Jonatha Lilargem e Victor de Azevedo
13/10/2018 16:46 - Atualizado em 15/10/2018 13:26
A arte de lecionar às vezes passa por barreiras que independem do professor, que mesmo diante de limitações muitas vezes estruturais se desdobram para exercer o seu papel com maestria. Não é novidade para ninguém que a área da educação pública tem enfrentado dificuldades em todo o Brasil. A falta de investimento nesse setor atrapalha o aprendizado dos alunos que, dessa forma, passam por alguns problemas e acabam não conseguindo ter uma boa formação escolar, o que dificulta que eles consigam ingressar no mercado de trabalho. Diante dessa situação, ainda há esperança que o sistema de ensino melhore e prova disso é a iniciativa que o professor campista Bruno Bartolomeu do Nascimento, de 40 anos, teve para ajudar os estudantes: ele ensina o português, através da música. Com formação profissional no Centro Universitário Fluminense (Uniflu), o educador trabalha em dois colégios municipais de Campos: Carlos Chagas, na localidade de Jacarandá, e Pequeno Jornaleiro, na área central da cidade, sendo que esse último tem 34 alunos especiais que precisam de um atendimento diferenciado e assim, eles conseguem se sentir mais à vontade.
Orgulho das instituições em que leciona, Bruno, que também é cantor e dançarino, trabalha com esse método há alguns anos e é sucesso entre os estudantes. Ele também divulga vídeos em salas de aula durante o ensino de jeito divertido, e as publicações ganharam grande repercussão e foram compartilhadas várias vezes. A motivação do educador para ensinar dessa forma divertida foi de ajudar os alunos na aprendizagem do conteúdo ensinado pelos educadores. “Foram as dificuldades do dia a dia dos professores para chamar a atenção dos alunos que me motivaram a atuar desse jeito. Como hoje em dia temos a internet e o celular, tudo pode ser considerado mais interessante do que a aula. Eu trabalho com a gramática e, então, comecei a pesquisar meios para deixar a aula mais dinâmica e agradável. Procurei não ser aquele professor que fica falando na frente dos alunos como se fosse o dono da verdade, mas como sou músico comecei a escrever músicas para ajudar eles. Fiz as paródias no estilo de funk, já que é muito ouvido pela garotada”, afirmou.
Bruno Bartolomeu leciona português para mais de 600
Método usado por Bartolomeu é elogiado
Bruno também falou sobre como essa forma de ensino têm ajudado os alunos no rendimento escolar. “Eu dou aula não só para crianças e adolescentes, mas também para adultos que cursam o Ensino Superior e que se preparam para concursos. Desde que comecei a ensinar assim, a nota deles têm aumentado bastante e a taxa de aprovação também cresceu. A gente acaba despertando no aluno, potencialidades que ele mesmo acaba desconhecendo. Na sala de aula, geralmente nós usamos para estudar e não para se divertir, mas a diversão aproxima as pessoas e, assim, elas passam a ficar mais interessadas. Eu penso que a arte é muito importante para o crescimento de cada cidadão já que ela desperta sensibilidade. Muitos dos meus alunos não gostam de ir à escola, mas esse jeito pode motivá-los a passar a frequentar mais o colégio”, contou.
Método aprovado e elogiado pela direção
O professor tem mais de 600 alunos e leciona há pouco mais de 11 anos. Muito elogiado e conhecido em Campos, ele pretende continuar com as atividades. A diretoria de uma das instituições em que o profissional trabalha, gostou muito da ideia.
Cristiane Almeida, vice-diretora da Escola Municipal Pequeno Jornaleiro, disse que não esperava que iria ter um professor que atuasse desse tipo e que aprova o método. “Não esperava que fosse surgir essa iniciativa de um professor. Eu achei bem interessante essa maneira porque geralmente os alunos são muito dispersos e com essa atividade dele, Bruno consegue manter os alunos na sala. Isso faz com que eles estejam mais interessados em vir para as aulas na nossa instituição. Temos alguns alunos que têm muita dificuldade e que nunca viram isso antes”, comentou.
Bruno se preocupa com o futuro dos alunos e usa a música para ensinar como algumas palavras devem ser escritas, além de utilizá-la para realizar outros ensinamentos voltados à Língua Portuguesa. Além de misturar o ensinamento com o funk, ele também utiliza canções sertanejas para se expressar diante dos estudantes. Em menos de 24 horas, um vídeo publicado no último dia 5 em uma rede social do educador já teve mais de sete mil visualizações.
Sepe luta por mais valorização profissional
Embora o professor lute por melhorias, o cenário atual para eles não é nada animador no país. A falta de valorização profissional aliada ao desrespeito com a figura do educador em sala de aula reduz os motivos de comemoração em homenagem ao dia do professor. Recentemente, profissionais foram agredidos em salas de aula, externando a preocupação de toda comunidade escolar.
Para a secretária de imprensa do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe) em Campos, Graciete Santana, a atual situação do professor é um problema a ser resolvido por toda sociedade. “A nossa luta é calçada na valorização profissional e hoje, infelizmente, os professores tem sido alvo de agressões. Na verdade, isso tudo começa pela forma em que o Poder Público trata o professor que é o responsável pela formação de milhares e milhares de cidadãos. Continuamos na luta e precisamos de todo mundo junto porque a educação não é um problema só do professor e sim de toda sociedade”, ressaltou.
Dois casos recentes de agressões sofridas por docentes ocorreram na Região dos Lagos. No último mês, o professor Thiago dos Santos Conceição, de 31 anos, foi humilhado por um estudante do nono ano do ensino fundamental, no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Municipal Mestre Marçal, em Rio das Ostras. Logo depois, uma professora do Ensino Fundamental II foi agredida por uma mãe de aluna na Escola Municipal Professora Talita Hernandes Perelló, em Cabo Frio.
Secretaria falou sobre ações em prol da categoria
Em nota, a Prefeitura de Campos ressaltou várias medidas adotadas no intuito de valorizar os professores da rede municipal.
Segundo a nota, a secretaria de Educação, Cultura e Esporte realizou uma série de ações e projetos em prol dos professores da rede municipal são eles: concurso de remoção, que não acontecia desde 2013; capacitações em todos os horários, incluindo o noturno; implementou a lei do cumprimento de 1/3 da carga horária para atividades de planejamento; flexibilizou o horário de planejamento; deu aos professores a possibilidade de participar da escolha do livro didático; criou um novo sistema de avaliação, acabando com a política de aprovação automática; deu regência aos professores de sala de recursos; entre outros feitos.