Os dois candidatos à Presidência da República que vão disputar o 2º turno, Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT, comentaram sobre agressões que têm ocorrido na campanha eleitoral. Ambos fizeram apelos contra a violência. Desde a votação de domingo (7), são muitos os relatos de violência relacionados à questão política. Um mestre de capoeira foi morto na Bahia, após afirmar que havia votado no petista. O suspeito é um apoiador de Bolsonaro.
Sobre o assassinato, o candidato do PSL afirmou: “Pô, cara! Foi lá pergunta essa invertida... quem tomou a facada fui eu, pô! O cara lá que tem uma camisa minha, comete lá um excesso. O que eu tenho a ver com isso? Eu lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso. Eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam”, disse o candidato, que levou uma facada dia 6 de setembro durante evento de campanha em Minas Gerais.
Bolsonaro voltou a tocar no assunto em uma rede social à noite. “Dispensamos voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim. A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores que tentam nos prejudicar”, escreveu. Em entrevista à Rádio CBN, ele disse que foi vítima daquilo que prega: “Sou vítima do que eu prego. Sou vítima daquilo que combato. Lamento e gostaria que não houvesse (os ataques), mas não posso me responsabiliza (pelos atos de apoiadores)”, reforçou.
Já o candidato do PT, Fernando Haddad, acusou nessa quinta-feira (11), em entrevista à Rádio CBN, o seu adversário de ter “uma vida dedicada à violência “. O presidenciável ainda acrescentou que, caso seja eleito, terá autonomia em relação ao ex-presidente Lula, seu padrinho político.
Sobre como os casos de violência pelo país decorrentes da disputa política poderiam ser combatidos, Haddad criticou o adversário.
— O problema é quando você tem uma vida dedicada à violência. Enaltece o estupro. Diz para uma deputada que não vai estuprá-la, porque ela não merece, diz que vai metralhar os petistas no Acre. Ele próprio não se controla e não controla as pessoas — afirmou Haddad, que esteve na CNBB e se queixou da ausência do adversário em debates.
Casos — Em vários pontos do Brasil têm ocorrido casos de violência. O mais marcante foi o assassinado de um mestre de capoeira em Salvador, com 12 facadas. Também já houve outros tipos de agressão, como atropelamento e socos.
06/10 — Na cidade de Maringá, Vera Lúcia Pedroso, de 53 anos, foi ferida em um ataque ao seu carro modelo Voyage. Ela dirigia durante uma carreata em apoio a Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência, quando um jovem numa moto emparelhou com o veículo e tentou tirar à força a bandeira que estava presa ao veículo. Ao tentar impedir, ela o vidro do retrovisor quebrou e ela ficou ferida na mão, levando quatro pontos.
06/10 — A jovem transexual de Belo Horizonte, Guilderth Andrade, 21 anos, relatou que es-tava esperando um ônibus em uma praça onde acontecia uma manifestação pró-Bolsonaro. Um rapaz colou um adesivo do candidato em seu peito: “Eu falei: ‘Não quero votar nele, você tem que ter respeito’, e tirei o adesivo.” De repente, sentiu um “tapão” nas costas. O rapaz havia colado outro adesivo. O homem deu, então, uma rasteira na jovem, que caiu.
07/10 — Em Natal (RN), uma médica que trabalha em um hospital público rasgou a receita de um paciente de 72 anos, após ele responder que votou em Haddad. O caso foi registrado na 7ª Delegacia de Polícia de Natal e confirmado pela própria médica, a infectologista Tereza Dantas, que disse ter se arrependido.
07/10 – Uma jornalista do Jornal do Commercio de Pernambuco foi agredida, teve braço e queixo cortados e foi ameaçada de estupro por dois homens em Recife. De acordo ela, que preferiu não ter seu nome revelado, dois homens atacaram no momento em que saiu do local de votação, por volta das 14h. Um deles vestia a camisa do candidato a presidente. A jornalista afirma ainda que a motivação do ataque foi por conta de sua profissão. O ataque parou quando um carro passou e buzinou, assustando os agressores.
07/10 – O jornalista Guilherme Daldin vestia uma camiseta com a imagem do ex-presidente Lula e estava acompanhado de amigos no centro de Curitiba, quando foi atropelado por um carro. A placa foi identificada e através dela foi possível encontrar o perfil do facebook do motorista que revela em suas postagens ódio e pedido de morte a quem apoia o PT. Ao fazer o Boletim de Ocorrências na delegacia, Guilherme Daldin conta que foi recebido por um escrivão com seu computador cheio de adesivos do candidato Bolsonaro.
07/10 — Irmã da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada em março, Anielle Franco contou em seu perfil no Facebook que foi xingada após o 1º turno por homens com camisetas de Bolsonaro quando estava com a filha de 2 anos na rua na última segunda. Ela relatou ameaças de morte após reagir, em rede social, à quebra da placa em homenagem à vereadora, negra, lésbica, feminista e nascida na Favela da Maré.
