Guilherme Belido Escreve - Semana decisiva
29/09/2018 15:06 - Atualizado em 01/10/2018 19:21
José Renato
Fatores diversos devem ser levados em consideração antes que se crave, sem sombra de dúvidas, que este e aquele candidatos estão assegurados no 2º turno.
Pelas últimas pesquisas — inclusive a do Datafolha divulgada sexta-feira (28) — Jair Bolsonaro, com 28%; e Fernando Haddad, com 22%, deverão chegar. E é bem provável. Até porque o candidato do PSL se manteve na liderança com igual pontuação captada no levantamento anterior pelo mesmo Datafolha e o petista subiu seis pontos, pulando de 16 para 22.
Com percentuais muito próximos ao Datafolha, também o Ibope/CNI divulgou, dia 26, Bolsonaro e Haddad na dianteira, respectivamente com 27% e 21%. Logo, à luz das pesquisas, considerando o crescimento de Haddad, mesmo que o petista ultrapasse o capitão reformado, ambos estariam no 2º turno.
Mas esse quadro, frise-se, é o de pesquisas de intenção de votos, que outras vezes já vimos ser atropelado até na véspera do pleito. Assim, voltando à reflexão feita no início do texto, dar como certa essa fotografia é deixar de lado as peculiaridades presentes em cada eleição. Seria, por assim dizer, acertar pela ‘lógica da sorte’ e errar pela ‘circunstância do azar’.
Que o provável é que sejam confirmados Bolsonaro e Haddad, não há dúvida. Nem precisa pensar... basta olhar os números dos institutos e repetir igual papagaio.
Mas, para tanto, teremos que desconsiderar outra pesquisa, a do Ibope/CNI, que revelou, na 4ª-feira (26), que mais da metade dos eleitores (53%) admite que ainda pode mudar seu voto. Assim, basta que uma boa fatia desses 53% de fato mudem para que o cenário se modifique.
Além do que, na 5ª-feira (04), a Tv. Globo realiza o último debate entre os candidatos, que, a três dias da eleição, pode mexer com a cabeça do eleitor.
E ainda temos os próximos passos de Ciro e Alckmin — que, estagnados em 11% e 10%, vão lutar por alguma coisa — bem como o conflito entre a rejeição de Bolsonaro e aqueles que votam no capitão, mas, por vergonha, não revelam.
Em resumo, em uma semana muita coisa pode mudar; ou não. Trata-se de uma eleição exótica, com ‘recomendação’ que se acredite em tudo.
Ou leva no 1º turno ou perde a eleição
Ainda sob o foco das pesquisas, só que na simulação de 2º turno, Bolsonaro teria que vencer no 1º sob o risco de perder para qualquer um dos adversários.
Neste particular, entra em cena a elevada rejeição do candidato, que, segundo o Datafolha, subiu de 43% para 46%. Seja como for, o deputado perderia para Haddad, para Alckmin e para Ciro, sendo que, entre os três, a maior vantagem seria do candidato do PDT, que somaria 10 pontos de diferença. Mas, como o próprio Ciro diz, ele sabe que venceria no 2º turno, mas para isso precisa estar no 2º turno.
Neste cenário, os adversários tentam atrair o eleitor antipetista, justificando que votar em Bolsonaro é o mesmo que eleger Haddad presidente. Mas a estratégia tem mão dupla: tanto pode favorecer Ciro/Alckmin, como levar seus eleitores a votar em Bolsonaro de forma maciça, evitando o 2º turno. Esta seria uma hipótese improvável. Contudo, pode pescar o voto do indeciso, aquele que não definiu em quem votar, mas rejeita o PT.
De toda sorte, serão mais 15 dias de campanha. Haddad, buscando colocar em Bolsonaro a carapuça do extremista que apoia o regime militar (o que deixa parte da sociedade brasileira de cabelo em pé ao lembrar do período negro de duas décadas de ditadura); e do outro lado, Bolsonaro, que tentaria consolidar o voto da outra parte, simpatizante a ele exatamente pelas posições que assume. Para não falar que o capitão vai dar ênfase à corrupção, à insegurança e à crise econômica — nos três temas apontando para o PT.
Debate decisivo entre os presidenciáveis
A três dias da eleição de 1º turno, o último debate entre os candidatos a presidente, que a Globo realiza na próxima 5ª-feira (04), promete ser o mais decisivo na tentativa de conquistar o voto do eleitor.
Trata-se da oportunidade de ouro para que o telespectador avalie cada um dos presidenciáveis, ao mesmo tempo que a estes é dada a chance de expor a milhões de brasileiros seus projetos.
Num pleito de movimentos muito rápidos, reflexo do período eleitoral curto, o desempenho no debate que promete ser o de maior audiência até aqui tem tudo para consolidar ou alterar posições. Um escorregão pode tirar valiosos pontos. Uma boa performance, ao contrário, soma.
A campanha de Jair Bolsonaro anunciou que o candidato, em vias de ter alta hospitalar, não vai ao debate por recomendação médica, sendo desaconselhável que fale por tempo prolongado.
Por outro lado, por ser o candidato melhor posicionado nas intenções de votos (28%) e também o de maior rejeição (46%), certamente seria o alvo preferido dos adversários. Logo, só teria a perder.
Mourão dá tiro no pé. (De Bolsonaro)
Agora é possível ver que, não por acaso, Bolsonaro bateu de porta em porta atrás de um vice, até que não lhe restou outra opção a não ser o general Hamilton Mourão.
De cara, uma chapa formada por um capitão e um general, por si mesma, já é ‘militar demais’. Além do histórico de declarações polêmicas, a ‘marca’ de capitão sempre pesou contra Bolsonaro, em particular pelo reiterado apoio ao famigerado regime militar. Contudo, o candidato do PSL tem se esforçado para criar uma imagem mais leve.
O general Mourão até poderia ter ajudado se incorporasse um discurso de vanguarda, puramente político. Não precisaria jogar suas estrelas fora. Bastava focar na agenda de prosperidade com qualidade de vida.
Mas, longe disso, depois de falar em intervenção militar para “casos extremos”, o vice fez outra lambança ao se dizer contrário ao 13º salário e ao adicional de férias.
Para ele, os direitos trabalhistas são jabuticabas. “Uma mochila nas costas dos empresários”. De arremate, ainda criticou o adicional de férias. Não podia ser pior.

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