Campos pró e contra Bolsonaro
29/09/2018 20:53 - Atualizado em 01/10/2018 19:17
Ato contra Jair Bolsonaro na praça São Salvador
Ato contra Jair Bolsonaro na praça São Salvador / Antônio Leudo
O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) esteve no centro das manifestações espalhadas por todo país, e até no exterior, nesse sábado (29). Em Campos, principal cidade do interior do Rio de Janeiro, não foi diferente. Foram dois atos em pontos distintos, que reuniram milhares de simpatizantes e oposicionistas ao ex-capitão do Exército, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto. Foram milhares nas ruas na soma dos dois atos, embora os organizadores tenham tentado inflar o número de participantes, já que a Polícia Militar não divulgou a estimativa de público. Apesar de nervos acirrados em todo processo eleitoral, apenas casos isolados de confusão, que, felizmente, nem chegaram a vias de fato, foram registrados.
Relatos de participantes apontam que, ao menos uma vez, as forças de segurança, que se mostram presentes em número relevante, tiveram de atuar de forma mais enérgica, mas sem agressão. No mesmo dia, Bolsonaro, que estava internado desde 6 de setembro após ser esfaqueado durante ato de campanha em Juiz de Fora, deixou o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e foi para casa no Rio de Janeiro.
Organizado pelo “Direita Campos”, o movimento de apoio a Bolsonaro em Campos aconteceu na praça Cinco de Julho, trecho urbano da BR 101, nas imediações da igreja Nossa Senhora do Rosário (popular igreja do Saco). Com bandeiras do Brasil, camisas com a foto de Bolsonaro e entoando músicas de apoio ao presidenciável, centenas de manifestantes — que ,para os organizadores, chegaram a mil — distribuíram adesivos do candidato aos motoristas que passavam pela rodovia. Muitos, em declaração de apoio ao ato, respondiam buzinando. Outros, contrários, fechavam os vidros. Houve pelo menos um princípio de briga, mas os manifestantes apaziguaram a situação. Para os direitistas, era um “petista infiltrado”.
Na praça do Santíssimo Salvador, o ato contra o presidenciável foi consonante com um protesto nacional, puxado pelas mulheres, por meio do grupo de Facebook “Mulheres unidas contra o Bolsonaro”. Em todo país, a página superou a casa de dois milhões de seguidores e chegou a ser hackeada. No evento criado em Campos na rede social, foram mais de cinco mil interações. Já na praça, mais de mil pessoas compareceram — longe da estimativa de uma dos organizadoras, que foi de 7,5 mil. No entorno da praça, algumas manifestações de apoio e outras provocações.
O motorista de uma picape abaixou os vidros e apontou para a praça do Santíssimo Salvador, fazendo um sinal de arma, símbolo adotado pelo seguidores de Bolsonaro. Recebeu vaias, mas alguns manifestantes, mais exaltados, formaram um pelotão em direção ao veículo. Sem agressão, até mesmo porque policiais acompanhavam tudo de perto e o motorista logo fechou os vidros. Mas, num estilo mais gaiato do que partidário, foi só o sinal de trânsito abrir e o veículo seguir em direção à avenida XV de Novembro para o motorista repetir o gesto de arma. Para os militantes de esquerda, era mais um “fascista”.
Ato pró-Jair Bolsonaro no Parque Leopoldina
Ato pró-Jair Bolsonaro no Parque Leopoldina / Antônio Leudo
O Direita Campos possui uma associação, com presidente (Wander Silveira Júnior), vice (Carlos Vitor Carvalho, o CVC), tesoureiro (Mateus Madeiros) e secretário (Ramon Freitas). A formação foi iniciada há 5 anos, coincidentemente, ou não, no mesmo período das Jornadas de Junho, que se desdobraram em manifestações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em agosto de 2016. “A gente criou a associação para registrar o movimento de direita que existe em Campos. É nosso direito expressar que a direita tem voz aqui”, afirmou Wander, acrescentando que o grupo tem milhares de seguidores nas redes sociais.
Mas a manifestação a favor do presidenciável do PSL também contou com participação feminina. Exemplo disso é a jovem Myllena Ribeiro, estudante de Gestão de Recursos Humanos e que participa do “Direita Campos”. “O que me leva a votar no Bolsonaro é querer um país sem corrupção, um presidente que abomina o comunismo, diferente dos outros que estão aí”, afirma.
Se o apoio da direita nas ruas de Campos era todo direcionado a Bolsonaro, na manifestação encabeçada pelas mulheres, mas que teve adesão de diversos movimentos sociais, era suprapartidário. Não havia campanha para um candidato, mas o discurso era sempre contrário ao candidato do PSL. Cartazes e bandeiras mostravam a participação da União Juventude Socialista, “cristãos e cristão contra Bolsonaro”, movimento LGBTI, feministas, partidos de esquerda e representantes de universidades e de sindicatos.
A estudante de Direito Rafaelly Galossi afirmou que o ato em Campos foi encabeçado pelo coletivo de mulheres “Nós por nós”, mas contou com adesão de todos que são contra o que ela classifica como “risco que Bolsonaro representa”. “Nosso movimento é contra o fascismo, contra o retrocesso, qualquer ato que coloca em perigo os direitos garantidos, que coloca em risco a democracia. E é isso que o Bolsonaro representa. Não defendemos um candidato, nossa bandeira é suprapartidária; mas ele, não”, afirmou.
