No dia 4 de julho, durante uma audiência pública às 10h, na Câmara Municipal, a Prefeitura de Campos apresentará o projeto básico de Transporte Coletivo Alimentador de Passageiros, parte integrante do novo sistema de transporte coletivo do município. Ele chega para somar num projeto de reestruturação, que visa organizar um setor que nos últimos anos se tornou ineficiente, gerando muitas reclamações. E trará boas novidades, como a integração entre ônibus, micro-ônibus e vans, o monitoramento dos veículos via GPS e a possibilidade de o passageiro pagar apenas uma tarifa para mais de um deslocamento na mesma viagem.
O objetivo é unir o chamado sistema de baixa capacidade (menor volume de passageiros transportados) com o de média capacidade (maior volume de passageiros transportados), levando em conta as características peculiares do município.
Campos tem cerca de 500 mil habitantes e 4 mil Km² de área. O perímetro central, com 1,5% da área total do município (60 Km²), concentra 72% de toda a população (360 mil habitantes), enquanto os distritos, com 98,5% da área do município (3.966 Km²), concentram 28% da população (140 mil habitantes).
— Você tem uma alta concentração da população num perímetro pequeno e um percentual menor distribuído por uma área geográfica gigantesca. Não tem como tratar o transporte da mesma forma em regiões com características tão diferentes — justifica o presidente do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT), Felipe Quintanilha.
A partir deste conceito, o IMTT planejou um sistema que concentra o transporte de média capacidade na área central e distribui o transporte de baixa capacidade pela área distrital. Para tanto, a equipe do instituto teve o apoio de estudos feitos na cidade de Campos, assim como em trabalhos desenvolvidos pela Coppe – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os estudos levaram em conta vários fatores, especialmente o custo do quilômetro percorrido por cada tipo modal. E as diferenças são grandes: o custo do quilômetro no transporte por ônibus é significativamente maior, chegando ao dobro do custo do transporte de baixa capacidade — razão pela qual o transporte de baixa capacidade poderá atender linhas maiores. É o chamado modelo tronco-alimentado. Ele vai integrar as linhas alimentadoras (que ligam os distritos à cidade) às linhas tronco (que atenderão a área central). Para que esta integração seja feita, o município foi dividido em seis áreas, e cada uma terá um terminal, onde o passageiro poderá trocar de veículo. Os terminais serão: Bela Vista, Cepop, Dical, BR 356, RJ 158 e Shopping Estrada.
No prazo previsto pelo projeto, haverá a integração tarifária para que o passageiro pague apenas uma passagem. As linhas alimentadoras serão atendidas por vans e micro-ônibus, enquanto as linhas tronco serão servidas pelos ônibus que já integram o sistema de transporte do município. É importante frisar que o perímetro central, de aproximadamente 60 Km² e será atendido exclusivamente por ônibus, não terá qualquer alteração tarifária.
Por exemplo: quem mora no Farol de São Thomé e precisar se deslocar até o Centro de Campos, utilizará uma van ou micro-ônibus no trajeto até o Terminal Bela Vista; neste local, fará a integração com um ônibus que fará o trajeto até o Centro. Quem sai de Santo Eduardo com o mesmo destino fará a integração no Terminal Dical e seguirá de ônibus até a área central da cidade.
— Tem muita gente por aí dizendo que a gente vai acabar com o transporte alternativo, quando na verdade a gente está fazendo o que ninguém fez, que é trazê-lo para perto e permitir que ele possa conviver de maneira conjunta com os ônibus – prossegue Quintanilha, destacando que as permissões para operar as linhas alimentadoras serão definidas através de licitação. Serão autorizadas 220 permissões em 60 linhas, onde circulam cerca de 1 milhão de passageiros/mês.
Polêmicas diante de um setor fragilizado
O transporte em Campos vem sendo alvo de críticas ao longo dos últimos anos. Em Setembro do ano passado, quando já estava a R$ 2, a Passagem Social foi suspensa. À época, a Prefeitura informou que a interrupção no benefício devia-se à necessidade de uma análise do sistema que, mesmo com o alto investimento dos últimos anos, contando inclusive com verba do Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam), não refletiu em qualidade ou benefícios para os usuários.
