Em homenagem ao cineasta Ernst Lubitsch e ao centenário de “Não Quero Ser Um Homem” (“Ich Möchte Kein Mann Sein”, 1918), o filme foi a atração principal de quarta-feira (17) no Cineclube Goitacá. O professor, pesquisador e crítico de cinema Aristides Soffiati apresentou o longa-metragem de Lubitsch e outras duas obras da primeira metade do século passado: “Marcha Sobre Tóquio” (“Tokyo Koshin-kyoku”, 1929), de Kenji Mizoguchi, e “Os Óculos do Vovô” (1913), de Francisco Dias Ferreira dos Santos. A sessão aconteceu na sala 507 do edifício Medical Center, no Centro de Campos, com entrada gratuita.
Soffiati explicou que o objetivo principal da exibição de “Não Quero Ser Um Homem” foi mostrar os primórdios da comédia romântica no cinema.
— A diferença deste gênero para as comédias de ações, que arrancam gargalhadas do público, é que esta é uma comédia de casais. Até existem casais em filmes de Charlie Chaplin e Harold Lloyd, por exemplo, mas o que predominam nos filmes deles são os toques cômicos. Já na comédia romântica, a parte cômica envolve, a todo tempo, casais — explicou.
Outro foco da apresentação da obra de Lubitsch, assim como do filme de Mizoguchi, foi abordar a emancipação da mulher no século XX.
— “Não Quero Ser Um Homem” foi filmado na época do fim da Primeira Guerra Mundial. E ele demonstra a emancipação feminina nesse período. A mulher tinha que trabalhar, já que o marido estava na guerra, tendo, inclusive, que servir à nação como enfermeira. Interessante é que, mesmo filmando no final da Primeira Guerra, o diretor não toca no assunto. O filme japonês “Marcha Sobre Tóquio” também mostra essa questão, mas no mundo oriental — falou.
A obra brasileira “Os Óculos do Vovô” foi exibida por se tratar de uma grande raridade, explica Soffiati:
— Não tem nenhuma ligação com os outros dois filmes. Porém, resolvi exibi-lo porque se trata do filme brasileiro mais antigo que restou. O filme, dirigido por um português, foi filmado em Pelotas, no Rio Grande do Sul, e estreou em Santa Maria.
O apresentador da noite ainda comentou sobre o beijo entre a personagem principal de “Não Quero Ser Um Homem”, a jovem Ossi, e o tutor dela.
— Pelo que sei, é o primeiro filme que traz à tona a questão do homossexualismo. Na teoria, há uma mulher beijando um homem. Mas o personagem do tutor beija Ossi pensando ser um homem, já que ela estava vestida com trajes masculinos. E estamos falando de 1918. Os tempos eram outros e as pessoas enxergavam isso de forma bem diferente da que enxergamos agora. A gente também pôde perceber as insinuações sexuais que eram feitas com bengalas e réguas por parte de alguns personagens masculinos. Libitsch trabalhou muitos detalhes nesta obra.
O advogado e publicitário Gustavo Oviedo também comentou sobre o beijo: “Não sei como isso foi interpretado à época, mas o filme sugere que o álcool leva ao homossexualismo”. (J.H.R.)