Matheus Berriel
08/09/2018 19:00 - Atualizado em 10/09/2018 13:27
Veio do distrito de Ibitioca a maior nota das escolas municipais de Campos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2017, no primeiro segmento (1º ao 5º ano). A pontuação 7,0 da Escola Municipal Leandro de Souza Gomes chegou a ultrapassar a meta projetada para o ano avaliado, como também as planejadas para 2019 e 2021, que são 6,6 e 6,8 respectivamente. Já no segundo segmento (6º ao 9º ano) o destaque campista ficou para a Escola Municipal Professora Olga Linhares Corrêa, no Parque Calabouço, em Guarus. Também na área de Guarus está a pior unidade de ensino do primeiro segmento. A Escola Municipal Lions I, no Parque Santa Rosa, obteve a nota 3,1. Já a pior nota do segundo segmento foi da Escola Municipal Professora Wilmar Cava Barros, no Jóquei Clube, que tirou apenas 2,6. O Ideb foi divulgado no último dia 3 e mostrou que nos anos iniciais da rede municipal Campos despencou do 48º para o 79º lugar no ranking estadual, entre 92 municípios, ficando com a nota 4,6. Nas séries finais também houve queda. O município ficou em 76ª posição, com 3,5.
Há quatro anos Erika de Lourdes Rodrigues dirige a Escola Municipal Leandro de Souza, que atende cerca de 120 alunos. Ela acompanhou o desenvolvimento da turma de quinto ano de 2017, que contava com cerca de 20 alunos. Preparados com atividades e simulados durante o ensino regular, foram eles quem participaram do Sistema de Avaliação de Educação Básica (Saeb), a antiga Prova Brasil, um dos medidores para a nota final do Ideb. O índice de aprovação também foi levado em conta pelo Ministério da Educação (MEC).
— É uma grande satisfação. Além de estar na função de gestora, eu sou professora dessa escola. Nossos corações, como professores, ficam repletos de alegria, porque é fruto de um trabalho que a gente começa desde a educação infantil e vai perpetuando ao longo dos anos. É fruto de uma parceria de muito comprometimento e dedicação dos professores. Em 2015, alcançamos 6.1 no Ideb. Já em 2017, subimos para 7,0. Realmente, foi uma surpresa muito grande. A gente sabia que ia conquistar um bom resultado. Mas, não tanto acima da média, a ponto de ser o destaque da rede municipal — afirmou Erika.
Há 10 anos na unidade, a professora Natália Márcia Coutinho leciona na turma de primeiro ano do Ensino Fundamental. Desta forma, tem participação direta no aprendizado inicial dos pequenos. “É muito satisfatório ver a criança crescendo e adquirindo conhecimento. Algumas crianças que vêm da creche já possuem algum controle motor e uma noção das letras e dos números. Mas, há as crianças que vêm de casa com maior dificuldade. Realizamos um trabalho bem de base, de acordo com o conhecimento inicial da criança, e vamos avançando com a evolução do aprendizado. A turma que fez a prova no ano passado sempre se destacou, sempre trabalhou muito junto”, enfatizou.
Na média das séries iniciais, a rede municipal ficou com 4,6, cumprindo à risca a meta planejada, índice inferior ao 5,0 de dois anos atrás. A pior nota individual foi a da Escola Municipal Lions I, no Parque Santa Rosa, com 3,2, muito abaixo dos 5,1 tirados na edição anterior do Ideb, em 2015. Esta unidade tem como grande dificultador sua localização geográfica, pois o bairro integra a região conhecida como “Faixa de Gaza”, em Guarus, que sofre grande influência do tráfico de drogas. A reportagem não foi autorizada pela Prefeitura a entrar na escola. Mas, do lado de fora, pôde observar várias pichações nos muros, algumas, inclusive, fazendo alusão a facções criminosas.
Nas séries finais, do sexto ao nono ano, o destaque campista ficou para a Escola Municipal Professora Olga Linhares Corrêa, no Parque Calabouço, também em Guarus. Após ter obtido 3,5 como nota em 2015, saltou para 4,4 no Ideb do ano passado, superando a meta de 4,0. Por outro lado, a Escola Municipal Professora Wilmar Cava Barros, do Jóquei Clube, tirou apenas 2,6, nem a metade do 5,3 planejado como meta. A média de Campos com as turmas de nono ano foi de 3,5. Em relação a 2015, quando havia tirado 3,6, caiu da 65º para a 76º colocação entre os municípios fluminenses.
