Paulo Renato do Porto
30/07/2018 22:00 - Atualizado em 01/08/2018 18:36
O jeito simples de se vestir contrasta com o estereótipo comum de um agente do futebol, quase sempre de terno e gravata, em trajes formais. Ao invés de um gabinete, prefere o campo de jogo do Aryzão como local de trabalho, quase sempre com o celular colado ao ouvido. Sempre junto aos jogadores, mantém uma relação paternal, mas também de cobrança. No clube, recebe o afago dos torcedores como o homem que montou o elenco e o estafe que levaram o Goytacaz a recuperar o seu trono na Série A, numa histórica decisão em cima do rival Americano. Eis então o empresário Flávio Trivela, que assumiu a gestão do futebol profissional e, num curto prazo, devolveu a autoestima à torcida alvianil, levando o clube a projetar saltos mais ambiciosos.
— Queremos ganhar essa seletiva para estar entre os grandes do Rio. Sempre falo para eles (atletas) que nossos sonhos aqui no Goytacaz não tem limites. Queremos ganhar essa Copa Rio para então disputar a Copa do Brasil ou o Brasileiro da Série D. Só depende de nós — enfatizou.
Trivella se sente em casa no Goytacaz, onde jogou no sub 20 e disputou uma Taça Cidade de Campos, em 1987, “Morava ali embaixo das arquibancadas”, lembrou.
O flerte entre o empresário e o Goytacaz começou no final de 2016. Do namoro ao casamento havia uma sombra de incertezas, mas um ponto de consenso fundamental para selar o acordo ente as partes.
— O clube estava em situação muito difícil, prestes a fechar as portas. Mas se disputasse o campeonato, o Paulo Henrique seria o técnico. Eu disse: se ele for, eu vou também. Porque o Paulo tem uma identidade com o clube e a história da minha empresa. Trabalhamos juntos no Rio em alguns projetos e no Quissamã, onde chegamos à Série A. Então, fizemos um contrato de três meses com o Goytacaz. Se desse certo, iríamos continuar. Como a parceria foi boa, estendemos o contrato para três anos. Depois do acesso e dos investimentos que fizemos na reforma do gramado, dilatamos o prazo para quatro anos, a partir de 2018. Mas tenho o apoio do presidente Dartagnan Fernandes e toda diretoria que me dão toda autonomia para desenvolver o projeto — ressalta.
A força da torcida como motivador maior
A empatia e a força da torcida alvianil foi outros fatores que levaram Trivella a abraçar o projeto.
— Eu gosto de estar junto da torcida, dessa troca de energia que vem lá das arquibancadas. Se o Goytacaz não tivesse essa torcida eu não estaria aqui. Lógico que a Trivella é uma empresa investidora e quer ter resultados, o objetivo é crescermos juntos nesta parceria. Mas ver essa massa feliz não tem preço — disse.
Com Trivella, o Goytacaz reforça seu calibre para a Copa Rio e a seletiva da Série A do Estadual. A fim de alçar novos voos, reforços foram contratados.
— Temos metas e objetivos. Respeitamos todos os adversários, mas não temos falsa modéstia. Vamos entrar para ganhar. Mantivemos a mesma base, contratamos o Thiago Amaral, artilheiro do Carioca de 2016; o Aluisio (meia-atacante), jogador de larga experiência; o Tales (zagueiro) e o Formiga (lateral) voltaram. Não viemos para brincar — garante.
“Hoje temos cotas da TV e um patrocinador”
Trivella diz que as relações entre sua empresa e o clube têm objetivos claros.
— O Goytacaz não tinha receita. Hoje temos um patrocinador, estamos na Série A. Com as cotas da TV pagamos dívidas trabalhistas. Ainda devemos, mas o clube respira melhor. Se a gente sair da seletiva, vamos ter uma melhor cota de TV. Se negociarmos um jogador, vamos melhorar ainda mais — explicou.
Ex-jogador da base do Flamengo e Botafogo, além de Campo Grande, Bonsucesso, Goytacaz e Anápolis-GO, o carioca Trivella pendurou as chuteiras, aos 24 anos, porque logo descobriu que como empresário teria melhores resultados.
Trivella então abriu uma empresa de uniformes esportivos, porta-chuteiras, bolas e caneleiras. Hoje expandiu seus negócios que incluem uma academia de futebol, organização de eventos, como a Copa Trivella (até sub 15), gestão de clubes e carreira de atletas.
O futebol como meio de ascensão social
Trivella tem agora como principal foco gerir carreiras de profissionais como o lateral Cortez (Grêmio), entre outros. E admite o trabalho como gratificante.
— O funil do futebol é estreito. São milhões de garotos querendo ser jogadores profissionais, mas poucos acontecem. Daí ser muito gratificante ver um garoto de uma comunidade pobre que hoje adquiriu um belo patrimônio. Alguns até se tornaram milionários, com o fruto do seu trabalho. O Cortez hoje é um cara respeitado naquilo que faz, pronto para vida, campeão da Libertadores. O Thiago Galhardo (meia), que estava perdido no mercado, hoje está no Vasco. O Antônio Carlos (zagueiro), acabamos de renovar contrato com o Palmeiras. O Leleu era de uma comunidade do Rio, hoje fizemos contrato de cinco anos com o Atlético-MG. Muitos meninos que viviam sem perspectivas, mas hoje estão no topo do futebol — regozija-se.