Victor de Azevedo
23/06/2018 16:30 - Atualizado em 25/06/2018 14:01
Campos sofre ao longo dos anos com a falta de parques públicos municipais que ofereçam à população uma opção de lazer, de prática de esportes e que, ao mesmo tempo, exerça função ambiental e paisagística, propiciando melhoria na qualidade de vida. Nos últimos tempos, os moradores da cidade se acostumaram a frequentar o Horto Municipal, o Jardim São Benedito e o Bosque do Manoel Cartucho. Porém, para um município com quase 500 mil habitantes, o número de espaços públicos disponíveis é considerado pequeno.
O Horto Municipal e o Jardim São Benedito estão abertos diariamente à população. Já o Bosque do Manoel Cartucho não está em funcionamento. A área conta com mais de 20 mil m² e era utilizada pelos moradores como espaço de lazer desde 2015. Segundo o diretor da Santa Casa de Misericórdia, Cléber Glória Silva, estão sendo avaliadas novas opções de utilidade para o bosque.
— O funcionamento do Bosque depende de uma série de manutenções que no momento a Santa Casa não pode arcar. E tem outras questões relacionadas à utilidade do bosque que estamos reavaliando. Uma mudança estratégica da utilização do espaço. Não temos uma previsão para retorno, mas trabalharemos para isso — disse.
O ambientalista Aristides Soffiati afirma que o município precisa de áreas verdes, como em grandes cidades do mundo. “Toda cidade grande tem áreas verdes espetaculares, então Campos precisa de três coisas: áreas verdes, arborização urbana que falta muito e arborização em residências por que parece que existe um ódio a árvores, porque sempre pedem para cortar. E essa cultura tem que mudar. Eu sei que não muda da noite para o dia, mas tem que ir mudando”, finalizou.
A opinião de Soffiati é corroborada pelo urbanista Renato Siqueira. Ele citou um local que considera apropriado para a construção de um parque público. “Ao longo da avenida Arthur Bernardes é um trecho importante para se ter um equipamento urbano. Em Guarus, temos uma área, sobretudo em torno da Lagoa do Vigário, que dá até para criar um cinturão de proteção à própria lagoa”, disse.
A Prefeitura de Campos afirmou que, apesar de ser uma cidade em desenvolvimento, Campos conta com vários espaços públicos ao ar livre para lazer e práticas esportivas. Além do Horto e o Jardim São Benedito, o município ainda possui o Morro do Itaoca, as localidades de Rio Preto e Lagoa de Cima, a região do Imbé e Farol de São Thomé, que são muito populares para caminhadas e passeios ciclísticos.
Necessidade de evoluir e reconectar a cidade
Soffiati ressalta que há tempos que Campos tem uma dívida muito grande em relação à falta de parques públicos.
— As áreas verdes em Campos são mais em propriedades privadas que áreas públicas. E a carência é muito grande e a gente espera que o atual governo comece alguma coisa nesse sentido. Por exemplo, o que a ONU recomenda são 12 metros quadrados de área verde por habitante na cidade. Em breve, a gente não vai ter mais nenhum espaço se continuar com esse processo de especulação imobiliária ou de urbanização, a gente não vai ter mais espaço livre para criar uma área verde — disse.
Para Renato Siqueira, o município de Campos precisa cuidar mais dos espaços não edificados do que os espaços edificados.
— A gente tem uma cidade que é no modelo 3D, desordenada, desconectada e dispersa. E isso causa complicações ambientais e de mobilidade. Precisamos evoluir para uma cidade 3C, compacta, coordenada e conectada. Dentro desse mesmo binômio da questão ambiental e da mobilidade — ressaltou.
Práticas esportivas também são afetadas
Atletas de Campos também sofrem a falta de um parque público que possibilite o esporte. O ciclista Marcos Almeida lamenta que os praticantes não contem com área específica de treino. “Temos que fazer uma opção. Ou você treina correndo riscos, ou você não faz nada e a gente que gosta de esporte acaba enfrentando esse risco. A gente treina na BR 356, sentido Grussaí, que é uma via que há 15 anos era mais tranquila. Hoje, o movimento é muito maior. Vamos para região de São Fidélis que é uma via interessante, mas por não ter nada, a gente corre riscos de assaltos como já aconteceu. A estrada dos ceramistas também é uma boa estrada, mas existem relatos de assaltos também”, disse.
A Prefeitura de Campos criou o Via Esporte Arthur Bernardes. Aos domingos, o trecho entre a BR 101 e a avenida José Alves de Azevedo (Beira-Valão) é fechado das 7h30 às 13h30, para práticas esportivas e piqueniques em família. Para Marcos, a ideia é boa, mas os treinos não ocorrem só aos domingos. “Fechou a Arthur Bernardes, mas não dá para o pessoal treinar porque é um espaço pequeno e o treinamento não é só aos domingos. É praticamente a semana toda”, lamentou.