Crítica de cinema - Quarenta anos depois
29/10/2018 18:40 - Atualizado em 03/11/2018 14:37
Divulgação
(Halloween: o regresso do mal) —
Em 1963, ocorreu um crime bastante insólito: Michael Myers, com seis anos de idade, matou a irmã jovem a facadas. O menino foi internado num sanatório até 1978, quando fugiu. Durante 15 anos, ele foi observado por seu médico. Myers não abria a boca para falar. Sua fisionomia era impassível. Seus olhos pareciam vazios, expressando o mal absoluto. Com 21 anos, ele fugiu e continuou sua carreira de assassinatos frios. Como Jason Voorhees, Myers se identificou com uma máscara.
Esta história não é verdadeira. Ela foi criada pelo genial cineasta John Carpenter, que a apresentou no filme “Halloween — A noite do terror”, para o qual ele mesmo compôs a trilha sonora. Trata-se de música minimalista que contribui para aumentar o clima de suspense. Assistindo novamente esse filme de 1978, conclui-se que Myers não foi tão mal. Ele matou apenas três pessoas e um cachorro. Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) sobreviveu a ele e se preparou para enfrentá-lo durante quarenta anos.
Depois de várias refilmagens e episódios envolvendo o psicopata supremo, eis que ele volta a assombrar. Passando esse tempo todo numa clínica psiquiatra aos cuidados de médicos, ele consegue escapar. Myers foi diagnosticado como algo, não como alguém. Os pareceres concluem que ele se resume a uma máquina de matar, sem qualquer emoção ou reflexão. É apenas puro instinto. Mas ele sabe dirigir automóveis, planeja todos os seus ataques com precisão e também erra.
Cinema
Cinema
Agora sob direção de David Gordon Green, que assina o roteiro com Danny McBride, estamos diante de um assassino com 61 anos de idade. Mais maduro, ele impressiona por sua impassibilidade logo no início do filme, ao ser entrevistado por dois jornalistas que serão trucidados logo depois por suas mãos ainda fortes e implacáveis. Agora, Myers se mostra mais resoluto. Muitos são os seus assassinatos com a célebre faca de açougueiro. Laurie Strode montou um verdadeiro bunker para esperá-lo. É a mesma Jamie Lee Curtis, agora mãe e avó.
Novamente Myers consegue fugir, recuperar sua máscara e começar uma sucessão de assassinatos bizarros, nunca dirigidos a menores. Entre o filme inaugural da série e este, o crime foi banalizado nos Estados Unidos. Perto dos atendados terroristas e de lobos solitários, Myers é apenas um artesão. Ele usa apenas as mãos e facas para matar, enquanto os atuais fanáticos usam armas de fogo e bombas. Mas ele fascina até mesmo os médicos que o tratam com seu enigma psicológico.
O embate final, mais uma vez, será travado pelo psicopata e Laurie, como se a Myers faltasse concluir um trabalho antes de morrer. Em busca desse confronto, Myers estraçalha homens e mulheres, sugerindo tratar-se de um justiceiro que castiga os pecados do sexo. No final, avó, filha e neta escapam mais uma vez, julgando que agora o assassino morreu. Será?
Green, como diretor consegue um clima de tensão convincente, embora essa sensação seja subjetiva. Mesmo nas cenas mais inócuas e alegres, a presença assustadora de Myers parece iminente. Ao lado de Jason Voorhees e de Freddy Krueger, Michael Myers é um dos três heróis do mal nascidos no século XX e ainda não superados. Os dois primeiros tangenciam o sobrenatural e figuram em filmes de terror. Myers é apenas um psicopata que figura em filmes de suspense. Jason e Freddy merecem retornar em filmes com a mesma qualidade de “Halloween: o regresso do mal”.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS