Além de diferente sobre vários aspectos, a eleição 2019 para presidente da República é a mais especulativa das últimas décadas, dando a impressão de que a maioria dos analistas políticos, sem a menor convicção do que tentam projetar, lançam mão do ‘chutômetro’ como se tivessem alguma base científica.
No outro lado desta mesma moeda, atuam como se fossem comentaristas de pós-jogo, “explicando” que o time tal perdeu porque errou aqui e ali, enquanto o que ganhou venceu por isso e aquilo. E a cada nova pesquisa vão realinhando as análises, mercê dos números mais recentes captados pelos institutos.
Não que tenham culpa. É, de fato, uma eleição complicada em termos de previsão. Além disso, o período eleitoral curto faz com que o movimento dos candidatos seja muito mais rápido, montando e remontando cenários num piscar de olhos.
Hoje – Só mesmo por excesso de prudência não se dá como certa a presença de Jair Bolsonaro no 2º turno. Perder a liderança seria o Everest das surpresas. De mais a mais, o candidato do PSL conta a seu favor com o ‘voto encabulado’: o eleitor que vota Bolsonaro, mas não diz quando perguntado. Logo, esse percentual não é captado pelas pesquisas e poderia, não obstante muito improvável, levá-lo à vitória logo no 1º turno.
Fernando Haddad quer a polarização, apostando que no 2º turno teria os votos petistas de Marina Silva e Ciro Gomes. Contudo, é o próprio postulante do PDT que vem se aproximando de Haddad, pedindo ao eleitor que não vote nos candidatos dos extremos.
Surpresa para Geraldo Alckmin, que perdendo até em São Paulo, corre contra o tempo para uma decolagem mais que improvável. Marina Silva está por um fio e segundo as pesquisas o eleitor não quis ‘chamar o Meirelles’.
Bolsonaro e Haddad
Sempre advertindo que até mesmo as pesquisas que forem realizadas no dia da eleição podem não ter os números confirmados no final da tarde, quando terminar a votação, três desfechos são, à luz do momento atual, os mais prováveis na disputa para chegar ao 2º turno, a saber, por ordem de probabilidade:
1 - Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, com o candidato do PSL na frente. A inversão de posições seria uma grande surpresa.
2 - Bolsonaro e Ciro Gomes – resultado que faria Ciro soltar fogos, mas sem qualquer chance de balançar Bolsonaro do topo da árvore.
3 - Numa terceira conjectura bastante ousada, vitória de Bolsonaro no 1º turno. Seria uma aposta muito alta, mas que não pode ser descartada. A página publicada na edição de 09 de setembro – antes, portanto, das últimas pesquisas – previu a hipótese.
Marina e Alckmin
Apesar da oscilação predominante, a maior surpresa fica por conta da queda livre de Marina, que despencou nas intenções de votos e a 15 dias do pleito só pelo imponderável, numa reviravolta em todas as peças do tabuleiro, chegaria ao 2º turno.
Curiosamente, os valiosos 5 minutos de televisão não ajudaram Alckmin. Além de cansativo, o programa não tem um norte. Ao bater em Haddad, subestimou Ciro, que acabou se aproximando. Segundo o Datafolha, o tucano ficou mais longe do primeiro pelotão e nem a carta de Fernando Henrique parece ter ajudado.
Mas – repetindo à exaustão o que se tem dito – uma semana é suficiente para determinar maior ou menor aproximação, posto que vários ingredientes presentes neste pleito podem mudar radicalmente o sabor do cozido.
Pesquisas, rejeição, voto útil, ‘nós contra eles’, etc
O que se constata é que cada pesquisa motiva um conjunto de tendências logo desfeito pela próxima divulgada 4/5 dias após. Para não citar as diferenças de metodologia, os números anunciados pelo Datafolha na madrugada de quinta-feira (20) realinharam posições que talvez apareçam na próxima do Ibope.
Por exemplo, Ciro ‘voltou’ ao jogo, desfazendo em parte a polarização antes prevista entre Bolsonaro e Haddad. E isso vai continuar acontecendo pelos próximos 10/12 dias.
Outro dado: a rejeição de Bolsonaro pode subir e mudar o quadro, mas é bom lembrar que é o único candidato que não está fazendo campanha. É dizer: se tiver condições de gravar programas e outras manifestações dias antes do pleito, a tendência é que se isole na liderança.
Importante destacar, ainda, que o retorno à polarização traria o voto útil e o segundo turno poderia atropelar o primeiro. Em outras palavras, a volta do ‘nós contra eles’, com o eleitor manifestamente contrário ao histórico de transgressões do PT votando em Bolsonaro para impedir a vitória de Haddad (de Lula), e o eleitor contrário às ideias polêmicas e radicais de Bolsonaro votando no PT para não ver o capitão reformado presidente.