Durante operação conjunta das polícias Civil, Militar e do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deflagrada na manhã dessa terça-feira (16), em Campos, o delegado da 146ª Delegacia de Polícia (DP), de Guarus, Luís Maurício Armond, informou que o principal chefe do tráfico do Parque Eldorado, da facção Terceiro Comando Puro (TCP), ordenava, de dentro da prisão, execuções e extorsões a políticos. A operação Verde Oliva resultou na detenção de 28 pessoas, entre prisões e apreensões de menores, e um dos presos é o jogador de futebol Yuri de Carvalho da Silva, de 23 anos, atacante do Campos Atlético Associação. O objetivo foi cumprir 37 mandados de prisão temporária e 40 de busca e apreensão contra uma quadrilha suspeita de tráfico de drogas e homicídios ocorridos em Guarus.
De acordo com a representação encaminhada à Justiça, a investigação da quadrilha teve início após a morte do militar do exército Hugo Soares de Alvarenga, no dia 24 de junho deste ano. Com autorização da Justiça, a investigação contou com escutas telefônicas que verificaram que a vítima foi confundida com alguém de uma facção rival e morta a tiros. As escutas também revelaram que o grupo seria responsável por diversos homicídios a mando do líder Cassiano Soares da Silva Vicente, vulgo “Cotó”, que, mesmo preso na Penitenciária Carlos Tinoco da Fonseca, ordenaria mortes de inimigos de dentro do sistema prisional. Outro desses homicídios verificados foi o de Leonardo Felipe, um travesti conhecido por Paolla, segundo as investigações.
Além disso, segundo informações, “Cotó” também definiria quais candidatos poderiam fazer carreatas ou campanhas nas comunidades sob seu domínio e atuaria, ainda, pedindo votos a determinados políticos. O detento teria falado com a mãe que só o candidato dele poderia fazer campanha no Parque Eldorado.
Em um dos trechos das escutas telefônicas, divulgadas no RJ Inter TV 1ª edição dessa terça, o “Cotó” diz as seguintes palavras para um comparsa: “Esses ‘vereador’ aí não tem que entrar aí para o Eldorado pra fazer carreata não. Manda voltar tudo, viu? ‘Pó manda’ voltar. Se entrar vai morrer! Quero ninguém no Eldorado não. Vaza! Vaza por aqui não. Vaza por aqui pela Codin... mete o pé!”.
Em outra escuta telefônica, desta vez com uma mulher como interlocutora, “Cotó” afirma estar com um político e diz que as propostas dele são boas: “Então a proposta é ajudar ele e... pra ele ganhar. Falou que ia ajudar emprego, advogado, falou vinha aqui na cadeia conversar comigo aqui e falou que ele tendo ajuda aqui e ele ganhando dá um salário todo mês”.
Em relação ao jogador do Roxinho, Armond afirmou que “ele vendia drogas e transportava para guardar na casa do irmão, que também foi preso”. Yuri foi encontrado no Parque Eldorado. No terreno ao lado da casa do atleta, foi apreendida uma quantidade ainda não contabilizada de cocaína e maconha. O jogador é um dos artilheiros do Campos na Série B2 do Campeonato Estadual. Devido à prisão, Yuri desfalcará o Roxinho na reta final do torneio.
Outro preso na operação, este no Parque Imperial, foi um funcionário de uma empresa prestadora de serviços para a Petrobras, que atuava como armeiro e instrutor de tiros para o tráfico. O mandado foi o único cumprido em um bairro fora de Guarus. Entre os 28 detidos, há quatro mulheres.
Armond ressaltou que os presos estariam envolvidos diretamente em todos os homicídios praticados em Guarus, na área conhecida como “Faixa de Gaza”, desde a morte do soldado, tendo o tráfico de drogas como pano de fundo para os assassinatos. “Eles matam para traficar. As operações vão continuar. O foco da 146ª DP é combater os homicídios na região”, pontuou.
Varreduras em celas também foram feitas
Além de buscas e apreensões nas casas dos suspeitos, os agentes fizeram varreduras em celas do presídio Carlos Tinoco da Fonseca. Segundo Armond, todos os presos têm ligação com o Terceiro Comando Puro (TCP), e durante as investigações foram identificados quatro chefias desta facção no Eldorado. Além do principal chefe, o “Cotó”, que já estava preso e foi conduzido à 146ª DP, outro detento também foi levado à delegacia, pois os agentes encontraram celulares e chips dentro de sua cela. “Vamos fazer uma análise pericial deste material para ver o que a gente obtém”, falou Armond.
Ainda durante a operação, foram apreendidos dois revólveres, duas pistolas, uma espingarda de ar comprimido, ferramentas de limpeza de armamentos, munições, drogas, celulares, anotações do tráfico, veículos e aproximadamente de R$ 17 mil em dinheiro.
Concentrados em frente à 146ª DP durante quase todo o dia, familiares dos presos protestaram em alguns momentos. “Meu filho fez 20 anos no sábado e é trabalhador. Não é vagabundo, não. Ele estuda e trabalha. Até o patrão dele veio aqui tentar ajudar, mas não conseguiu falar com ninguém. Eles (os policiais) chegaram, quebraram o portão e prenderam meu filho. Têm de prender os vagabundos, e não quem não tem nada a ver com tudo isso”, disse a doméstica Adriana Cosmos, de 58 anos.
Operação mobilizou mais de 130 policiais
Ao todo, 140 policiais participaram da operação Verde Oliva, entre agentes das delegacias de Campos e região, que compõem a 6ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp); do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM); e do Gaeco. Foram utilizadas 50 viaturas. Quatro cães farejadores também auxiliaram nas buscas.
O Gaeco atua no combate ao crime organizado em Guarus desde a operação Integração, realizada em agosto, de forma conjunta com o Exército, Corpo de Bombeiros e as polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal. O promotor Sérgio Ricardo Fonseca explicou que a operação desmobilizou, por algum tempo, o tráfico na “Faixa de Gaza”, que abrange os Parques Bandeirantes, Eldorado, Nova Campos, Novo Eldorado, Prazeres, Santa Clara e Santa Rosa, além da Codin e de Custodópolis. A preocupação imediata é com a segurança dos moradores, ante a uma possível tentativa de ocupação da área pela facção rival. “A Polícia Militar já foi alertada quanto a isso e reforçará a segurança no local”, disse Sérgio Ricardo.
Armond seguiu a mesma linha do discurso: “Quando a gente fragiliza uma facção, existe a possibilidade de que a outra, no caso o ADA, tente invadir. Vamos continuar trabalhando para não permitir que isso aconteça”.