Imagine a possibilidade de uma pessoa descobrir que desenvolverá um tumor cinco anos antes de ele se manifestar. Essa previsão extremamente precoce é viável e pode ser feita por meio de um simples exame de sangue. É o que mostra um estudo conduzido por pesquisadores ingleses e norte-americanos. Os cientistas detectaram um marcador sanguíneo que pode ajudar a apontar o risco de um paciente sofrer de um câncer renal. As descobertas foram apresentadas na última edição da revista especializada Clinical Cancer Research e podem contribuir para monitorar o tratamento da enfermidade.
No estudo, os pesquisadores analisaram amostras sanguíneas de 190 pacientes que desenvolveram câncer renal. Elas foram comparadas com o sangue de outras 190 pessoas sem a doença. Por meio das análises, os cientistas constataram que medir os níveis de uma proteína presente no sangue, chamada KIM-1, pode indicar se um indivíduo tem maior probabilidade de ter esse tipo de tumor futuramente.
Os dados mostraram que, quanto maior a concentração de KIM-1, mais acentuado será o risco de desenvolvimento do câncer renal. “Contamos com o trabalho anterior de colegas nossos. Eles indicaram que a proteína KIM-1 se mostrou elevada no momento do diagnóstico dos casos de câncer de rim (comparados com pacientes saudáveis), e que concentrações menores de KIM-1 foram registradas após a remoção cirúrgica do tumor”, detalhou ao Correio David Muller, pesquisador do Imperial College London, no Reino Unido, e um dos autores do estudo. “Confirmamos isso nessa análise. Esse trabalho é um grande passo à frente, o KIM-1 é o único biomarcador sanguíneo que se mostrou capaz de distinguir pessoas com alto e baixo risco de desenvolver esse tipo de tumor”, complementou.
Os cientistas também observaram que, em pessoas com câncer de rim com menor sobrevida, os níveis de KIM-1 eram mais altos no sangue. No futuro, os pesquisadores acreditam que quantificar os níveis dessa proteína possa ser uma medida utilizada com testes de imagens para confirmar suspeitas de câncer renal, ou ajudar a descartar a doença. “Os próximos passos envolvem examinar mais de perto e confirmar se os níveis de KIM-1 podem auxiliar a detectar tumores que estão em um estágio inicial, e descobrir se a técnica pode ser usada como uma ferramenta para rastrear se o tratamento de um paciente está funcionando”, explicou Muller.
Os especialistas ressaltaram que, apesar dos resultados iniciais positivos, o estudo precisa ser aprofundado. “Agora é crucial entender mais sobre como o KIM-1 pode ser incorporado ao tratamento dos pacientes”, ressaltou Rupal Bhatt, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. “Estamos empolgados em continuar esse importante trabalho e testar se a medição de níveis de KIM-1 consegue ajudar a identificar pacientes que podem se beneficiar de tratamento adicional após a cirurgia e, portanto, potencialmente melhorar suas perspectivas”, frisou. (A.N.)