A professora Beth Araújo, vencedora do prêmio Alberto Ribeiro Lamego, brizolista histórica que fez parte da fundação do PDT em Campos, foi a primeira a discursar. “Não imaginava que os jovens reagissem às minhas palavras de forma tão bonita. Ao final, fiz uma chamada em homenagem aos que lutaram contra a ditadura de 64”, afirmou a professora, acrescentando que há muitos anos não participava de atos como o desse sábado. 
Desde que Fernando Haddad (PT) foi oficializado candidato a presidente no lugar de Luiz Inácio Lula da Silva — ex-presidente preso desde abril após ser condenado em segunda instância na Lava Jato —, as principais pesquisas do país apontam pra uma polarização já no primeiro turno entre o candidato petista e o ex-capitão do Exército. E esse acirramento se reflete, especialmente, nos embates das redes sociais.
No próximo domingo (7), com o fim do primeiro turno, o resultado das urnas deixará para trás todas as percepções, todos os números de pesquisas, todos os debates reais e virtuais. Ao que tudo indica, dois nomes vão para o segundo turno. E se, como indicam as pesquisas, os nomes realmente forem Bolsonaro e Haddad, não vai ter nem tempo para trégua: o embate continua e, talvez, ainda mais acirrado.
Atos pelo país e também no exterior
Em cidades de pelo menos 21 estados brasileiros, além do exterior, foram registradas manifestações contra Bolsonaro. Após a convocação para os protestos pelas redes sociais, por meio da #EleNão, entusiastas de Bolsonaro também se reuniram em atos pelo Brasil para demonstrar apoio ao presidenciável. Pelo menos oito estados tiveram atos a favor do candidato do PSL.
Como ocorreu em Campos, a capital fluminense registrou atos contra e a favor a Bolsonaro. O movimento contrário aconteceu na Cinelândia, tradicional ponto de manifestações políticas do Rio de Janeiro. No fim da tarde, parte dos manifestantes seguiu em passeata por ruas do Centro. Até o fechamento da edição, a estimativa de público não havia sido divulgada.
Já os cariocas apoiadores de Bolsonaro se concentraram na avenida Atlântica, em Copacabana. O ato começou por volta das 14h e terminou no fim da tarde. A Polícia Militar acompanhou o protesto, mas a estimativa de participantes não foi divulgada.
O ato “Mulheres contra Bolsonaro” também foi realizado no Largo da Batata, Zona Oeste de São Paulo. O evento organizado pelas redes sociais também contou com o apoio de partidos e movimentos de esquerda. Os organizadores estimam que 150 mil pessoas tenham participado. A Polícia Militar disse que não ia divulgar estimava de participantes. Na capital paulista, o ato a favor do ex-capitão do Exército ocorreu em frente ao Estádio do Pacaembu.
Também foram registrados protestos no Acre, Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.
Região — Entre municípios da região, além de Campos, movimentos contra e a favor a Bolsonaro foram registrados em Rio das Ostras. Macaé e Cabo Frio tiveram somente protestos contra o ex-capitão do Exército, enquanto em São João da Barra uma carreata ocorreu em apoio ao presidenciável.
Exterior — Brasileiros e estrangeiros se reuniram para protestos contra Bolsonaro em Nova York (EUA), Viena (Áustria), Milão (Itália), Londres (Reino Unido), Paris (França), Berlim (Alemanha), Barcelona (Espanha), Porto, Coimbra e Lisboa, em Portugal.
Presidenciável deixa o hospital
Jair Bolsonaro deixou o hospital Albert Einstein, no Morumbi, em São Paulo, às 13h45 desse sábado. Ele recebeu alta médica às 10h, após passar 22 dias internado por ter sido esfaqueado em 6 de setembro durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Às 16h40, ele chegou ao aeroporto Santos Dumont, num voo de carreira. Ele seguiu para sua casa, na Barra da Tijuca, onde vai continuar o tratamento.
O presidenciável deixou o hospital por uma saída alternativa para evitar a movimentação da imprensa. Já no Rio, não parou para falar com os correligionários, que se aglomeraram no portão principal da base aérea, com faixas e cartazes.
Carros da Polícia Federal, com agentes batedores, e do Batalhão de Choque da Polícia Militar fizeram parte do comboio que deu suporte à comitiva. Pelo menos nos próximos sete dias, Bolsonaro não poderá participar de atos políticos, seguindo recomendação da equipe médica, o que, por ora, inviabiliza sua participação nos debates desta semana: neste domingo (30) na Record e quinta-feira (4) na Globo.
Gustavo Bebbiano, presidente do PSL, informou que o candidato segue com a saúde frágil nos próximos 15 dias e que não fará campanha de rua. Ele avalia que, com isso, a campanha foi prejudicada: “Porque [a campanha] não conta com muitos recursos, não aceitamos doações de empresários, fazemos uma política diferenciada. A campanha vinha sendo feita com base no contato de Bolsonaro com o público”.

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