O Noroeste Fluminense vive um momento de instabilidade política, com prefeitos denunciados por irregularidades e alguns até cassados por determinação da Justiça Eleitoral. Em Itaperuna, a principal cidade da região, o prefeito Dr. Marcus Vinícius (PR) enfrenta uma série de contestações por parte do Ministério Público (MP), que pediu pelo menos quatro vezes o seu afastamento do cargo por improbidade administrativa. As ações, movidas pelas Promotorias de Tutela Coletiva do Núcleo Itaperuna, são relativas suspeitas de irregularidades na lei de reforma administrativa, na compra do material escolar, no aluguel de veículos para atender a secretaria de Assistência Social e na contratação de empresa para merenda escolar.
No último dia 30 de agosto, a promotoria denunciou o prefeito, o secretário de Planejamento, Leandro Bazeth Levone; o ex-secretário de Educação, Franciney França; e ainda a empresa Alimentação Global Service Ltda por suspeita de fraude no contrato emergencial para merenda escolar, no valor de R$ 2.847.224,67.
De acordo com o MP, após o Tribunal de Contas do Estado barrar a licitação, a Prefeitura de Itaperuna teria simulado uma emergência na área para superfaturar os valores. A denúncia narra que três empresas chegaram a estimar o valor do serviço em R$ 12 milhões, bem acima do preço de mercado, o que comprovaria a fraude.
Em junho, o MP entrou com uma ação civil pública contra Dr. Marcus Vinícius e sua esposa, Camila Andrade Pires, então secretária de Assistência Social, acusados de fraude no processo licitatório e superfaturamento de contratos de locação de veículos para a secretaria.
Na ação, o MP requer liminarmente a quebra de sigilo bancário e a indisponibilidade de bens dos réus e multa de R$ 481.585,23 para cada um, além do ressarcimento de R$ 160.528,41 – valor que teria sido superfaturado, segundo os promotores. O Ministério Público também pediu a perda da função pública dos citados, a suspensão de seus direitos políticos e a proibição de estabelecimento de contratos com o poder público.
Outra denúncia envolvendo a área da Educação aconteceu em abril, quando o prefeito também foi acusado de fraude no contrato para compra de material escolar. A ação aponta irregularidades como superfaturamento, ausência de competitividade e direcionamento nos quatro processos licitatórios destinados à aquisição de itens como kits escolares e cadernos. Liminarmente, o então secretário de Educação, Franciney França, foi afastado do cargo pela Justiça.
Em todos os casos, o mérito das ações ainda não foi analisado pela Justiça de Itaperuna. Marcus Vinícius nega todas as acusações e diz que “o Ministério Público faz a parte dele de investigar a denúncia e o município de provar à Justiça quando for intimido”.
A Global Alimentação informou, por nota, que vai ficar provado no processo que não cometeu nenhuma irregularidade. Todos os demais citados, entre secretários e ex, também negam envolvimento em qualquer irregularidade.
Reforma administrativa é motivo de polêmicas
No início do ano, o prefeito enviou à Câmara de Vereadores uma proposta de reforma administrativa que foi aprovada pelos parlamentares. No entanto, a oposição e o vice-prefeito, Rogerinho Bandole, que rompeu politicamente com Marcus Vinícius, denunciaram que o texto sancionado pelo prefeito foi diferente do que foi regulamentado pela Casa de Leis. Eles apontam que as mudanças, em vez de gerar economia ao município, criavam ainda mais cargos.
O Ministério Público, então, passou a investigar o caso e denunciou o prefeito por “um esquema ilustrativo onde podem ser observadas as divergências entre o texto aprovado e o texto publicado”, segundo a promotoria.
Os promotores pediram o afastamento de Marcus Vinícius e a cassação do mandato, mas o caso ainda será analisado pela Justiça.
Instabilidade política avança no Noroeste
Itaperuna não é o único município do Noroeste Fluminense em que os prefeitos estão enrolados com a Justiça. Em Laje do Muriaé e em Aperibé, Dr. Rivelino (PP) e Flávio Diniz, o Dezoiro (PP), respectivamente, tiveram os mandatos cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por compra de votos em 2016. Com isso, a Justiça determinou novas eleições nas duas cidades, que vão acontecer no dia 28 de outubro, data do segundo turno das eleições gerais.
No final de junho, o TRE manteve a condenação de primeira instância do prefeito de Aperibé por abuso de poder econômico e captação ilícita de sufrágio durante a campanha antes da eleição de 2016. Segundo as investigações, o prefeito teria distribuído material de construção para a população de baixa renda dias antes do pleito.
Já em Laje, Rivelino foi condenado por tentar comprar o voto da filha de uma eleitora ao prometer entregar um portão e construir um muro.
Em Italva, a prefeita Margareth do Joelson (PP) foi condenada em primeira instância por compra de votos com bonecas de brinquedo. O recurso seria julgado nesta semana no TRE, mas foi adiado.