Crítica de cinema - Lona arriada
19/11/2018 18:01 - Atualizado em 24/11/2018 17:59
Divulgação
(O grande circo místico) —
Depois de 12 anos afastado do cinema de ficção, Cacá Diegues volta com uma proposta ambiciosa e arriscada: transformar um poema de Jorge de Lima com 37 versos num filme com pretensões de encantar o público. Edu Lobo e Chico Buarque foram muito felizes em compor músicas para um disco inteiro, todas elas inspiradas no mesmo circo. Para mim, representa o ponto mais alto na trajetória dos dois compositores. Já não se pode dizer o mesmo de Cacá Diegues, autor de filmes marcantes do cinema brasileiro.
Parece que o tempo de afastamento do diretor não lhe fez bem. O primeiro ponto frágil do filme é o roteiro, assinado por Cacá e por Jorge Moura. Um roteiro é fundamental para um filme. Mas pode acontecer que um roteiro bom resulte num filme ruim ou que um roteiro ruim resulte num filme bom. O roteiro de “O grande circo místico” tem altos e baixos.
Mas não é esse apenas o ponto frágil do filme. A direção dele mostra muitas inconsistências. Cacá toma muitos autores como inspiração. A mais perigosa delas é o clima mágico que envolve os filmes de Federico Fellini. A fotografia e o tom feérico também apresentam altos e baixos. O filme até que promete estabilidade no princípio, mas não consegue sustentá-la logo a seguir. O diretor escala um grande elenco para retratar a história de um circo ao longo de cinco gerações, mas não arranca dos artistas bom desempenho. Não dá tempo.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
Ao longo dos anos, cada estrela do circo vai morrendo. Apenas Celavi (Jesuíta Barbosa) permanece vivo e jovem, como a representar a imortalidade do circo. A história vai dos momentos áureos à decadência da arte circense. Nas cenas de sexo, sempre uma armadilha para literatos e cineastas, Cacá perde a mão. Ele tenta, de modo felliniano, mostrar o relacionamento sexual de uma contorcionista, de um homem de membro imenso, como uma deformação física típica de personagens de circo. Contudo, exagera.
Enfim, o excesso de referências a outros cineastas passa dos limites e se torna dispensável. As belíssimas músicas de Chico Buarque e Edu Lobo também não são devidamente aproveitadas. “O grande circo místico” foi selecionado para representar o Brasil no “Oscar”. Seria uma consagração para o quase octogenário Cacá Diegues se o filme vencesse na categoria de melhor filme estrangeiro. Contudo, tenho a impressão de que sequer será selecionado para concorrer com outros.

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