O cantor e compositor Charles Aznavour, chamado de “o último gigante da música francesa do século XX”, morreu na madrugada desta segunda-feira (1º), aos 94 anos. Ele, que também era chamado carinhosamente por mídia e fãs de “Frank Sinatra francês” e “gigante da música francesa”, estava em sua casa na região do Alpilles, sul da França, após voltar de uma turnê no Japão. Entre diversos feitos, ganhou uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, em 2017. Ele deixa seis filhos.
Aznavour teve uma carreira de mais de 80 anos de sucesso, com cerca de 1.300 músicas escritas, em várias línguas, e mais de 180 milhões de discos vendidos. O cantor é conhecido por diversas canções, dentre elas “She” — originalmente chamada de “Tous les Visages de L’amour”, mas que ganhou versão em inglês que chegou ao topo nas mais ouvidas na Inglaterra, tendo, ainda sido eternizada no filme “Um Lugar Chamado Notting Hill” (“Notting Hill”, 1999), com versão de Elvis Costello —,“La Bohème”, “La Mamma” e “Emmenez-moi”.
Como compositor, criou músicas para artistas como a também francesa Edith Piaf, que o conheceu em 1946 e o levou para uma turnê pela França e pelos Estados Unidos, ao lado do pianista Pierre Roche. Mais tarde, Aznavour se tornou empresário de Piaf.
Estava com a carreira ativa, já que em sua agenda havia shows marcados até junho de 2018 em países como Ucrânia, Bélgica e Israel. Durante sua vida artística, se apresentou em diversos países, inclusive no Brasil, em março de 2017 (Rio e São Paulo). Também esteve em terras verde-amarelas em 2008, passando por cidades como Recife, Fortaleza e Goiás, além de Rio de Janeiro e São Paulo.
Charles, nascido em 22 de maio de 1924, com o nome Shahnour Varinag Aznavourian, em Paris, era filho de pais armênios. Aos 9 anos, já estava atuando no palco. Para o nome artístico, resolveu reduzir Aznavourian para Aznavour. Além de músico, também trabalhou como ator em mais de 60 filmes. Protagonizou obras como “O Último dos Dez” (“Ein Unbekannter Rechnet Ab”, 1974) e esteve em outras obras como “O Tambor” (“Die Blechtrommel”, 1979), vencedor do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira; “E Não Sobrou Nenhum” (“Ten Little Indians”, 1974), inspirado no livro “O Caso dos Dez Negrinhos”, de Agatha Christie; e “Up — Altas Aventuras” (“Up”, 2009), dando voz ao protagonista da animação.
Também atuou no teatro, com vários sucessos, a exemplo: “Les Comédiens”, “Hier Encore” e “Il Faut Savoir”. Dividiu palco com vários artistas de sucesso, entre eles a atriz e cantora Liza Minnelli.
Com 1,65m de altura, Aznavourian chegou a ter o talento contestado quando era mais novo. Ele ouvia que era muito baixinho, feio e que não poderia cantar. Poucos anos depois, já era conhecido mundialmente pelas suas músicas, tendo fãs de todas as idades e classes sociais.
Também lutou por causas sociais. Em 1998, por exemplo, liderou os esforços humanitários para ajudar as milhares de vítimas do terremoto que devastou a Armênia. Durante anos, ainda militou pelo reconhecimento do genocídio armênio por parte dos turcos. À história de seus pais e de milhões de outros armênios, ele dedicou a canção “Lhes Émigrants” (Os imigrantes, em tradução livre).
Em “D’une Porte L’autre” (2011), um de seus livros, Charles Aznavour falou sobre a importância que seus discos tinham para ele. Ainda relatou:
— Se algo que faça parte de mim ou do meu trabalho deve perdurar são os meus discos. Eles serão amplamente suficientes — escreveu.
Em entrevistas, falava sempre que escrevia músicas com muita frequência e sobre diversas situações.
— Tudo me inspira, como a televisão, o rádio, os livros, a rua. Componho até quando converso com as pessoas, e faço isso em várias partes do mundo, já que falo várias línguas. Escrever uma canção é algo que não é fácil, mas fui evoluindo ao longo dos anos. Já escrevi sobre várias coisas. Inclusive, há uma (música) que fala sobre o holocausto. Mas é uma canção de amor. E sabem por quê? Porque teve um dia em que encontrei uma pessoa que havia conhecido a sua esposa em um campo de concentração. Daí surgiu esta música. Escrevo sobre diversas coisas — disse Aznavour ao jornal online suíço Swissinfo em 2011.
Angela Maria — O mundo da música também teve a perda da cantora brasileira Angela Maria, considerada uma das “rainhas do rádio”. Ela morreu no sábado (29), aos 89, em São Paulo. O enterro aconteceu no domingo (30), também na capital paulista. (J.H.R.) (A.N.)