Aluysio Abreu Barbosa
29/09/2018 21:13 - Atualizado em 01/10/2018 19:16
Eduardo Paes (DEM) já era líder isolado em todas as pesquisas quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impugnou a candidatura de Anthony Garotinho (PRP), na última quinta (27), com base na Lei da Ficha Limpa. Mas as perguntas desta entrevista foram enviadas antes do fato, cujas consequências sobre o pleito do próximo domingo ainda não foram medidas. O ex-prefeito do Rio falou abertamente sobre seus próprios problemas com a Justiça e de alguns dos seus ex-secretários. Mais importante, apresentou suas propostas ao Governo do Estado à Segurança Pública e aos servidores, aos quais acenou com a possibilidade de reajuste. Sobre o Norte Fluminense, ele reafirmou seu compromisso com a Ponte da Integração, a Uenf e o Porto do Açu. E foi além: “considero Campos a segunda capital do Estado”.
Folha da Manhã — Talvez seu maior feito na campanha tenha sido suplantar, aos olhos do eleitor, sua ligação com o ex-governador Sérgio Cabral, o atual, Luiz Fernando Pezão, e o ex-presidente da Assembleia, Jorge Picciani, todos do MDB. Foi isso ou o fato de seus principais concorrentes nas pesquisas, Romário Faria (Pode) e Anthony Garotinho (PRP), terem defeitos ainda piores?
Eduardo Paes — Como prefeito do Rio trabalhei em parceria com o então governador Sérgio Cabral. E lamento profundamente que ele tenha ido pelo caminho que resolveu percorrer. Está pagando caro por isso e respondendo pelos seus crimes. Eu respondo pelos meus atos. Fui aliado dos três governadores e dos três presidentes que passaram por mim, mas não posso responder por eles. E sendo governador, vou ser aliado dos 92 prefeitos do Estado e do próximo presidente da República. A meu favor eu tenho o meu trabalho de oito anos como prefeito do Rio. Enquanto o Estado já estava em crise, decretando estado de calamidade pública, na Prefeitura estávamos assumindo dois hospitais estaduais, as Bibliotecas Parque e os servidores municipais continuaram a receber os salários em dia.
Folha — Como vê a sobrevivência de Cabral, Picciani e do ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (MDB), nas candidaturas dos seus filhos a deputado federal: respectivamente Marco Antônio Cabral, Leonardo Picciani e Danielle Cunha, todos do MDB e em sua coligação?
Eduardo — Eu não posso criminalizar as pessoas, os crimes não são hereditários. O que nós sabemos é que quem cometeu crimes está pagando por eles.
Folha — Como avalia os dois governos Cabral e o de Pezão? O que neles serve como exemplo a ser seguido e a ser evitado? Sendo o mais sincero possível, que influência os dois, além de Picciani e Cunha, teriam em seu governo?
Eduardo — Eu quero olhar pra frente. Apresentar propostas do que precisa ser feito para avançar. Agora, mesmo tendo sido do PMDB, você nunca viu estes personagens mandando no meu governo, na Prefeitura do Rio. Se não foi assim quando eu era do partido, agora não será diferente.
Folha — O senhor e o deputado federal Pedro Paulo (DEM) foram condenados no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), a oito anos de inelegibilidade, por abuso de poder político e econômico na eleição municipal de 2016. Seus direitos políticos foram restituídos em decisão liminar do ministro Jorge Mussi, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Concorrer sob liminar não transmite insegurança ao eleitor?
Eduardo — Não. Esta decisão se refere ao planejamento estratégico que deixamos pronto para o governo que me sucederia. Ao longo dos oito anos do meu governo fizemos os planejamentos estratégicos dos dois mandatos (2009-2012 e 2013-2016). Esses planejamentos estratégicos nortearam as nossas ações e obras. Preparei o planejamento estratégico para o governo que me sucederia. A população está cansada de projetos que não têm continuidade. Então, à luz do que já tinha sido feito, propusemos discussões com a sociedade civil.
Folha — No primeiro debate entre os candidatos a governador, promovido pela Band em 16 de agosto, Garotinho (PRP) falou da prisão pela Lava Jato do seu ex-secretário de Obras na Prefeitura do Rio, Alexandre Pinto, e perguntou ao candidato Wilson Witzel (PSC): “Vem mais uma delação aí?”. Ex-juiz federal, ele confirmou a delação e garantiu que os mandados dela advindos estão para sair. Isso preocupa? Por quê?
Eduardo — Eu sempre digo que tenho delações negativas. Oito delatores foram claros em dizer que não pedi propina ou qualquer outro benefício pessoal no trato da coisa pública. Um deles relata inclusive ter sido questionado por mim se alguém na Prefeitura adotava esse tipo de prática. Não tem nenhum agente privado ou delator que tenha feito referência à cobrança de propina, desvio, aditivo na máquina pública da Prefeitura com a minha participação. Problemas aconteceram no governo. São públicos e notórios. Inclusive não era um quadro político. Era um quadro técnico. Eu assumo a responsabilidade por ter escolhido esse quadro técnico. E fico triste de não ter um sistema de controle ainda mais efetivo que permitisse detectar isso. Esse é um cuidado que eu quero reforçar ainda mais no governo do Estado.
