Crítica de cinema - Desencontros e conexões
03/08/2018 18:22 - Atualizado em 07/08/2018 18:23
Divulgação
(Ana e Vitória) -
Ao se conhecerem em uma festa no Rio de Janeiro, Ana e Vitória descobrem compartilhar interesses, sonhos e questionamentos parecidos. Dentre esses interesses, a música e elas combinam de se encontrar para gravar. Passado um ano, as duas se tornam um grande sucesso na internet e voltam ao Rio para encontrar um empresário, realizar seu primeiro show e confrontar todos os dilemas e questões que parecem mover sua música e suas vidas.
O primeiro ato do longa se passa inteiro em uma festa em que as duas jovens se conhecem meio que ao acaso, nem mesmo a relação de ambas com a música é usada para estreitar esses laços, é tudo muito casual, como os relacionamentos da juventude ali representada (ao menos da que frequenta aquela festa faz parecer). Nessa primeira cena fica clara a falta de jeito das duas para atuar. Problema ressaltado pelo texto ruim do escritor e diretor brasiliense Matheus Souza (Apenas o fim).
A busca de ambas por um grande amor e por se encontrarem na vida, são temas fortes e pertinentes para as duas e acredito que para grande parte das pessoas naquela faixa etária e a naturalidade com que o longa transita por temas como a liberdade sexual é uma grata surpresa. Curioso, é que as duas são muito carismáticas, mesmo para alguém que não as conhece, fica claro esse carisma, que beneficia bastante as duas perante a falta de experiência diante das câmeras. As cenas em que só as duas atuam parecem mais sinceras, menos mecânicas, certamente o grau de intimidade entre elas beneficia muito nesses momentos.
Mateusinho viu
Mateusinho viu / Divulgação
Já quando atuam com outros atores, a coisa não funciona bem. Principalmente no caso do relacionamento central de Ana, um relacionamento complicado, com uma personagem aborrecida, que nunca justifica o carinho que as une.
O filme usa a música como forma de se expressar do casal, dando um refresco no cinema verborrágico do diretor, mas as cenas musicais carecem de criatividade, é verdade que em termos de estética eles dialogam com os vídeo clipes da dupla, mas aqui a mídia é diferente e os números musicais não acrescentam muito narrativamente, nem visualmente.
A música fica em segundo plano, em nenhum momento a carreira delas é aprofundada. Tudo dá muito certo, não acontece nenhum tipo de percalço, a música e o sucesso são o ponto de interseção em que tudo gira ao redor, mas nunca é aprofundado.
O cineasta Matheus Souza produz esse tipo de cinema falado, muita conversa, muita exposição e seus textos não são geralmente inspirados. Aqui eles podem até dialogar com o público alvo, mas o longa carece de estrutura, de história mesmo, visto que esses desencontros amorosos são insuficientes para segurar as quase duas horas de projeção.
Em termos de temática, a escolha dele para comandar o filme até faz sentido, mas o tipo de cinema que ele realiza não. O filme carece de vibração, de música, de emoção. As próprias protagonistas terminam emocionalmente na mesma situação, as experiências ali vividas não parecem provocar nenhum tipo de amadurecimento.
Para um filme que busca dialogar com o jovem de hoje, ele abusa de artifícios que remetam as redes sociais, ideia interessante, até mesmo porque as duas começaram seu sucesso na internet, logo esse artifício faz sentido, mas falta ao filme um ritmo mais próximo das narrativas dessas mídias. O jovem de hoje absorve informação de forma rápida, já o longa tem um ritmo lento, muita conversa com câmera parada e pouca movimentação.
“Ana e Vitória” é um longa problemático que tem no carisma de suas protagonistas seu elemento mais interessante. Talvez com uma abordagem diferente, o longa chegasse a um resultado mais consistente. Vale aos fãs, como introdução ao universo da dupla, fica devendo.

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