Crítica de cinema - Ready, Freddie?
*Felipe Fernandes - Atualizado em 09/11/2018 17:58
Divulgação
(Bohemian Rhapsody) -
A cinebiografia de Freddie Mercury é um projeto que está em realização há bastante tempo. Produzido pelos dois membros remanescentes que administram tudo relacionado ao Queen, o projeto conta com um material poderoso, repleto de possibilidades, clássicos do Rock e um protagonista complexo, dono de uma voz única e que não tinha medo de inovar.
A música que dá título ao filme é uma das mais experimentais da banda e o filme mostra isso. É uma pena que o longa não tenha o mesmo espírito da banda e tenha medo de arriscar, de aprofundar um personagem tão fascinante dentro e fora dos palcos.
O longa narra a trajetória de Freddie do momento em que conhece os outros integrantes da banda até o histórico show do Live Aid. Filho de imigrantes, ele se mostra um homem tímido, porém consciente do seu imenso potencial e vê na música a oportunidade de se descobrir e ser quem ele realmente é. Ele então adota um nome artístico que simboliza o rompimento com seu passado e suas raízes e reflete seu recomeço.
Mateusinho viu
Mateusinho viu / Divulgação
Do momento de seu ingresso na banda até a gravação do primeiro disco e o repentino sucesso, o filme narra tudo muito rápido, não explica o conflito dele com o pai, não aprofunda a relação do vocalista com os outros membros da banda, muito menos com Mary Austin, figura importante em sua trajetória.
Logo, o filme adota uma dinâmica episódica, pulando de sucesso em sucesso, sempre narrando uma história divertida para justificar a presença de um dos sucessos da banda no longa. Tudo intercalado com crises nos relacionamentos do vocalista, que nunca são aprofundados.
Dilemas que se resumem a descoberta de sua sexualidade (que nem é de fato uma descoberta, está mais para uma aceitação) e a solidão decorrente das relações superficiais que surgem com o sucesso. Os excessos, as famosas festas e a relação do personagem com as drogas são muito pouco exploradas, apenas mencionadas em alguns raros momentos.
Esteticamente o filme é eficiente, com um bom ritmo e bem dirigido. As graves brigas entre o diretor Bryan Singer e o protagonista Rami Malek e a demissão de Singer no meio das filmagens não são sentidas na tela, o maior problema do filme está em sua abordagem, que aparentemente já estava definida a aquela altura.
O elenco do filme está muito bem, os integrantes do Queen estão incrivelmente parecidos na reconstrução visual e os atores seguram a ponta, mas é a entrega de Malek que sustenta o longa (não poderia ser diferente).
Rami Malek (Mr. Robot) convence como o líder do Queen. Entrega uma atuação segura, mas que carece de identidade. Sua decisão de dublar as músicas é coerente, pois é impossível reproduzir uma voz como a de Freddie, mas sua movimentação no palco e trejeitos fora dele, enriquecem seu trabalho, sendo um dos pontos fortes do filme.
Por incrível que possa parecer, um dos pontos negativos do filme, é a parte musical. O filme em nenhum momento consegue transpor para as telas a energia do Queen enquanto banda. Faltam números musicais e o clímax no Live Aid não funciona. Vale pela curiosidade de ver os mínimos detalhes de um show tão famoso (e presente nas mentes dos fãs) serem reproduzidos, mas falta ao filme um clímax poderoso, que levante a empolgação do público como o Queen fazia em seus shows.
O maior pecado que uma biografia pode cometer, é ter vergonha do biografado. Essa é a sensação ao final de “Bohemian Rhapsody”. Um longa convencional e careta, que não se arrisca e não se aprofunda em seu protagonista tão intenso e complexo.
Freddie Mercury podia ser relacionado a muitas coisas, mas a caretice nunca fez parte de seu repertório.

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