Aldir Sales
08/10/2018 01:12 - Atualizado em 09/10/2018 15:32
A polarização política brasileira, resumida no confronto entre o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), enfim, saiu do campo das pesquisas e tensões nas redes sociais para se concretizar através das urnas no último ato antes da escolha do novo presidente da República: o segundo turno das eleições gerais. O expressivo desempenho de Bolsonaro, com 46,05% dos votos válidos, confirmou a sondagem de boca de urna do Ibope após o encerramento da votação e o deixou a menos de 5% de uma vitória antecipada. No entanto, a partir de agora, até o dia 28 de outubro, quando os brasileiros decidirão em definitivo quem sucederá o presidente Michel Temer (MDB), o grande desafio das duas campanhas será elevar o nível do debate em meio às tensões entre direita e esquerda para convencer os outros mais de 36,7 milhões de eleitores que não escolheu nenhum nos dois.
Em recuperação de um atentado a facada no início do mês passado em Juiz de Fora, Minas Gerais, o candidato do PSL não foi aos últimos debates do primeiro turno por recomendação médica e, enquanto isso, Fernando Haddad se tornou o grande alvo dos adversários na reta final. Com a imagem desgastada pela proximidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso e condenado por corrupção passiva no caso do triplex do Guarujá, em São Paulo, Haddad obteve 31,3 milhões de votos, um total de 29,25% e conseguiu se garantir no segundo turno, porém, com tendência de estagnação nas últimas pesquisas realizadas antes de ontem, enquanto o adversário apresentava curva ascendente nos levantamentos.
Após a confirmação do confronto no segundo turno, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais ao lado de seu consultor financeiro, Paulo Guedes, e colocou em dúvida novamente a autenticidade do resultado. “Temos de acreditar no nosso Brasil. Não podemos nos recolher. Faltam três semanas (...). Vamos juntos ao TSE para exigir soluções para isto que aconteceu agora. Não foi pouca coisa. Foi muita coisa. Se nós tivéssemos confiança nas urnas eletrônicas, já teríamos o nome do futuro candidato à presidência da República definido hoje”.
Do outro lado, em busca de apoio, o petista afirmou já ter conversado por telefone com os candidatos derrotados Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL) e Marina Silva (Rede). “Tenho muita consideração por todos e a ideia é manter o diálogo aberto”, disse Haddad, que também falou sobre perigo ao pacto Constituinte de 1988. “Esta eleição coloca muita coisa em jogo. O próprio pacto da Constituinte de 1988 está em jogo em função das ameaças que sofre quase diariamente”, em referência aos posicionamentos do rival.
O resultado do primeiro turno também escancarou a divisão política e geográfica do país em torno das duas candidaturas. Com exceção do Ceará, onde Ciro Gomes obteve a maioria dos votos, nos demais estados, o mapa demonstra o racha entre o Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que abraçaram o bolsonarismo, contra o Norte e, principalmente o Nordeste, que foram os grandes berços eleitorais de Haddad. Esta constatação só reforça a responsabilidade do próprio presidente de buscar a pacificação do país.
Ciro não consegue furar Fla x Flu e fica em terceiro
Tentado furar a polarização entre Bolsonaro e Haddad, Ciro Gomes se consolidou como terceira força da eleição, conseguindo se distanciar de Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede). O cearense foi o único fora dos dois primeiros que conseguiu ser mais votado em um estado, justamente na sua terra natal, onde também teve a reeleição do seu aliado, o governador Camilo Santana (PT).
O pedetista obteve a confiança de 13,3 milhões de brasileiros, 12,47% dos votos válidos, valor bem superior a de Alckmin, com 4,76%; João Amoêdo (Novo), com 2,5%; Cabo Daciolo (Patri), com 1,26%; Henrique Meirelles (MDB), com 1,2%; e a própria Marina, que terminou com 1% dos votos e vieram na sequência.