Jhonattan Reis
27/10/2018 20:24 - Atualizado em 31/10/2018 15:18
“Por quantos médicos negros você já foi atendido durante toda a sua vida?”. A indagação é feita pelo estudante de Medicina e fisioterapeuta campista Fred William Nicácio, 31 anos. O questionamento surgiu após ele publicar, no fim de setembro, uma foto com uma idosa de 74 anos. Na legenda, Fred William contou que a mulher, identificada como “Dona Eunice”, disse nunca ter se consultado com um médico negro antes. “A princípio, fiz a publicação da imagem sem pretensão alguma. Mas, como várias pessoas compartilharam e ela viralizou, levantei essa questão”.
Com a grande repercussão, Fred William Nicácio foi convidado para conceder entrevistas para vários sites e, depois, para o programa “Encontro com Fátima Bernardes”, da Rede Globo. Também foi entrevistado por Ronaldo Vasconcelos no programa “Passo a Passo”, da Plena TV. Nas ocasiões, ele falou sobre a pouca quantidade de médicos negros no Brasil e racismo.
— É sempre bom a gente parar para pensar: onde estão os negros nas profissões de “alta classe” no nosso país? Há algum tempo, repercutiu, também na internet, uma comparação entre duas fotos: uma de um grupo de formandos em Medicina, apenas com brancos, e outra de um grupo de garis, formado apenas por negros. Muita gente acaba não dando atenção a isso, mas precisamos parar para refletir sobre essas coisas e por que elas acontecem — disse.
Estudante da Universidade Iguaçu (Unig) campus cinco, em Itaperuna, Fred William Nicácio contou que, em sua turma, composta por 70 pessoas, só há ele e uma colega da cor negra.
— Não há como negar: Medicina é um curso elitizado, sim. É de difícil acesso. É uma questão que existe, é visível e precisamos ver onde está a falha nisso — relatou ele, que, depois de concluir a faculdade de Medicina, pretende estudar Cirurgia Plástica em alguma grande capital, São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte.
Sobre o episódio da foto com “Dona Eunice”, que aconteceu no hospital público Ana Moreira, em Conceição de Macabu, o estudante de Medicina relatou que percebeu a comoção de muitas pessoas diante da situação.
— Vi muita gente fazendo reflexões. E é um caso preocupante: uma senhora esperou sete décadas para ser atendida por um médico negro. E você? Por quanto tempo esperou ou ainda vai esperar? Ela estava com o neto dela, que é criança e agora já viu um médico negro em atuação. Isso mostra que, apesar de lentamente, as coisas estão evoluindo. Mas precisamos que evoluam mais. A gente pode imaginar o quanto é difícil para um jovem negro de periferia, que acorda às 5h para ir para a rua vender bala, passa o dia todo trabalhando e depois tem que estudar, já cansado, para conseguir entrar na faculdade, ter que competir com uma pessoa que tem boa alimentação, faz pré-vestibular, curso de inglês e estuda descansado, a hora que quiser.
Preconceito foi outro ponto comentado:
— Sou homossexual e negro. Tenho um namorado há três anos e sete meses, e não tenho problema em dizer isso. Acredito que a gente tem que aceitar as pessoas como elas são — relatou o jovem, que ainda brincou: — Inclusive, o assédio das meninas é maior que o dos meninos. Elas são mais diretas, enquanto eles apenas elogiam.
Para combater o preconceito, ressalta ele, é necessário pensar em apenas uma coisa: o amor.
— O amor precisa estar acima de tudo, e ele vence sempre. O ódio não vai ganhar e levar a lugar nenhum nunca. Se você odeia alguém porque ele é negro, homossexual ou de classe social diferente da sua, só quem sai prejudicado é você. Então aceite, ame. Você vai ver que sua vida vai melhorar, a vida dessa pessoa também vai e será melhor para todo mundo. Apenas ame. Se houver amor, vai haver respeito. Se houver respeito, vai haver entendimento e, assim, a vida continua.