Exército e polícias realizam megaoperação em área de conflito de Guarus
Verônica Nascimento 09/08/2018 08:07 - Atualizado em 10/08/2018 13:57
Faixa de Gaza em Guarus
Faixa de Gaza em Guarus / Verônica Nascimento
A primeira operação da intervenção federal na segurança pública no interior do Estado do Rio foi iniciada em Campos nesta quinta-feira (9). Solicitada pela 146ª Delegacia de Polícia (Guarus), cerca de 800 homens do Exército Brasileiro e das polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal de Campos e região, além de agentes da Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPR) realizaram uma megaoperação, batizada de Integração, em cinco comunidades do subdistrito (Parque Eldorado I e II, Parque Santa Rosa, Parque Santa Clara e Parque Prazeres), que têm cerca de 15 mil habitantes. Dois veículos blindados do Exército e um do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), modelo Urutu, atuaram nas ruas de Guarus. A região, já conhecida como "Faixa de Gaza", onde os moradores vivem reféns do tráfico de drogas, é comparada à Síria, devido aos confrontos quase diários de facções rivais e tentativas de invasões na disputa de território. Militares do Corpo de Bombeiros participaram em patrulhamento aquático pelo rio Paraíba do Sul. A intervenção, conforme o Comando Conjunto, permanecerá de acordo com a demanda apresentada pela polícia de Campos. Nesta quinta-feira, 30 pessoas foram presas e 100 casas de moradores que haviam sido expulsos por traficantes foram retomadas.
  • Megaoperação em Guarus

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  • Operação Integração reúne forças de segurança nacional

