Eduardo Paes: "Witzel é lobo em pele de cordeiro"
Aluysio Abreu Barbosa 20/10/2018 17:42 - Atualizado em 22/10/2018 15:01
“O meu dever é mostrar aos eleitores que esse sujeito que se apresenta como íntegro, dono da razão e como o candidato do ‘novo’, na realidade, é um sujeito que foge de bandido, que não paga um empréstimo feito pela sogra, que não paga IPTU, que recebe auxílio moradia tendo imóvel, que tem que tomar reprimenda da corregedora do TRF no Rio, que é empresário e não declara as suas empresas. Enfim, é um homem cheio de vícios e que, na verdade, é um lobo em pele de cordeiro”. Este é o dever assumido por Eduardo Paes (DEM) em relação ao seu adversário no segundo turno a governador do Rio, Wilzon Witzel (PSC). Ele aposta que, após refletir, a população vai concluir que ele, Paes, é a melhor opção para o Estado.
Folha da Manhã – Wilson Witzel (PSC) teve mais que o dobro da sua votação (3,15 milhões contra 1,49 milhão) no primeiro turno. É possível virar? Como?
Eduardo Paes – Claro que é possível. Trabalhei muito para ter todos os votos, vou continuar trabalhando. Recebo muito carinho da população em todos os lugares que vou. E isso é um reconhecimento por tudo aquilo que a gente fez pelo Rio. O segundo turno é uma nova eleição, partimos do zero. Nós estamos conhecendo o meu adversário agora. As pessoas não conhecem o personagem. E em uma semana o que soubemos dele é de dar medo. Cada dia é um susto que se toma com esse candidato. E é um homem moralista, que prega a moral, diz ser experiente no combate ao crime. Mas é fujão, mentiroso, tem contado inverdades por aí.
Folha – O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) teve 4,38 milhões de votos, quase a soma da votação de Witzel e sua. A participação do filho de Jair Bolsonaro (PSL) na campanha do seu adversário foi considerada um dos motivos da rápida ascensão deste. No dia 12, o TRE julgou favorável seu pedido para que Witzel não exibisse o apoio de Flávio na propaganda. Isso basta para neutralizar o fenômeno eleitoral que vimos no primeiro turno?
Eduardo – Se vai neutralizar ou não, isso deixo com os analistas políticos porque não é a minha função. A minha obrigação é mostrar meus projetos, debater os problemas do Rio e revelar também as deficiências do meu adversário. O senador eleito Flávio Bolsonaro também teceu elogios a mim e está gravado em vídeo. Basta dar um Google que as pessoas vão achar na internet. Só que não preciso de bengala. Não preciso me escorar em um candidato para surfar no sucesso dele, como o meu adversário tem feito. Aliás, algo que foi dito pelo próprio Jair Bolsonaro que tratou de afastar toda a família de qualquer tipo de aproximação com o meu oponente.
Folha – Jair Bolsonaro teve quase 60% do voto fluminense a presidente. E, no dia 13, ele declarou sua neutralidade nas eleições a governador do Rio. Trabalhou nos bastidores para que isso acontecesse? Será o suficiente para dissociar o ex-juiz do ex-capitão diante do eleitor?
Eduardo – Conheço muito bem o Jair Bolsonaro, há muitos anos, conheço muito bem o Flávio Bolsonaro, conheço muito bem o Carlos Bolsonaro. Tive a honra de ser vereador com Rogéria Bolsonaro, mãe dos meninos. Ela trabalhou comigo na Prefeitura. Aliás, a meu convite. Tenho com eles a melhor relação. Mas a grande questão não é dissociar o meu adversário do Bolsonaro. A grande questão é contar a verdade para o eleitor, é mostrar a mentira inventada pelo meu oponente para surfar no sucesso da família Bolsonaro. Mentira que o próprio Bolsonaro tomou a iniciativa de desfazer.
Folha – Por outro lado, enquanto Witzel chegou a escrever o número 17 na palma das mãos, para pedir votos a Bolsonaro nos debates a governador, o senhor manteve sua neutralidade na eleição presidencial. Ela não o prejudicou nas urnas a governador? Por que mantê-la na disputa do segundo turno?
Eduardo – Mantive e mantenho a minha neutralidade por uma questão muito simples e que já falei aqui: no dia 1º de janeiro de 2019 quem vai sentar na cadeira de governador no Palácio Guanabara não será o Bolsonaro ou o Haddad. Então, tenho de discutir os problemas do Rio, tenho de debater e mostrar que tenho condições de administrar e conduzir esse Estado à posição de destaque que ele merece. Por isso, não nos cabe nos esconder atrás de candidato a presidente da República. Temos é que mostrar nossas propostas, mostrar quem somos e mostrar o que fizemos para o eleitor.
