Os bombeiros que trabalham no que restou do prédio do Museu Nacional, na manhã desta terça-feira (4), encontraram um crânio em meio aos escombros. Ele pode ser de Luzia, o fóssil humano mais antigo da América. Um grupo de especialistas vai analisar o material.
Um bombeiro que trabalhou no controle das chamas contou que tentou resgatar Luzia, mas acabou ferido. Ao se arriscar no museu em chamas, ele relatou o desespero ao abrir um armário e só encontrar um ferro "incandescente". Segundo o bombeiro, a alta temperatura do material derreteu a luva que o protegia do fogo e queimou seus dedos.
"Fizemos um esforço gigantesco e conseguimos nos aproximar e abrir o armário. Ao procurar Luzia, encontrei vazio e um ferro incandescente que derreteu minha luva e queimou meus dedos. Doeu, muito. Saí da sala e chorei. De dor? Não. De frustração," destacou o soldado Rafael Luz.
A chuva durante a madrugada desta terça-feira ajudou a apagar alguns focos de incêndio. Ainda assim, alguns deles voltaram a aparecer por volta das 6h. Os agentes seguem de prontidão no local.
Risco de desabamento - A Defesa Civil do Rio de Janeiro informou, na segunda-feira (3), que o local está interditado. Técnicos do órgão identificaram que "existe um grande risco de desabamento, que pode ocorrer com a queda de trechos remanescentes de laje, parte do telhado que caiu e paredes divisórias do prédio". Na área externa, no entanto, a avaliação destaca que "devido à espessura das fachadas, não há risco iminente".
Mesmo assim, na parte externa, "foram constatados problemas pontuais, como queda de revestimento, adornos e materiais decorativos (estátuas) fazendo com que a área de projeção das fachadas também permaneça isolada".
Acervo destruído - O Museu Nacional foi destruído por um incêndio na noite de domingo (2). A vice-diretora da instituição, Cristiana Serejo, afirmou que cerca de 10% do acervo não foi destruído após as chamas. Serejo disse ainda que o detector de fumaça do museu não estava funcionando e que serão necessários, a princípio, R$ 15 milhões para a recuperação do museu.
“Houve o contingenciamento de um terço do valor de R$ 514 mil. Esse ano, recebemos R$ 240 mil, o que é pouco”, declarou Serejo, em frente ao Museu Nacional.
Reconstrução em quatro etapas - A reconstrução do Museu Nacional no Rio de Janeiro será feita em quatro etapas, incluindo a possibilidade de cessão de um terreno próximo ao local para que as atividades acadêmicas sejam mantidas. Após reunião do presidente Michel Temer com ministros no Palácio do Planalto, nesta terça-feira, foi confirmada a liberação, via Ministério da Educação, de R$ 10 milhões para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O museu é vinculado à instituição. No decorrer das quatro etapas, há ainda a proposta de uma campanha internacional para a doação e aquisição de acervos para o museu.
O ministro da Cultura, Sérgio de Sá Leitão, adiantou que a primeira etapa será dedicada à realização de intervenções emergências, como instalação de um toldo, escoramento de paredes, levantamento da estrutura, inventário do acervo e separação do que é possível encontrar nos escombros.
A segunda etapa depende da conclusão da perícia da Polícia Federal no local. Depois de realizada, será contratado um projeto básico e, com base nele, será implementado o projeto executivo da reconstrução do museu.
A terceira etapa é a da reconstrução. A ideia é usar a lei federal de incentivo à cultura, a Lei Rouanet. “Vamos fazer a mobilização de parceiros privados e da sociedade civil para reunir os recursos necessários”, disse Leitão.
O ministro da Cultura disse que a quarta fase pode ocorrer em paralelo com a obra de construção. É a de recomposição do acervo. O governo pretende fazer uma campanha internacional para a doação e aquisição de acervos para o Museu Nacional. (A.N.)