Verônica Nascimento
31/10/2018 09:11 - Atualizado em 01/11/2018 14:36
Alunos da Faculdade de Medicina de Campos (FMC) não foram às aulas nesta quarta-feira (31). Eles fizeram uma manifestação em protesto a um reajuste de 4,2% na mensalidade durante toda a manhã. Sem interferir no trânsito, cantando, usando batuques e nariz de palhaço, eles estenderam faixas e mostraram cartazes a motoristas e pedestres, ocupando os sinais da esquina da rua Voluntários da Pátria com a avenida Alberto Torres, contestando o aumento de R$ 7,8 mil para R$ 8.155, que teria sido anunciado na última segunda-feira (29) e que já passou a vigorar nesta quarta. Os alunos questionam a aplicação do dinheiro e aguardam uma prestação de contas da Fundação Benedito Pereira Nunes, à qual a FMC integra.
O ato ficou concentrado em frente à FMC. Alunos iam para as ruas quando o sinal fechava, em um protesto organizado, com direito até a coreografia e fogos. As palavras de ordem foram “Não vai ter aumento” e “Tá de covardia, educação não é mercadoria”. Em cartazes, alunos criticavam a qualidade do ensino e afirmavam que mais dinheiro não fará deles melhores médicos. Durante toda a manifestação, gritavam para a direção da instituição: “cadê o meu dinheiro?”.
— Aumentam nossa mensalidade anualmente, sem sequer dar uma explicação. A gente pede prestação de contas desde 2015 e nada. Passam uns relatórios que não esclarecem a necessidade de aumento. Esse protesto partiu dos estudantes, que queriam fazer greve. O diretório interviu e conseguiu uma paralisação, para conversarmos com a direção, já que não houve tempo hábil para negociação, porque o aumento foi informado na segunda, e já publicado hoje (quarta-feira). Aumentaram a mensalidade de R$ 7.800 para R$ 8.155. Muita gente vai desistir, já desistiu. Estamos protestando porque queremos clareza e transparência da direção da faculdade e da Fundação — esclareceu a presidente do Diretório Acadêmico, Julia Fagundes Teixeira.
Alunos protestaram em frente à FMC
Alunos protestaram em frente à FMC
Alunos protestaram em frente à FMC
Alunos protestaram em frente à FMC
Manifestação de alunos de medicina (Foto: Verônica Nascimento)
Os manifestantes também distribuíram folhetos a motoristas, motociclistas e a todos que passavam pelo local. “Oito mil reais por mês? É verdade? Como esses meninos vão conseguir se formar?”, questionou Ana Lúcia Rodrigues, que parou no sinal, quando ia de bicicleta para o trabalho e viu a manifestação. A pergunta era a mesma da aluna do quarto período de Medicina, Annelise Leal Pimentel: “Trabalho para pagar a faculdade, sou professora na rede municipal de Campos e São João da Barra. Esse aumento é abusivo e não nos dizem para onde está indo esse dinheiro. Se prevalecer esse aumento, como vou custear meus estudos?”, declarou.
— Não sabemos para que o aumento. Tem pessoas dizendo que é para uma coisa ou outra, mas não temos informações sobre isso, a direção nos passa informações soltas e é por isso que queremos a prestação de contas agora. Transparência já – complementou o vice-presidente do diretório, Pedro Henriques Torres.
A Folha tentou ouvir, durante a manifestação, a direção da Faculdade de Medicina e da Fundação Benedito Pereira Nunes e foi informada que o presidente da FBPN, Márcio Sidney Pessanha, não estava em Campos, mas que o diretor da FMC, Edilbert Peregrinni, recebeu uma comissão de alunos e representantes do Diretório Acadêmico, em uma reunião nesta tarde. Por meio de nota, a Fundação respondeu que “a proposta orçamentária para o próximo ano foi elaborada levando em consideração a necessidade de cobrir os custos operacionais e prover recursos para os investimentos necessários às exigências do MEC e aprimoramento do ensino, em benefício exclusivo dos estudantes.
O índice definido foi 4,52%, compatível com a inflação do período e com os demais índices praticados pelo mercado.
É equivocado considerar que, por tratar-se de uma instituição jurídica de direito privado, de domínio público, sem fins lucrativos (filantrópica) pode a mesma conceder liberalidades de qualquer natureza, além daquelas previstas nos seus Estatutos e nas normas legais que disciplinam o setor”, disse.
A nota ainda ressalta que “a Fundação Benedito Pereira Nunes e suas mantidas: Faculdade Medicina de Campos e Hospital Escola Álvaro Alvim, são auditadas e prestam conta regularmente de seus atos administrativos à Curadoria das Fundações do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro”.