Região - Entre as cidades da região, Itaperuna foi quem obteve o maior desempenho. Além de ter garantido o terceiro lugar no estado entre as séries iniciais, com 6,4, tirou a maior nota das séries finais, 5,3, ao lado de Comendador Levy Gaspariam.
— Estamos realizando um sonho. Nossa meta sempre foi melhorar o ensino do nosso município e, hoje, estamos recebendo esse presente. Parabéns a toda equipe da Secretaria Municipal de Educação — comemorou o professor França Bombeiro, secretário da pasta em exercício no ano passado.
O prefeito itaperunense, Marcus Vinícius de Oliveira Pinto, também comentou o feito: “Estou muito feliz com esse resultado, porque mostra que o nosso trabalho está no caminho certo”.
Secretário fala sobre avaliação
O secretário de Educação de Campos, Brand Arenari, alegou que o resultado dos dois segmentos no Ideb, principalmente o das séries iniciais, é reflexo da ruptura realizada pela atual gestão com a chamada política de aprovação automática. “O município tinha adotado uma política com efeitos trágicos de um sistema de aprovação automática. Isso tem feito com que a gente tenha uma massa de analfabetos. Do ponto de vista político, é muito custoso. Mas, isso precisava ser enfrentado”, afirmou Brand. “Nós sabíamos que a nossa nota no Ideb ia cair, mas que a ruptura com a política de aprovação automática representava um avanço para o município. Até porque, o Ideb é um instrumento importante de controle, mas não é um sistema absoluto sobre a educação”, completou.
Dados da secretaria de Educação apontam que 70% dos alunos do 5º ano que fizeram o último Saeb não conseguem identificar assunto e opinião em reportagens ou informação explícita em letras de músicas e contos; interpretar efeito de humor e sentido de palavra em piadas e tirinhas; converter uma quantia dada em moedas de 5, 25, 50 centavos e um real em cédulas de real; nem determinar o horário final de um evento a partir do horário de início. A mesma quantidade de 70% de estudantes do 9º ano encontrou dificuldade para identificar a ideia principal e finalidade em notícias, reportagens e resenhas; diferenciar abordagem do mesmo tema em textos de gêneros distintos; localizar dois ou mais pontos em um sistema de coordenadas; e determinar a porcentagem envolvendo números inteiros.
Em relação ao Saeb anterior, foi mantida a média, com um avanço na língua portuguesa. Todavia, houve uma piora em matemática. Alunos de 82 unidades municipais participaram do Ideb em 2017. Em 2015, haviam sido apenas 31 escolas.
Sepe reforça empenho profissional
Para a diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) em Campos, Odisséia Carvalho, o bom desempenho individual de algumas escolas no Ideb é fruto de esforço coletivo dos profissionais, indo de encontro ao baixo rendimento educacional do município como um todo. “Precisa de uma política de valorização e isso se dá, principalmente, por meio do plano de carreira, que valoriza o profissional pelo tempo de serviço e sua formação, estimulando-o inclusive a estudar e se aperfeiçoar mais. E tem também a questão do reforço escolar. Hoje, há um bloco alfabetizador até o terceiro ano. Mas, é muito importante acontecer, paralelo a essa alfabetização, um trabalho de recuperação dos alunos com dificuldade”, afirmou.
Questionado, Brand afirmou já existir uma política de valorização do professor, mas citou a crise financeira do município como um fator impeditivo de aumento salarial. “Devolvemos a autoridade da reprovação ao professor. Antes, se ele reprovasse o aluno, a secretaria ia lá e aprovava. Implementamos a lei de um terço de planejamento para os professores. Flexibilizamos essa lei em termo de planejamento. Criamos o concurso de remoção, que é uma forma universal e transparente para que o servidor e o professor possam ir de uma escola para a outra. Então, a gente tem feito um trabalho muito grande de valorização e respeito à nossa categoria. Do ponto de vista financeiro, o município atravessa uma crise. Isso não permite que a gente, de imediato, aumente o salário dos nossos professores, o que é a nossa vontade”, falou.
Já em relação ao reforço escolar, o secretário citou o plano de algumas escolas terem aulas em período integral a partir de 2019: “Aderimos ao programa Mais Alfabetização, do governo federal, que faz com que a gente tenha mais um professor ajudando nas turmas com a alfabetização. E vamos começar a implementar nossas escolas integrais. Nossa meta é que, até o final de 2018, a gente tenha quatro escolas integrais funcionando. No ano seguinte, 12 unidades integrais. Ainda estamos em plano de estudo para definir quais”.