Folha – No último dia 4, seu ex-secretário de Obras Alexandre Pinto o acusou na Lava Jato de participar do esquema de desvio de recursos de grandes obras, quando era prefeito do Rio. Sua resposta foi dizer que as acusações são mentirosas e confrontariam depoimentos anteriores do ex-secretário, embora ex-executivos da Odebrecht citados tenham confirmado repasse de dinheiro de caixa dois ao senhor. Em quem acreditar? E por quê?
Eduardo – As acusações do ladrão confesso Alexandre Pinto são totalmente mentirosas e confrontam com os seus próprios depoimentos anteriores, quando nunca mencionou qualquer envolvimento meu com irregularidades. E os próprios dirigentes da Odebrecht, que depuseram na Lava Jato, sempre negaram que eu tivesse recebido propina ou vantagem pessoal. O mesmo fizeram os dirigentes de todas as outras empreiteiras investigadas na Lava Jato. Basta ouvir os depoimentos, que desmentem, enfaticamente, qualquer tipo de benefício a mim. Agora o réu Alexandre Pinto, ladrão confesso, disse que ouviu falar que eu recebia propina sobre obras. Uma declaração, no mínimo, curiosa, principalmente, porque não apresentou nenhuma prova. E quem teria dito a ele que eu recebia propina, o Leandro Azevedo, também em depoimento disse que comigo não tinha qualquer possibilidade de negociação de propina.
Folha – À parte o crescimento de Witzel, acredita que o depoimento de Alexandre Pinto, três dias antes do primeiro tuno, tenha contribuído para que o senhor tivesse um desempenho nas urnas bem abaixo do projetado nas pesquisas?
Eduardo – Esse tipo de análise deixo para os analistas políticos. Não cabe a mim comentar.
Folha – Em entrevista à Folha, publicada em 7 de setembro, perguntado se a candidatura dele a governador seria “uma tentativa de estender o braço da Lava Jato do Judiciário ao Executivo”, o ex-juiz federal Witzel respondeu: “certamente que sim”. O novo depoimento de Alexandre Pinto ao juiz federal Marcelo Bretas, apenas três dias antes das urnas, pode ser encarado como tentativa de interferir no pleito?
Eduardo – Eu jamais vou fazer esse tipo de ilação. Os juízes Bretas e o Moro são bem diferentes do ex-juiz Witzel. Eles estão enfrentando o crime. O Witzel pediu pra sair. Se mandou, quando era juiz no Espírito Santo, e pediu para ser transferido para uma Vara Fiscal no Rio. O meu adversário está sempre debaixo da asa de alguém. Como a única coisa que ele fez na vida foi a farra dos juízes em Comandatuba, ele não tem o que apresentar, ele fica querendo dizer que é Bolsonaro, Bretas, Moro. O Bretas e o Moro eu estou vendo enfrentar a criminalidade. O Bolsonaro está aí colocando suas questões e liderando as pesquisas. Ele (Witzel) não fez nada. Volto a dizer: a eleição sou eu e ele.
Folha – O fenômeno Jair Bolsonaro no primeiro turno foi muito além da eleição presidencial, provocando uma renovação poucas vezes vista no Congresso Nacional. No confronto direto contra um outsider, como não ser afetado pelo voto “contra tudo que aí está”?
Eduardo – O meu dever é mostrar aos eleitores que esse sujeito que se apresenta como um homem íntegro, dono da razão e como o candidato do “novo”, na realidade, é um sujeito que foge de bandido, que não paga um empréstimo feito pela sogra, que não paga IPTU, que recebe auxílio moradia tendo imóvel, que tem que tomar reprimenda da corregedora do TRF no Rio, que é empresário e não declara as suas empresas. Enfim, é um homem cheio de vícios e que, na verdade, é um lobo em pele de cordeiro.
Folha – O senhor já disse que, se eleito, pretende continuar contando com o auxílio das Forças Armadas na segurança pública do Estado. Mesmo com a intervenção federal, Campos teve 187 homicídios até 15 outubro (188, com mais um, no dia 19) mais que os 185 registrados durante todo o ano de 2017. Como mudar essa trágica realidade?
Eduardo – O Estado do Rio tem hoje cerca de 44 mil policiais e muitos deles não estão nas ruas. Parte do efetivo está afastada, cedida ou em atividades administrativas. É preciso remanejar pessoal, aumentar o efetivo que faz o patrulhamento das ruas para reduzir os indicadores de roubos e de homicídios. Queremos reduzir a violência nas ruas de forma significativa já no primeiro ano de governo, implantando um novo modelo operacional para o patrulhamento territorial. Vamos criar os Centros de Operações Policiais (C.O.P.) para integrar as atividades das forças de segurança, coordenando a vigilância nas ruas, o patrulhamento tático-ostensivo e as atividades de investigação criminal. Vamos instituir também a Força da Paz, uma força-tarefa de inteligência e operação integrada contra o Crime Organizado, com a participação da Polícia Civil, da Receita Federal e da Secretaria de Fazenda. O foco do trabalho é levantar e cruzar informações para asfixiar as fontes de financiamento do tráfico e da milícia. O maior investimento em inteligência vai nos permitir atuar de forma mais cirúrgica contra as organizações criminosas e, com isso, evitar esse número absurdo de tiroteios nas comunidades. Tem muito policial, morador, gente inocente morrendo. Quando se estabelece prioridades, você investe naquilo que é mais importante. O mais importante é devolver a paz à população. Por fim, quero dizer que, no meu governo, a segurança pública voltará a ficar sob a autoridade do governador. A intervenção acaba em dezembro, mas eu vou lutar para continuarmos contando com o apoio das Forças Armadas na segurança pública, sob o meu comando e com uma nova estratégia.
