Aldir Sales e Suzy Monteiro
19/10/2018 22:56 - Atualizado em 22/10/2018 15:00
Depois de surpreender e ser o mais votado no primeiro turno com mais do que o dobro dos votos de Eduardo Paes (DEM), o ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC) lidera as pesquisas no segundo turno e critica o adversário, a quem acusa de espalhar fake news. Mesmo sem receber o apoio formal do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o candidato do PSC diz que sua relação com a família do candidato ao Palácio do Planalto continua a mesma de antes. Filmado ao lado de candidatos a deputado que quebraram uma placa em homenagem a vereadora carioca Marielle Franco (Psol), assassinada em março, Witzel falou que foi surpreendido pelo gesto e reafirmou que irá, caso eleito, combater a criminalidade com rigor. O ex-magistrado também falou em diversificar a economia no interior, investir na recuperação de rodovias e no turismo.
Folha da Manhã – O senhor estava no palanque, ao lado dos candidatos do PSL, Rodrigo Amorim e Daniel Silveira — eleitos, respectivamente, deputados estadual e federal — que destruíram uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL). Como o senhor viu aquele ato e por que não se manifestou diretamente sobre o assunto, nem na hora nem depois?
Wilson Witzel – Eu discursava sobre minhas propostas de governo em um ato de campanha em Petrópolis quando a placa foi quebrada por outro candidato. Fui surpreendido com o gesto. Reitero o que já declarei outras vezes: lamento a morte de Marielle Franco e de qualquer ser humano em circunstâncias criminosas; as investigações de homicídio devem ser conduzidas com rigor. Assim será feito caso eu seja eleito, inclusive com a minha atuação pessoal nas investigações, dando respostas efetivas à sociedade.
Folha – O senhor tem afirmado que as investigações de homicídio devem ser conduzidas com rigor, e, assim, será feito caso seja eleito, seja qual for o caso. No caso específico da vereadora Marielle, esta investigação não poderia ser uma das prioridades, até para que casos semelhantes não aconteçam?
Witzel – Será uma das minhas prioridades, juntamente com outros crimes bárbaros, e sempre com absoluto rigor.
Folha – O súbito crescimento do senhor na reta final do segundo turno é creditado ao seu alinhamento com a família Bolsonaro. Porém, o líder deles, o candidato à presidência Jair Bolsonaro, descartou uma aliança com o senhor. E ainda acrescentou: “O juiz colou no Flávio. É onde ele cresceu. Os candidatos, cada um tinha seu calcanhar de Aquiles. Mas eu orientei a garotada, no segundo turno, a ficar neutro”. Como o senhor viu esta decisão?
Witzel – Meu alinhamento continua igual e a postura de ambos para comigo continua a mesma de antes. Fico muito grato pelas caminhadas em conjunto. Nesta semana a bancada eleita do PSL (Partido Social Liberal) declarou apoio unânime à minha candidatura. Com fé em Deus, vamos dar um novo rumo ao estado do Rio de Janeiro a partir de 2019.
Folha – O senhor ameaçou dar voz de prisão a Eduardo Paes, o que foi bastante contestado por juristas. O senhor acha que “passou da conta” neste episódio?
Witzel – O que eu disse, diante de tantas fake news das quais venho sendo vítima, é que é difícil manter a calma. Essa é a campanha mais suja que já acompanhei, praticada pelo meu adversário. No mais, percebi que não faz sentido eu me indispor se esse cidadão está investigado em tantos crimes de maior periculosidade e provavelmente terá de pagar por esses atos.
Folha – O senador Romário (Podemos) o chamou de “frouxo” em um debate. Anthony Garotinho (PRP) de “mentiroso”. Não caberia voz de prisão nestas ocasiões?
Witzel – Quando juiz federal, desbaratei e condenei uma das maiores quadrilhas do crime organizado do Espírito Santo. Não parece ser a conduta de um frouxo ou mentiroso.
Folha – Recentemente foi divulgado um vídeo onde o senhor ensina um “jeitinho para receber gratificação de R$ 4 mil”. O senhor disse que a gratificação está na lei, portanto é moral. Na verdade, ela não seria apenas legal?
Witzel – Todos os auxílios a que os juízes têm direito estão previstos na lei. Ali naquele vídeo, e não tem nada de escondido nisso, era uma palestra, eu mostrei como os juízes podem trabalhar mais para ganhar “horas extras”, mas por fazerem o dobro do que seria o seu trabalho normal. Então, o importante é que fique bem claro o seguinte: esse acúmulo não gera prejuízo para o Estado. É o contrário, gera uma economia. Por quê? Porque pelas horas trabalhadas a mais um mesmo juiz faz com 4 mil reais de gratificação o trabalho que teria que ser feito com a contratação de outro, que custaria mais de 25 mil aos cofres públicos. É simples. Assim como é simples de entender o que gerou e gera prejuízos enormes para o Estado: a roubalheira, os bilhões roubados pela turma do Cabral, da qual o meu adversário fez e faz parte.
Folha – Dentro de suas ações para a Segurança Pública, caso eleito, o senhor prometeu abater bandido portando fuzil. No dia 17 de setembro, o garçom Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, de 26 anos, foi morto a tiros por PMs no Chapéu Mangueira, que confundiram um guarda-chuva com fuzil. Como viu isso?