Folha — No debate, do SBT em 19 de setembro, um jornalista o questionou pela prisão de Alexandre Pinto e pelas acusações contra seus ex-secretários de Saúde Hans Dohmann e Daniel Soranz, por falta de fiscalização nos contratos com a OS Biotech, mesmo após o Tribunal de Contas do Município ter apontado indícios de fraude e superfaturamento. O senhor lavou as mãos no primeiro caso, mas defendeu com firmeza os outros dois acusados. Por que a diferença de atitude?
Eduardo — Eu não lavei as mãos em caso algum. O caso do Alexandre Pinto foi comprovado, houve uma confissão, e muito me entristece saber que tomou esse caminho, porque era um quadro técnico que eu considerava de qualidade. Meus secretários de saúde, diferentemente do que a pergunta aponta, não estão respondendo a qualquer denúncia criminal. Não há o que desabone a idoneidade de Daniel Soranz e Hans Dohmann. Imediatamente, quando houve a suspeita de fraude na OS, cancelaram os contratos e bloquearam os repasses de recursos. Hoje os donos da instituição estão presos e respondem aos danos causados. Eu pedi o afastamento imediato dos gestores e punição exemplar à quadrilha. A Biotech também foi descredenciada na SMS e desqualificada para não participar de outro chamamento público.
Folha — Na última terça (25), Pezão visitou as obras da Ponte da Integração, entre São João da Barra e São Francisco de Itabapoana. A despeito de todas as promessas dele, a ponte não será concluída em seu mandato. Compromete-se em fazê-lo no seu?
Eduardo — Essa ponte é fundamental para a economia do Norte Fluminense, pois além facilitar o escoamento da produção da fruticultura e das usinas de cana de açúcar, essa ligação ajudará a incrementar o turismo e outras atividades econômicas da região. Garanto que, no meu governo, não haverá obra parada. A ponte de São João da Barra será uma das minhas prioridades na região.
Folha — O senhor tem dito que mesmo depois de encerrada a intervenção federal no Estado, com o Exército no comando da Segurança Pública, vai pedir ao próximo presidente que apoio das Forças Armadas continue. Qual a sua avaliação da intervenção? E o que mais pretender fazer para solucionar a explosão da criminalidade na capital e no interior fluminense?
Eduardo — Eu sempre digo que não tem essa de ser contra ou a favor da intervenção. Ela era necessária pelo momento do Rio. De certa maneira, havia uma falta de comando no Estado e a intervenção acabou sendo necessária. Ela se encerra em 31 de dezembro, mas, se eleito, vou pedir ao próximo presidente que as Forças Armadas continuem trabalhando conosco sob uma nova estratégia de ação e sob o comando do governador. A Segurança Pública é o grande desafio que temos e a solução não vai ser a curto prazo, mas podemos ter resultados rápidos investindo no que é fundamental. Sou candidato a governador para cuidar da Segurança Pública. Será minha responsabilidade. Queremos reduzir a violência nas ruas de forma significativa já no primeiro ano de governo. Vamos criar os Centros de Operações Policiais (C.O.P.) para integrar as atividades das forças de segurança. O Estado do Rio tem hoje cerca de 44 mil policiais e muitos deles não estão nas ruas. É preciso remanejar pessoal, aumentar o efetivo que faz o patrulhamento das ruas para reduzir os indicadores de roubos e de homicídios. Vamos instituir também a Força da Paz, uma força-tarefa de inteligência e operação integrada contra o Crime Organizado, com a participação da Polícia Civil, da Receita Federal e da Secretaria de Fazenda. O foco do trabalho é levantar e cruzar informações para asfixiar as fontes de financiamento do tráfico e da milícia. O maior investimento em inteligência vai nos permitir atuar de forma cirúrgica contra as organizações criminosas e com isso, evitar esse número absurdo de tiroteios nas comunidades. Vamos restabelecer um sistema de corregedoria independente, coordenada com o Ministério Público e a Polícia Federal, para juntas atuarem no combate à corrupção policial e penitenciária.
Folha — Além da violência, o Estado do Rio vive também um quadro de insolvência financeira. O que pensa sobre o regime de recuperação fiscal firmado entre os governos Michel Temer e Pezão, ambos do MDB, seu ex-partido. Propõe algo diferente?
Eduardo — Recuperar as finanças do Estado é tão importante quanto resolver o problema de Segurança. Porque precisamos retomar urgentemente os serviços básicos para a população. É preciso fazer o chamado feijão com arroz, que é colocar a saúde e a educação para funcionarem, dar aos servidores as condições mínimas de trabalho. Um dos meus primeiros atos depois de eleito será procurar o presidente eleito e rediscutir o Regime de Recuperação Fiscal. Ele foi importantíssimo para que o Estado pudesse voltar a pagar os servidores em dia, garantir o mínimo de prestação de serviço, mas precisamos ajustar as contas, fazer o dever de casa, para depois poder repactuar, porque terminado o período do regime, a conta continuará muito alta. Eu vou ajeitar as contas do estado. Não vou ficar preso a acordo de recuperação fiscal.