O desafio de repensar o transporte de Campos contava com ineficiência no atendimento dos ônibus, concorrência com o transporte alternativo desorganizado, dificuldade financeira de algumas empresas de ônibus, insatisfação dos rodoviários e a incidência do transporte clandestino irregular. Tudo refletindo diretamente na população.
O ano de 2017 terminou e 2018 entrou na mesma situação. Em janeiro, desassistência da empresa Rogil, do Consórcio União, deixou as localidades de Lagoa de Cima, Itereré, Rio Preto, Conceição de Imbé, Sossego do Imbé, Morro Grande e outras sem transporte. Moradores destes locais só tiveram o transporte alternativo irregular como opção para acessar a cidade.
Em fevereiro, duas empresas do Consórcio União apresentaram irregularidades sérias no atendimento. Sem receber, funcionários paralisaram as atividades. A Turisguá chegou a operar por dias com 50% da frota, enquanto a São Salvador paralisou completamente as atividades. Milhares de pessoas da Baixada Campista foram afetadas pela redução nos coletivos, inclusive Farol de São Thomé, em plena temporada de verão.
A 1 ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Campos chegou a intimar o município a resolver o problema, obrigando as empresas a cumprirem o que está previsto no edital, ou realizando nova licitação. O não cumprimento por parte do consórcio União da regularização das linhas IMTT informou ofereceu as mesmas aos consórcios Planície e Rogil.
No dia 20 do mês passado, quatro linhas da Baixada Campista voltaram a ser atendidas pela São Salvador: Beira do Taí, São Sebastião, Córrego Fundo e Quixaba. No mesmo dia, circulou a informação na imprensa que os ônibus da empresa, que poderiam ter sido os adquiridos com recursos do Fundecam, estariam em Paraíba do Sul, sob locação da Campostur. A proprietária da Campostur, Alcineia Lima, negou a existência de contrato no Sul Fluminense. Já Jorge Ramos, da São Salvador, disse que levou os ônibus a pedido de um amigo, que seria dono da Transporte e Turismo São Jorge Ltda., para fazer uma apresentação dos veículos adquiridos por Campos para melhorar o transporte. Depois de muita polêmica, no dia 23, o IMTT anunciou o retorno dos coletivos e realizou uma vistoria na garagem da São Salvador, para constatar ou que os ônibus retornaram para Campos.
Desafios do edital à bilhetagem
Todos os veículos terão bilhetagem eletrônica como item obrigatório. Ela será necessária para que, no prazo previsto pelo projeto, o IMTT possa fazer a integração tarifária, possibilitando que haja o pagamento de uma única passagem para mais uma viagem. Os veículos também deverão instalar GPS para permitir que qualquer pessoa acompanhe seu trajeto através de um aplicativo desenvolvido por uma universidade de Campos, com a qual o instituto está firmando parceria; ou através de monitores que serão instalados nos seis terminais.
Para a licitação das linhas alimentadoras, o IMTT está seguindo um modelo semelhante ao que foi adotado na cidade do Rio de Janeiro, que prioriza a melhor proposta técnica e o permissionário individual. A licitação — que será válida por 10 anos, prorrogáveis por mais 10 — vai priorizar a melhor técnica e o permissionário individual.
O edital contemplará três classes: veículos com capacidade mínima de 14 passageiros (sentados), veículos com capacidade de 20 passageiros (sentados) e micro-ônibus para 20 passageiros (além de 10 em pé). Serão admitidos veículos com até 10 anos de uso, desde que a média do setor onde circular não seja superior a sete anos.
São critérios de pontuação o tempo de permissão, a idade do veículo, multas na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e participação nos cursos de Cidadania e Mobilidade em Transporte e de Aperfeiçoamento de Motorista — ambos oferecidos pelo Sest/Senat. “É um modelo de resgate da credibilidade do sistema de transporte coletivo, que vai permitir que tenhamos um transporte de qualidade na cidade”, observa Felipe Quintanilha.