Juízes e políticos repercutem Lula
Arnaldo Neto, Aldir Sales e Suzy Monteiro 10/07/2018 11:26 - Atualizado em 11/07/2018 13:27
Sem Copa do Mundo e Campeonato Brasileiro, o último domingo foi marcado por outro duelo, mas bem longe dos gramados. O desembargador Rogerio Favreto, plantonista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, acatou um habeas corpus da defesa para libertar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Durante todo o dia, Favreto e o relator da Lava Jato na Corte, João Pedro Gebran Neto, despacharam várias determinações pela soltura e pela manutenção da prisão do petista, respectivamente, até uma decisão final do presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson, para que Lula, condenado em segunda instância a 12 anos e um mês de reclusão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, em São Paulo. O caso gerou polêmica no país inteiro e também repercutiu na planície goitacá nos meios político e do judiciário.
Favreto, que já foi filiado ao PT, alegou que um fato novo, a pré-candidatura de Lula à presidência da República, o autorizava a tomar uma decisão durante o plantão judiciário. Para o juiz campista Glaucenir Oliveira, a decisão de Rogério Favreto foi “teratológica”. “A decisão do desembargador de plantão foi teratológica, valendo lembrar que ele não tinha competência jurisdicional para o caso.
O juiz (Sérgio) Moro foi correto em seu despacho ao enviar o caso para análise do presidente do TRF-4, que culminou com a cassação da decisão do desembargador que decidiu politicamente, numa espécie de factóide ensaiado, ignorando-se as regras processuais sobre um caso de execução penal que já foi analisado inclusive pelas instâncias superiores”.
Ralph Manhães
Ralph Manhães / Rodrigo Silveira
Na mesma linha do colega de toga, Ralph Manhães viu uma decisão com “viés político” por parte de Favreto. “Acho que o desembargador plantonista não tinha qualquer competência nesse caso. Foi uma decisão absurda e teratológica. Não tinha urgência alguma no caso em questão. (...) Me pareceu um viés totalmente político do juiz plantonista.
Entendo também que o juiz Sérgio Moro agiu de maneira correta, pois suscitou ao presidente daquele tribunal que dirimisse a dúvida sobre a competência, que certamente não era do plantonista. Felizmente a inusitada decisão foi corrigida”.
Já para o presidente do PT em Campos, Rafael Crespo, a desobediência de Sérgio Moro à decisão inicial de Favreto precisa ser apurada. “O evento deste domingo mostra a crise de institucionalidade que estamos vivendo desde o golpe de 2016. Um juiz de primeira instância descumprir a ordem de um desembargador é algo que precisa ser apurado.
Ao fim, serviu para, mais uma vez, desnudar a parcialidade do judiciário no nosso país”.
Por fim, o presidente municipal do PSDB em Campos, Lesley Beethoven, criticou o excesso de recursos previstos na lei. “Toda essa situação reflete o clima de grande instabilidade jurídica que o nosso país vive. Há uma overdose de mudança de decisões, fruto do excesso de recursos previstos em lei. O que agrava a circunstância que vive o ícone petista, é que vários outros condenados estão recebendo desses mesmos juízes e tribunais ‘o privilégio’ de ‘responder por seus crimes em liberdade’, como previsto em lei. Os defensores do ex-presidente passam a evocar o mesmo tratamento para ele, e como não está sendo dado, aumentam a pressão. Por isso, estrategicamente, Lula está sendo transformado pela esquerda num ‘perseguido político’. Pura estratégia política, que até agora está dando certo. Prefiro derrotar o Lula nas urnas, pois o resultado com milhões de votos é muito mais fácil de ser aceito do que o resultado de uma sentença ou votação em tribunal que tirem ele do jogo”, finalizou.
Desembargadores mantêm prisão de petista
Os desdobramentos sobre a guerra de decisões a respeito da revogação ou manutenção da prisão de Lula não se limitou ao domingo e continuou durante todo o dia de ontem. A Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu que nenhum desembargador do TRF-4 tenha mais competência para julgar habeas corpus do ex-presidente. Qualquer pedido de liberdade somente poderia ser encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), segundo a PGR.
Na visão da PGR, a ordem de prisão de Lula foi proferida por um dos colegiados do TRF-4, a Oitava Turma, o que teria exaurido por completo a competência da segunda instância da Justiça Federal para julgar qualquer pedido de liberdade do ex-presidente.
O vice-procurador-geral da República, Humberto Jaques, pede ainda que o STJ determine à Polícia Federal (PF) que não cumpra decisões relativas à prisão de Lula que sejam proferidas pelas primeira e segunda instâncias, obedecendo apenas às determinações tribunais superiores.
O presidente do TRF-4, João Pedro Gebran Neto, decidiu ontem manter sua decisão que impediu a soltura de Lula. Ao receber o processo, ontem, Gebran Neto manteve sua decisão e ainda impediu que a corregedoria do tribunal e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sejam acionados para apurar o suposto descumprimento do alvará de soltura pelo juiz federal Sérgio Moro, que deveria efetivar a soltura de Lula, segundo Favreto.
Um grupo de 100 membros do Ministério Público (MP), entre procuradores e promotores, entrou com um pedido de providências no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o desembargador Rogério Favreto. Segundo os promotores e procuradores, o Favreto violou “flagrantemente o princípio da colegialidade”, uma vez que, na visão deles, passou por cima da determinação da Oitava Turma do tribunal.
Por outro lado, com apoio do PT, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), movimentos sociais e parlamentares preparam uma representação ao CNJ contra os magistrados que definiram pela manutenção da prisão do ex-presidente.
A representação será contra o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato na primeira instância, João Pedro Gebran Neto, relator da Lava Jato em segunda instância, e o desembargador Thompson Flores.

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