Folha — A face mais cruel da falência financeira do Estado se dá sobre os servidores ativos e inativos. Qual o seu compromisso em honrar mensalmente esses vencimentos?
Eduardo — Vou recorrer à minha experiência à frente da Prefeitura do Rio para responder essa. Quando assumi o município, o país também estava em crise. E na minha gestão arrumei a casa, saneei as contas da Prefeitura, renegociei contratos, ampliei a arrecadação do município, fiz economia. Nos meus 8 anos de gestão paguei os funcionários em dia, até o segundo dia útil do mês. Honrei com 13º salário, adiantando parte dele no meio do ano. E ainda fiz com os servidores de cada secretaria acordos de resultados que, uma vez cumpridos, garantia um 14º salário ao servidor. No Estado, quero adotar esse mesmo caminho. Não estou dizendo que é simples. Mas tem caminho. Exige conhecimento, profissionalismo. Não vamos sacrificar o servidor pela incompetência do Estado. Se for possível, ajeitando as contas do estado, quero dar aumento, reajustar servidor. Eu fiz isso na Prefeitura, quando reajustava servidor anualmente, pelo menos pelo índice da inflação.
Folha — Outra face do caos financeiro se dá sobre o abandono da Uenf e do Colégio Agrícola Antônio Sarlo. No debate da Band, quando perguntados sobre a Uerj, apenas o senhor, Garotinho e Tarcísio lembraram que a Uenf também existe. O que planeja para a mais importante instituição de ensino superior da região?
Eduardo — Já visitei a Uenf nesta campanha e me reuni com seus diretores. Na ocasião, firmei compromisso de, se eleito, garantir os repasses constitucionais de recursos, os duodécimos, tanto para a Uenf como para a Uezo e a Uerj. Me comprometi ainda a garantir recursos à Faperj. Eu considero que as universidades podem ser importantes aliadas na recuperação econômica do Rio, por serem berço de inovação do conhecimento e de geração de novas vocações econômicas. A Uenf tem um papel fundamental no desenvolvimento do Estado. Para mudar a matriz econômica, o Estado do Rio tem que encontrar vocações que vão além da matriz óleo e gás, que tenham a ver com a sociedade do conhecimento, com a inovação, com a pesquisa. A universidade cumpre com esse papel fundamental. Então eu assumi um compromisso com o reitor e os docentes.
Folha — Quais são seus planos para Porto do Açu na questão do desenvolvimento do Norte Fluminense?
Eduardo — O Porto do Açu é um empreendimento fantástico, enorme, que vai gerar muito emprego, e que precisa ter sua ligação com a malha ferroviária do Sudeste. É necessário que o próximo governador negocie com o governo federal a concessão de uma ferrovia que atenda o escoamento de produção do Porto do Açu. O governo federal está renovando concessões de ferrovias. E nessa hora a força política conta. Por isso defendo a eleição de senadores com grande capacidade de articulação política, para que possamos atrair recursos e oportunidades para o Rio. O momento não é para amadores e nem para gente que não esteja comprometida com o desenvolvimento do Estado.
Folha — O que Campos, Norte e Noroeste Fluminense devem esperar de Eduardo Paes governador?
Eduardo — Eu considero Campos a segunda capital do estado, por sua importância econômica, política e social. Nesta campanha, já visitei inúmeras vezes a região, onde reafirmei o compromisso com a recuperação das finanças do Estado, cuja crise se faz sentir de forma mais dramática no Interior do Rio. Me comprometi ainda com a retomada do desenvolvimento econômico do Norte e Noroeste Fluminense e dos serviços básicos de Saúde, Educação e Segurança Pública da região. Vamos trabalhar junto com as prefeituras locais para resgatar os serviços à população. Faço questão de afirmar o meu compromisso com o interior. O Governo do Estado é muito mais importante para as cidades do Interior. Nós vamos botar a máquina do Estado para funcionar e ajudar as prefeituras a atender a população. A gente precisa de gestão. Gosto de andar por aí. Eu sou um cara feliz governando. O desafio não me assusta. Os problemas não me assustam. Eu acordo com disposição e orgulho e eu vou caminhar muito por aqui. Vocês vão ter um governador presente, que vai ajudar muito o interior. O Norte Fluminense é muito forte, a nossa indústria do óleo e gás tem um papel fundamental a cumprir, mas precisa ter mais apoio do Governo do Estado e ter suas vocações econômicas ainda mais desenvolvidas. O Norte Fluminense é uma joia de nossa coroa. É uma área do Estado muito forte, com um potencial econômico enorme e que precisa se desenvolver para que a gente possa gerar emprego. Precisamos ainda melhorar as condições para que o produtor rural possa trabalhar. Temos que melhorar as condições de infraestrutura e logística, recuperar as estradas, que estão em péssimas condições. A gente não precisa aceitar certas coisas como estão. E essa indignação, além da certeza do que a gente é capaz de fazer, que me move a disputar essa eleição.