O Brasil foi eliminado nas quartas de final pela Bélgica. Mas os “Brasileiros da Europa” estão na final contra a França. Com reverência, é assim que se chamavam os jogadores do futebol da antiga Iugoslávia, clássica escola do maior esporte do mundo. Sua maior herdeira, a Croácia do maestro Modric se classificou ontem, na virada de 2 a 1 consumada na prorrogação, sobre a Inglaterra. É a primeira final de Copa do Mundo do pequeno país, de apenas 4,1 milhões de habitantes. Em 1998, em seu primeiro Mundial como nação independente, a Croácia já havia chegado à semifinal, quando foi eliminada pela França de Zinédine Zidane.
No primeiro tempo, os ingleses foram melhores. Com base na aplicação tática, movimentação, força física e rapidez, sua jovem seleção chegou ao gol com justiça. Logo aos 4’ de jogo, o placar foi aberto numa bela cobrança de falta do ala direita Trippier. Apesar do domínio das ações, fechada na defesa e explorando os contra-ataques, a Inglaterra, no entanto, não deu muito trabalho ao goleiro Subacic.
Na segunda etapa, a Croácia voltou com novo ânimo. Na categoria dos seus cerebrais meias Modric e Rakitic — jogadores, respectivamente, do Real Madrid e Barcelona —, eles conseguiram ditar e cadenciar o ritmo da partida, contendo o vigor físico inglês. O jovem goleiro Pickford teve bastante trabalho, com pelo menos quatro defesas importantes. Mas ele nada pode fazer no gol marcado por Perisic, destaque da partida. Dentro da área, o croata da Inter de Milão bateu com o pé a bola disputada de cabeça pelo zagueiro Walker, após cruzamento do lateral-direito Vrsaljko, e empatou a partida.
Com o jogo empatado no tempo normal, veio a prorrogação, que começou com a Inglaterra novamente melhor. Até que aos 11’ ocorreu um lance emblemático, que pode ter passado despercebido à maioria da torcida. Após perder uma bola boba na direita do ataque, Modric veio correndo atrás do jogador inglês que saiu jogando. O perseguiu até que, de carrinho, mandou a bola para lateral. Além da técnica, disputando sua terceira prorrogação seguida, o craque croata de 32 anos mostrou com suor aquilo que iria definir o jogo: a entrega!
Acabou a etapa inicial da prorrogação. No segundo, logo aos 3’, na esquerda do ataque, Perisic se desdobrou para ganhar uma disputa de cabeça na direita. A bola sobrou para o artilheiro Mandzukic. Até então apagado no jogo, ele apareceu na hora certa, cortando pelo meio da pequena área, para ganhar a disputa com o zagueiro e fuzilar Pickford.
As chances inglesas de empatar e levar à disputa de pênaltis ficariam ainda menores. Autor do primeiro gol, Trippier saiu por contusão, aos 9’ do segundo tempo da prorrogação, e deixou seu time jogar até o final com 10 jogadores — o técnico Gareth Southgate já havia feito suas quatro alterações. A Croácia ainda teria uma chance clara de ampliar o placar, num contra-ataque. Mas o atacante Kromaric entrou pela esquerda e arriscou o chute, que pegou na rede pelo lado de fora, enquanto Perisic pedia a bola sozinho na direita, diante do gol.
No próximo domingo, a Croácia fará a final da Copa da Rússia contra a favorita França, que há 20 anos a eliminou numa semifinal. Mas, onde quer que vão neste Mundial, Modric, Raktic, Perisic e Mandzukic já acrescentaram o sufixo “ic” na história do futebol. Tanto quanto Mick Jagger, que estava no estádio torcendo para a Inglaterra, reforçou sua fama de pé frio.