07/10 - O mestre de capoeira e compositor Romualdo Rosário da Costa, conhecido mundialmente como Moa do Katendê, 63 anos, foi morto com 12 facadas em Salvador, Bahia. O suspeito do crime, Paulo Sérgio Ferreira de Santana, reagiu com violência após ouvir o mestre de capoeira dizer que era eleitor do PT. Paulo foi em casa buscar uma faca e retornou ao bar, onde cometeu o crime. O suspeito está preso.
08/10 – Em Porto Alegre, uma jovem de 19 anos relata à Polícia que usava uma mochila com um adesivo com a bandeira LGBT e os dizeres “#elenão”, quando foi abordada e agredida por três homens. Os suspeitos teriam agredido a jovem com socos e marcado a barriga dela com riscos de canivete, em um desenho semelhante à suástica, símbolo nazista. Quarta-feira, dia 10, ela decidiu não prosseguir com a queixa.
09/10 — Um estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi agredido, no início da noite próximo à Reitoria da UFP, no Centro de Curitiba. De acordo com o Diretório Central de Estudantes (DCE), o jovem foi “brutalmente violentado” por quatro integrantes de uma torcida organizada da capital aos gritos de “Aqui é Bolsonaro!”. Os agressores também quebraram vidros da Casa da Estudante Universitária de Curitiba. De acordo com informações, os autores fugiram assim que pessoas saíram em defesa da vítima.
09/10 — Em São Paulo, a cozinheira e doula Luisa Alencar relatou que foi abordada por policiais na rua. Um deles a teria agredido e jogado no chão, dando uma rasteira: “Ele olhou para minha cara e falou assim: ‘Ele não? Você acha gostoso? Não era isso que você queria? Eu só tiro você daí se você falar ‘ele sim’”, relatou.
Bolsonaro não vai a debate, mas participa de ato público
O candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, não irá participar de debates, mas não apenas por recomendação médica. Ele admitiu nessa quinta-feira (11) que a decisão também é estratégica: “Existe a possibilidade sim estratégica (de não ir a debate)”, afirmou durante uma coletiva de imprensa. Bolsonaro não participaria de debates e de agendas públicas de campanha até o dia 18 por recomendações médicas. Nessa quinta, porém, ele participou de ato público no Rio com eleitos pelo PSC e aliados.
Estavam programados um debate nesta quinta-feira, na TV Bandeirantes, domingo (14), na TV Gazeta e na segunda-feira (15), no SBT. Todos foram cancelados pelos organizadores. Outros debates ainda estão marcados.
Bolsonaro também provocou o adversário. “O Haddad fica me desafiando: quero que você diga o que fez por 28 anos no Parlamento. Vou responder agora: não roubei ninguém, Haddad”, disse. E emendou: “como presidente, você aceitaria que o crime organizado continuas-se sendo comandado de dentro dos presídios?”.
Definição — O PSC decidiu apoiar a candidatura de Bolsonaro no segundo turno. A decisão foi tomada por unanimidade em reunião da executiva nacional do partido.
Em nota, o PSC afirmou que defende ideias liberais na economia e conservadoras nos costumes: “O PSC, um partido que defende bandeiras liberais na economia e conservadoras nos costumes, tem certeza de que as propostas do candidato do PSL são as melhores para o Brasil”, apontou o partido na nota, acrescentando que o apoio se reflete, também, nos estados.
Ciro frusta planos do PT, que tenta Frente Democrática
Terceiro colocado na disputa presidencial, Ciro Gomes (PDT) viajou para a Europa e só retorna na próxima semana. A viagem frustra os planos do PT, que gostaria de contar com a sua parti-cipação ativa na campanha de Fernando Haddad no segundo turno contra Jair Bolsonaro imediatamente.
Segundo informações, Ciro planeja voltar ao Brasil somente na metade da semana que vem, quando faltarão cerca de 10 dias para a eleição. A ausência do pedetista do país nos próximos dias prejudica, pelo menos num primeiro momento, a estratégia de dar um caráter de “frente democrática” à candidatura de Haddad na etapa final da eleição.
Para destacar que o presidenciável não representa apenas o PT, o logo da campanha foi trocado, dando destaque para as cores da bandeira brasileira. O vermelho do primeiro turno foi reduzido, e o slogan da candidatura passou a ser “O Brasil para Todos”.
A Rede de Marina Silva anunciou que não apoia nenhum dos dois candidatos que chegaram ao segundo turno nas eleições presidenciais, mas disseram que o eleitor não deve apoiar Jair Bolsonaro. Marina disse que há problemas éticos tanto do lado do PT de Fernando Haddad quanto do lado do militar.
O presidente do MDB, senador Romero Jucá, anunciou que a maioria do partido optou pela neutralidade no segundo turno das eleições presidenciais. Após conversar com toda a Executiva da legenda e com o presidente Michel Temer, Jucá disse que o partido vai ficar “independente”.