gângster, e revoltada com o comportamento do pai, resolve se mudar para uma pequena vila, onde esperava encontrar uma cidade acolhedora, com pessoas caridosas. No desenrolar da trama, Lars Von Trier mostra o “lado podre” dos moradores do vilarejo, que agem de forma instintiva com momentos de arrogância, egoísmo e crueldade. “O filme também pode ser entendido como a vida de Cristo, só que contada de uma forma original. A maldade serve para punir os faltosos”, observou o advogado e crítico de cinema, Gustavo Oviedo.
Há ainda uma referência religiosa no filme. Grace significa “graça”, em alusão à ideia de graça divina, presente que Deus dá à humanidade independente de suas obras. A personagem de Nicole Kidman, com sua pureza e estoicismo (é açoitada por todos e sempre oferece a outra face), encarna a graça divina que o criador oferece a “Dogville”. Mas na perspectiva do diretor dinamarquês, a humanidade a desperdiça e deve então responder por seus atos. O filme termina em tom de tragédia e a única criatura poupada é o cão Moisés. Moisés é a figura bíblica que conduz o povo hebreu à terra prometida de Canaã, sendo impedido de entrar por seu pecado. A humanidade de “Dogville” também fracassa em sua concepção de mundo idealizado e os latidos do cão para a câmera exprimem a urgência de reconciliação com o real.

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