Assaltos a taxistas preocupam
Matheus Berriel 22/09/2018 19:05 - Atualizado em 24/09/2018 14:33
A morte do taxista José de Oliveira Filho, no início deste mês, durante corrida de São Paulo para Campos, colocou em voga os crimes cometidos contra motoristas de transporte alternativo. Só em agosto e setembro, além deste caso, pelo menos seis taxistas foram assaltados na planície goitacá, um deles mantido refém por um casal armado com faca. Houve ainda um assalto a motorista de Uber, agredido durante o crime. Quase todos os casos aconteceram no subdistrito de Guarus, onde a população de diversos bairros vem sofrendo com a influência do tráfico de drogas.
Levantamento feito pela Folha da Manhã aponta uma prática unânime: em todos os casos, os bandidos se apresentaram como clientes, deixando para anunciar o assalto já no interior do veículo. Surpreende o fato de quatro dos crimes terem ocorrido no período da manhã. Apenas um aconteceu à tarde, um à noite e outro durante a madrugada.
Onda de assaltos tem trazido preocupação
Onda de assaltos tem trazido preocupação / Isaías Fernandes
Rafael Sepúlveda é taxista há apenas quatro meses. Apesar de não ter sofrido nenhum assalto, o curto tempo foi suficiente para ele ficar temeroso. “O risco é muito grande. Há algumas semanas, eu estava trabalhando de madrugada e um amigo chegou com a blusa toda rasgada, porque tinha sido abordado por um casal e fez uma corrida até o Parque Aeroporto. Chegando lá, o casal anunciou o assalto, ele tentou reagir e houve briga corporal. Graças a Deus, ele conseguiu abrir a porta e fugir. Levaram o carro, que só foi encontrado no dia seguinte”, contou.
De acordo com Rafael, a violência já foi tema de conversa entre os próprios taxistas. Alguns já pensam até em providenciar métodos para diminuir a sensação de insegurança: “Infelizmente, tem sido uma situação recorrente. A gente tenta fazer uma triagem dos passageiros, evitando iniciar corridas perigosas. Aqui na praça (São Salvador) é tranquilo. O problema é quando a gente sai com o passageiro e vai para determinadas regiões, porque a gente não sabe, de fato, onde vai chegar. O passageiro pede a corrida e, se tiver armado, manda ir adiante e fazer o que tiver que fazer. Penso que deveria haver métodos dentro do veículo para viabilizar uma maior segurança, como câmera”.
O caso mais recente aconteceu na manhã da última quinta-feira (20), por volta das 6h. A vítima foi um homem de 28 anos que havia começado a trabalhar como taxista há apenas duas semanas. Ele iniciou uma corrida em um ponto na praça do Santíssimo Salvador, no Centro, com destino ao distrito de Travessão. Durante a viagem, o passageiro pediu para que o motorista fosse até o bairro da Codin, em Guarus, onde buscaria seu filho. No meio do caminho, anunciou o assalto e exigiu o celular e o dinheiro da vítima. Em momento de agilidade, o taxista parou o veículo e conseguiu fugir. O carro, um Fiesta Sedan, foi recuperado pela Polícia Militar poucas horas depois, na avenida Carmem Carneiro.
A reportagem tentou ouvir o presidente do Sindicato dos Taxistas, Marcelo Vivório, mas não houve retorno.
Câmeras podem ajudar a solucionar casos
O presidente do Conselho Comunitário de Segurança, Ivanildo Cordeiro, comentou que a onda de assaltos a taxistas tem sido bastante discutida. Porém, pouca coisa foi colocada em prática para reprimir este e outros tipos de crimes. “É consenso nas reuniões do conselho que o serviço de monitoramento da Prefeitura é o que vai nos dar um suporte maior. Mas essa demanda já tem algum tempo. A gente tem se esforçado bastante, os empresários têm se colocado à disposição. Agora existe uma questão legal, de poder fazer, de recursos”, comentou.
No dia 16 de agosto, foi apresentado pela Prefeitura o Plano Municipal de Segurança Pública, elaborado pela superintendência de Paz e Defesa Social, com três “eixos” temáticos: o de Ações Preventivas, o de Ações Estratégicas e o de Ações Operacionais. A proposta é colocar em funcionamento um “Gabinete de Gestão Integrada”, para centralizar as ações e dar uma resposta mais rápida aos ilícitos na decorrência de sua dinâmica.
De acordo com o superintendente da pasta, Darcileu Amaral, o centro de monitoramento conta atualmente com 22 câmeras em funcionamento. Está sendo preparado um edital de licitação para a instalação e manutenção de outras 90 câmeras de segurança e quatro câmeras OCR, sigla inglesa de Reconhecimento Óptico de Caracteres (Optical Character Recognition). “As ações serão gradativas conforme a saúde financeira do município for melhorando e de acordo com as parcerias público-privadas”, informou.
Ainda segundo Amaral, o projeto Campos + Segura será lançado em breve pelo prefeito Rafael Diniz. Além da aquisição de câmeras, também estão previstas medidas como: aumento no Policiamento Comunitário, fortalecimento do Grupamento Ronda Escolar, criação do Fundo de Segurança Pública, com um Conselho Municipal de Segurança, e um Sistema Único de Atendimento, com GPS nos veículos para monitoramento do sistema.
Polícia diz que realiza operações
Apesar de várias tentativas, a reportagem não conseguiu contato com o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Fabiano Souza. Por meio de nota, a assessoria de imprensa do 8º BPM informou que a PM realiza diariamente operações que visam reduzir e extinguir os roubos de veículos. “Orientamos que (os motoristas) repassem à PM qualquer informação que seja útil para a diminuição do citado problema, e que invistam em dispositivos de segurança que inibam a ação dos criminosos (GPS, filmagem interna de veículos, etc)”, diz a nota.
O delegado titular da 134ª Delegacia de Polícia (DP), do Centro, Geraldo Rangel, falou sobre a importância de os taxistas obterem o máximo de informações possíveis sobre os passageiros que atenderem. “Tivemos, há pouco tempo, a situação do taxista de São Paulo, que foi assassinado no estado do Rio e o carro apareceu em Campos. Nós tivemos que buscar a identificação das pessoas que estavam no veículo. Conseguimos, o inquérito está praticamente concluído. Enfim, o taxista precisa se comunicar com seus companheiros de profissão, sempre trocando informação, para que, caso surja eventual problema, seja possível fazer a identificação dos ocupantes do carro”, afirmou. O delegado titular da 146ª DP (Guarus), Luis Mauricio Armond, também foi procurado pela reportagem, mas não concedeu entrevista.
No caso citado por Geraldo Rangel, da corrida iniciada em São Paulo, um Cobalt branco foi encontrado à margem da BR 101, em Ibitioca, na manhã do dia 4 de setembro. O proprietário era o taxista José de Oliveira Filho, de 64 anos, encontrado morto na madrugada do dia 5, em uma ribanceira na zona rural de Rio Bonito, município da Região Metropolitana do Rio. Um homem, uma mulher e dois adolescentes foram presos pela Polícia Civil nas cidades de Serra/ES e Vitória da Conquista/BA.
 
 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS