Verônica Nascimento
22/09/2018 18:46 - Atualizado em 24/09/2018 14:52
O apoio da Unesco, através do programa Criança Esperança, ao projeto social Araribá, do Centro Juvenil São Pedro, em Campos, tem garantido o empoderamento de 130 crianças e adolescentes com idades de quatro a 18 anos incompletos das comunidades da Margem da Linha e Ururaí. O projeto, criado em 2010 e que assistia 60 alunos com verbas municipais, foi selecionado pelo Criança Esperança ano passado. O financiamento da Unesco possibilitou, além do pagamento de profissionais e despesas diversas, a ampliação do número de assistidos e a aquisição de uma van, para o transporte de mais de 50% dos alunos que, com suas famílias, foram transferidos da Margem da Linha, considerada área de risco, para o Morar Feliz de Ururaí, a cerca de oito quilômetros de distância do Centro Juvenil, onde o projeto funciona. A van chegou semana passada no Centro e fez a alegria da criançada.
Em 2017, o Centro Juvenil São Pedro, que integra a Rede Salesiana Brasil – Social, da Inspetoria São João Bosco (Salesianos) e que é o único equipamento socioassistencial da Margem da Linha, completou 10 anos de existência. Desde 2007, funcionava no local o projeto Baobá, que atendia um público de até 12 anos de idade. Com a crescente demanda de adolescentes pelo projeto, foi criado o Araribá. A ideia de inscrever o projeto no Criança Esperança surgiu com a demanda reprimida de alunos e a dificuldade de transporte dos que, a partir de 2014, começaram a ser removidos para “as casinhas de Ururaí”, conforme explicou o articulador social Renato Gonçalves.
— Não passa ônibus na Margem da Linha e a distância estava impedindo os alunos de participarem dos projetos. Usamos o Gol do Centro para fazer o transporte dos primeiros transferidos, mas não dava conta. Em 2015, com uma campanha na igreja do Salesiano, fretamos uma van, mas não podíamos contar com as doações da igreja para pagar o fretamento e nem usar recurso público, da Prefeitura, para comprar um veículo. Em 2016, inscrevemos o Araribá no Criança Esperança e fomos contemplados com o financiamento da Unesco, que verificou como a atuação das crianças e adolescentes no projeto melhorou a vida escolar deles, a convivência familiar, inclusive com a redução da violência doméstica e indicadores de resolução de conflitos — disse Renato.
A van ainda não foi adesivada, mas já está operando. No Araribá, as crianças estudam, em sua maioria, pela manhã, os adolescentes, à tarde. São oficinas diversas, como a de História e Cultura Afro, a África em Nós, para valorização das origens, e Letramento, com atividades para complementar o trabalho escolar, desenvolver habilidades para o sucesso e manter os assistidos de determinada faixa etária no ano correspondente e segundo o letramento, na escola. São várias, ações socioeducativas, de apoio escolar, atendimento psicossocial, orientação familiar, grupos de convivência, recreação, mapeamento do atendimento especializado, acolhida e roda de conversa.
Orientadora fala com emoção sobre trabalho
Muito feliz com a nova etapa do Centro Juvenil está a orientadora Cristiane Gomes Monteiro, que atua com uma turma de crianças na oficina de História e Cultura Afro. O pai dela, Sílvio Teles Monteiro, foi o criador da capela que acabou se tornando o Centro Juvenil São Pedro. “Ele fazia catequese da Igreja Nossa Senhora do Rosário no quintal de casa e a gente ficava sobre uma amendoeira, nas aulas. Aí, ele começou a construção da capela São Pedro sozinho no quintal, com recursos próprios. Levantou o esqueleto da igreja e foi ao Salesiano, pedir a ajuda a padre Daniel. Fizeram a capela, o Oratório Festivo, mas havia necessidade de algo mais e surgiu o Centro Juvenil”, contou a orientadora.
Ver o Araribá selecionado pelo Criança Esperança para a moradora da Margem da Linha e profissional do projeto é um “reconhecimento do nosso trabalho”. “A gente se dedica muito, mas precisa muito mesmo da van. Choramos muito quando fomos selecionados, de emoção mesmo. Esse é o único espaço referência para essas crianças e adolescentes. Aqui, eles compartilham sua história de vida, os pais participam. Aqui, é um local de crescimento dessas pessoas, de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, de empoderamento. Aqui descobrem a importância do estudo e temos orgulho dos resultados”, acrescentou Cristiane.