Folha – Desde o primeiro debate a governador, em 16 de setembro, seu adversário no segundo turno já falava em “abater” qualquer suspeito portando fuzil. Em 17 de setembro, o garçom Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, de 26 anos, foi morto a tiros por PMs no Chapéu Mangueira, que confundiram um guarda-chuva com fuzil. Como o senhor vê isso?
Eduardo – Esse é o tipo de declaração que mostra o total despreparo do meu adversário para ser governador do Estado. Como disse, precisamos aumentar o policiamento ostensivo mas trabalhar com inteligência e com as forças policiais integradas. Só assim vamos evitar esse número enorme e absurdo de policiais mortos em confronto com marginais e também a morte de inocentes.
Folha – Antes nanico, o PSL dos Bolsonaro elegeu a maior bancada da Alerj, com 13 das 70 cadeiras. A segunda maior bancada é da sua legenda, o DEM, com seis deputados. Seu antigo partido, o MDB, foi o que mais encolheu: de 15, para cinco, mesmo número do Psol. Como lidar com esse novo legislativo estadual, que se renovou em mais de 50%?
Eduardo – Sempre disse que ser um bom gestor é fundamental para ser um administrador e isso já comprovei que sou. Mas também é preciso capacidade política para fazer as coisas, capacidade de articulação, capacidade de liderança, é preciso saber liderar processos. E sendo governador, vou trabalhar em parceria com 92 prefeitos, novos deputados estaduais e senadores eleitos.
Folha – A eleição da nova Mesa Diretora da Alerj será só em fevereiro. Mas alguns nomes já se articulam à presidência, entre eles os deputados André Corrêa, do seu DEM, e Marcio Pacheco, do PSC de Witzel. É o segundo turno a governador que vai definir essa balança?
Eduardo – A Alerj é uma instituição independente e assim deve ser. E até por isso, acredito que o resultado das eleições não vai influenciar.
Folha – Pelo apoio do seu adversário a Bolsonaro, sua candidatura vem tendo adesão maciça da esquerda fluminense. Como recebe esse apoio?
Eduardo – Sempre disse desde o início em entrevistas e até no dia seguinte da eleição no primeiro turno, que esta é uma eleição de diálogo com a sociedade. Todo voto, adesão é bem-vindo. As pessoas votaram num holograma e estão descobrindo aos pouquinhos que meu adversário, quando teve a oportunidade de combater o crime, saiu correndo, amarelou, pediu para ir para uma vara de Fazenda Pública. O meu adversário recebeu auxílio moradia tendo casa própria e mesmo assim dá cano no IPTU. Meu adversário tem uma dívida com a ex-sogra de 86 anos de idade com Alzheimer. Meu adversário ensina seus colegas de classe a fazer maracutaias para manter benefício. Vejo um adversário que chegou a fazer uma maldade com os aposentados dizendo que se virem porque já ganharam a vida inteira, justamente quando as pessoas mais precisam de atenção. Estamos falando de um adversário que se refere às pessoas das comunidades, das favelas do Rio como se fossem todos criminosos, mostrando seu preconceito. Alguém que tem um grau de autoritarismo enorme, que não aceita o debate. O contraditório. Ele chegou a me ameaçar. Aliás, mostrando também o seu desconhecimento jurídico. Porque não cabe voz de prisão em flagrante em caso de injúria. É alguém que se dizia o candidato do Bolsonaro e o Bolsonaro parece não saber direito de quem se trata.
Folha – Seu candidato a vice-governador, Comte Bittencourt (PPS), é aliado de primeira hora do prefeito de Campos, Rafael Diniz (PPS). Ainda assim, 38,63% do eleitorado campista votaram em Witzel no primeiro turno a governador. Foi mais que a soma de Romário (18,77%) e sua (16,27%). É possível reverter isso na cidade que, em entrevista à Folha, o senhor chamou de “segunda capital do Estado”? Como?
Eduardo – Fazendo o que tenho feito todos os dias desde o resultado do primeiro turno: trabalhando na busca pelo voto dos eleitores, mostrando as minhas propostas e revelando o engodo que é o meu adversário. E eu tenho a certeza que a população, após conhecer o passado nebuloso, misterioso do meu oponente, vai refletir e concluir que ele não é a melhor opção para o Estado do Rio.

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