Witzel – O que precisamos fazer nas polícias é investir em tecnologia e em treinamento, mas hoje há falta de dinheiro para o policial ter o seu treinamento. Nós sabemos do esforço de cada policial, de cada batalhão, para fazer o melhor trabalho possível. Mas os problemas são muitos. Falta de treinamento ideal, a escala é muito difícil, a questão do RAS compulsório. No meu governo os policiais terão treinamento e respaldo para defenderem a sua própria vida e a da população.
Folha – No seu programa de governo, o senhor fala em executar todos os projetos parados no Estado com dinheiro de investidores. Para isso, não descarta aumento da cobrança de pedágios. Mais taxas em um Estado que luta para sair da crise?
Witzel – Acho que houve um engano aqui. Pedágio não é taxa ou tributo. Pedágio é preço público para uso de determinado produto ou serviço. E eu não falei em aumento de pedágio. Pelo contrário, com as Parcerias Público-Privadas, as PPPs, de contratos mais longos que os atuais, a tendência são os pedágios serem até mais baixos, pois o concessionário tem mais tempo para recuperar o investimento e não precisa cobrar pedágios caros.
Folha – O senhor fala na criação de um conselho superior de administração do estado para apurar todos os desvios funcionais. Também haveria testes de integridade no governo. Como funcionaria?
Witzel – Nós vamos fazer com que as instituições de controladoria e corregedoria recebam reforço e apliquem um manual de conduta dos servidores públicos e um disque-corrupção. Nesse manual estarão algumas medidas de combate à corrupção estabelecidos pelo MPF como o teste de integridade e a análise de patrimônio para verificação de enriquecimento ilícito. Estas medidas serão aplicadas a todos os servidores do estado, inclusive ao Governador.
Folha – O senhor tem criticado bastante as fake news, que também estão dominando as discussões sobre o cenário nacional. Como vê a atuação da Justiça Eleitoral nestes casos e como o Brasil poderia avançar no combate a essa modalidade de tentar enganar os eleitores?
Witzel – Não é meu papel como candidato, nesse momento, avaliar o papel da Justiça Eleitoral, mas lamento muito o modo sórdido como a campanha do meu adversário nesse segundo turno tem se portado na produção de notícias falsas.
Folha – Em entrevista à Folha em julho, o senhor disse que não via em nenhum dos outros concorrentes ao Governo do Estado a capacidade de resolver os problemas do Rio de Janeiro. O senhor já recebeu apoio de André Monteiro (PRTB), Indio da Costa (PSD) e Pedro Fernandes (PDT). O que espera agregar dos programas de governo deles?
Witzel – O que todos os candidatos que se aliaram a mim têm em comum é a vontade de tirar o Rio de Janeiro das mãos desse governo corrupto que vem degradando o estado há mais de uma década. Há uma afinidade programática. Os candidatos se posicionaram pelo plano de governo que mais se alinha com suas ideias de gestão e eventuais sugestões, se alinhadas com o espírito de mudança com responsabilidade administrativa e liberdade econômica, serão avaliadas e bem-vindas.
Folha – O PSL de Bolsonaro formou a maior bancada da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), mas já há nos bastidores um movimento dos grupos de oposição ao senhor para chegar à presidência da Casa. Como lidar com lideranças tão distintas dentro da Alerj sem o perigo de inviabilizar o governo?
Witzel – O relacionamento será o melhor possível. Tenho recebido apoio de muitos partidos como o PSL, PSD, PR, Podemos e de alguns deputados individualmente, são em torno de 35 deputados que já me procuraram. Tenho me reunido com prefeitos e vamos criar uma subsecretaria das cidades. Sobre a garantia da governabilidade, eu não tenho problemas partidários e não governarei para um partido e sim para a população do estado do Rio de Janeiro como um todo.
Folha – O que os eleitores que não votaram no senhor no primeiro turno e não votarem no segundo vão poder esperar de um eventual governo Witzel? Muitos grupos ligam sua aproximação com a família Bolsonaro com ressalvas, principalmente movimentos sociais ligados a mulheres, negros e LGBTs. O que essa parcela da população também pode esperar do senhor?
Witzel – Como disse, serei um governador para todos e não para alguns. Não acredito em políticas que tenham por objetivo separar a população em rótulos.
Folha – Em um debate centralizado na capital e entorno, o interior muitas vezes fica marginalizado nas campanhas, apesar da importância econômica para o Estado. O que o senhor propõe especificamente para as regiões fora dos grandes centros e como resolver problemas como crescimento da violência e falta de geração de empregos nestes locais?
Witzel – Vamos estimular o agronegócio e também diversificar as atividades econômicas do interior, de acordo com suas tendências e vocações naturais. Por exemplo, na região dos Lagos, o turismo e locação para produções cinematográficas serão estimuladas por meio da Turisrio.
Vamos atrair capital estrangeiro para fazer a reestruturação das estradas, inclusive a RJ 178, e assim possibilitar um melhor escoamento da produção agrícola, para melhorar o nosso PIB nessa área e não ficar tão dependente do petróleo. E no estado como um todo, vamos investir fortemente na mobilidade urbana para que os turistas que nos visitam possam conhecer o estado como um todo. Há muito o que se mostrar no Estado do Rio, não só a capital.