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De acordo com o porta-voz do Comando Conjunto de Intervenção, coronel Cineli, a operação em Campos já havia sido solicitada pela secretaria estadual de Segurança Pública, por meio de demanda da delegacia de Guarus:
— A necessidade de intervenção em Campos já havia sido sentida desde o começo do processo, mas, no primeiro momento, era preciso um enfrentamento imediato no Grande Rio. Agora, com a redução sistemática da criminalidade, em especial do número de crimes contra o patrimônio, como roubo e latrocínio, tivemos a oportunidade de, dentro de um planejamento estratégico, desencadear a primeira operação no interior do estado, em Campos, mais especificamente na região de Guarus, apoiando a polícia local com cerca de 390 militares no cerco e isolamento do perímetro para permitir à Polícia Civil o cumprimento de mandados de busca e apreensão e de prisão – explicou o coronel.
O porta-voz do Comando Conjunto disse que Campos agora está recebendo um tratamento mais intensificado e que não há definição para a duração da intervenção em Guarus. “O que está havendo não é uma ocupação, porque esse modelo, já testado no complexo da Penha e da Maré, não atende os objetivos da intervenção, porque diminui os esforços dos órgãos de segurança e leva à perda do contato com a comunidade e, quando a ocupação cessa, os índices da criminalidade retornam. Não cabe às Forças Armadas substituir os órgãos de segurança pública. O objetivo da intervenção é recuperar a capacidade investigativa da Polícia Civil, com aquisição de materiais e equipamentos, e de patrulhamento ostensivo da PM, com a recuperação do efetivo. Não temos previsão de quando será encerrada a operação. As Forças Armadas vão se retirar quando a Polícia Civil verificar que não há mais necessidade, que a área já está estabilizada para os cidadãos de bem”.
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Sobre a ação em Guarus e possível reação dos criminosos, o coronel contou que sempre é levantada a possibilidade de enfrentamento. “Muitos questionam e relacionam equivocadamente o número de militares empregados na ação com os resultados alcançados. Nossa preocupação é poupar vidas de terceiros inocentes. Aqui, verificamos que não havia grande probabilidade de confronto e, diferente do que fazemos no Rio, deixamos a polícia militar no centro das comunidades. Não tivemos confronto e o resultado foi muito bom. No Rio não é comum o esbulho possessório, com moradores expulsos por traficantes, e surpreendeu mais de 50 casas retiradas das mãos de criminosos e retomadas para os cidadãos em uma ação sem efeitos colaterais para a população”.
Prisões, apreensões e casas retomadas
Na Integração, as Forças Armadas patrulharam o entorno, atuando no isolamento e controle do perímetro externo, enquanto a Polícia Militar esteve atuando no interior das comunidades. A Polícia Civil cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão. Já a Polícia Rodoviária atuou no bloqueio e controle do tráfego da BR 101. Os militares e policiais civis também revistaram 600 pessoas e veículos, checando antecedentes criminais e removendo 10 barricadas erguidas por criminosos. Na intervenção em Guarus, 30 pessoas foram presas e 100 casas de moradores que haviam sido expulsos por traficantes retomadas. Também foram apreendidos 20 kg de pasta de cocaína, embaladas com “selo de qualidade” e prensadas com a imagem de um cavalo. Na ação, uma motocicleta e um carro foram recuperados. Além disso, foram apreendidos uma espingarda Pump Action calibre 12, um revólver calibre 38, duas granadas caseiras, dois carregadores de pistola, munições, seis celulares e farto material para endolação.
O delegado da 146ª DP de Guarus, Luís Maurício Armond, que já havia alertado que, sem a atuação das forças de segurança, o estado perderia o controle de Guarus, solicitou a operação. “Temos altos índices de crimes de letalidade violenta e nossas investigações apuravam invasões, expulsões de moradores pelo tráfico, mas buscamos uma análise de crimes menores e conseguimos um grande volume de informações que repassamos ao Comando Conjunto”.
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Segundo o delegado, só com a apreensão da cocaína, o tráfico teve um prejuízo de mais de R$ 1 milhão. O símbolo de um cavalo e o selo, que contém a palavra “Caballo”, mostram a origem colombiana da droga. “E apreendemos armas, veículos, material pirata, pessoas foram presas em flagrante, inclusive por furto de energia. São mais de 50 imóveis que o tráfico tomou de famílias. Acreditamos que com as apreensões, a retomadas das casas e o porte da operação, as famílias fiquem livres da ação do tráfico”.
Adolescente resgatada - Durante a Operação Integração, policiais civis resgataram uma adolescente de 16 anos que, na última semana, havia sido raptada pelo namorado. A vítima foi retirada do Sovaco da Cobra, no Sapo II, e levada para a comunidade do Sapo III, no bairro Eldorado. No momento da revista, no local em que a jovem foi encontrada, os agentes apreenderam 14 tabletes de cocaína e um sacolé da mesma droga, dois carregadores de pistola e uma espingarda calibre 12. Em outro local, uma mulher, que tinha tido um bebê e recebeu alta do hospital esta manhã, percebeu que sua casa já estava ocupada por traficantes.
Comandante fala em redução do índice de criminalidade
A operação Integração chamou a atenção dos moradores da Síria campista, mas o número de veículos e de militares das Forças Armadas e das polícias não conseguiu, em um dia, passar uma sensação de segurança, nem mesmo com os blindados e o caveirão do Bope circulando na “Faixa de Gaza”. “Daqui a pouco eles vão embora e a gente tem de ficar”. “Falar qualquer coisa aqui é correr risco de morrer”, disseram moradores.
Para o comandante do 8º BPM, tenente-coronel Fabiano Souza, de fato esse não é o fim da “Faixa de Gaza”. “Temos intensificado as operações em Guarus já há algum tempo e estamos reduzindo alguns índices. Nos últimos 11 ou 12 dias, tivemos um homicídio, na Codin. Mas a questão do tráfico de drogas, com as brigas de facção, é antiga nessa região e precisamos da união das forças de segurança para reduzir os índices da criminalidade a níveis aceitáveis, pois não temos como zerar esses índices. Mas precisamos também de políticas públicas, com cursos, educação, coisas que tragam ocupação aos jovens de Guarus”.
Agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPR) também atuam na Operação Integração. "Como a grande maioria dos moradores que tiveram suas casas invadidas não prestou queixa às autoridades policiais, com medo de represálias, o Gaeco/MPRJ oficiou à secretaria municipal de Desenvolvimento Humano e Social de Campos solicitando a listagem dos logradouros referentes às casas invadidas, afim de que o poder público pudesse agir em prol das famílias prejudicadas". O promotor público do Gaeco, Sérgio Fonseca, disse que o MP vem atuando sobre a reivindicação do comandante, buscando, através de diversas ações civis públicas, cobrar do poder público municipal políticas públicas mais eficazes para Guarus.
Fotos: Antônio Leudo e Verônica Nascimento
Vídeos: Verônica Nascimento

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