Homicídios, tentativas e tiroteios retratam o momento atual da “Faixa de Gaza”, localizada em Guarus, subdistrito de Campos. Porém, uma imagem apresentada durante a audiência pública da segurança na Câmara Municipal, na última sexta-feira (8), exemplifica o drama dos moradores. O mapa que representa os bairros que estão localizados dentro da “Faixa de Gaza” tem formato de fuzil. Os números da violência impressionam tanto que a área começa a ser comparada com a Síria. Nesse sábado (9), o primeiro homicídio de junho aconteceu em um dos bairros da zona de conflito de Guarus.

Na área delimitada em formato de fuzil estão situadas casas populares do Morar Feliz, o que já foi apontado como um fator que agravou a situação de conflito, uma vez que não houve análise social ampla na hora de contemplar as pessoas que viviam em áreas de risco ou em vulnerabilidade social. A Folha já havia tratado sobre o assunto em matéria publicada no dia 7 de abril de 2017, quando autoridades de segurança pública falaram sobre a mistura de pessoas de comunidades diferentes.

Para o comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM), Fabiano de Souza, apenas a presença da polícia não inibe a ação dos bandidos. “Coincidentemente, áreas como Codin, Eldorado, Calabouço, Novo Eldorado, chamadas pela polícia de “Faixa de Gaza” aparecem no mapa com a imagem de um fuzil. Vale destacar que temos todos esses pontos mapeados, mas não adianta colocar todas as forças nas ruas, que não vai adiantar. A Segurança Pública é dever do Estado, mas responsabilidade de toda a sociedade”, ressaltou.

Para reforçar a segurança do interior do estado, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), afirmou que irá convocar novos policiais concursados e também ressaltou a retomada do RAS e a criação do Fundo de Segurança Pública. O assunto chegou a ser falado durante visita de Pezão para retomada da obra da ponte da Integração, na última sexta-feira.

Vale destacar que Campos registra a marca de 110 homicídios no ano, segundo dados consolidados do Instituto de Segurança Pública (ISP) e da Folha da Manhã. Deste número, pelo menos, 72 foram na área do subdistrito de Guarus, o que representa 65% dos assassinatos no município.

O estopim para o aumento da violência em Guarus teria sido a criação da facção criminosa Terceiro Comando dos Amigos (TCA). Extraoficialmente, o TCA teria surgido após união dos grupos Amigos dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando Puro (TCP). Neste momento, as autoridades imaginavam que os números da guerra poderiam diminuir, mas a suposta insatisfação de Francio da Conceição Batista, o Nolita, 34 anos, causou efeito inverso e os casos de violência explodiram na área. Após a prisão de Nolita, em março deste ano, os órgãos de segurança mais uma vez esperavam a redução drástica no quadro, mas isso não ocorreu e a violência continua em níveis alarmantes.

O delegado titular da 146ª Delegacia de Polícia de Guarus, Luis Maurício Armond foi enfático ao criticar a falta de políticas públicas no subdistrito durante audiência pública da segurança. Segundo ele, a polícia não é remédio e sem apoio do poder público e de empresários a Guarus, será difícil combater a violência.

— As polícias estão prontas para apoiar as políticas públicas, mas não temos nenhuma em Guarus. Precisamos da atuação da Guarda e do Exército para ações mais ostensivas, para reduzir os índices de criminalidade e também necessitamos do apoio da sociedade e políticas públicas. Caso contrário, vamos perder o controle de Guarus — desabafou o delegado.

Em nota, a Prefeitura de Campos afirmou que “através de diferentes áreas, a Prefeitura vem desenvolvendo políticas públicas voltadas para crianças e jovens na região de Guarus, principalmente, em áreas de risco social”. Programas desenvolvidos pelo Executivo através da Fundação Municipal de Esporte (FME), da Fundação Municipal da Infância e Juventude (FMIJ) e da secretaria de Desenvolvimento Humano e Social também foram citados na nota. Por fim, a nota ainda diz que “a Prefeitura vem buscando alternativas para fomentar a economia do município, gerando emprego e renda. Na região de Guarus, além das empresas instaladas, o funcionamento do Aeroporto e o processo de reativação do Ceasa são indutores da economia”, finalizou.

Segundo o diretor da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, Marcelo Areas, “a entidade está avaliando e analisando a situação da segurança pública no município e está sempre disposta a contribuir para garantir uma cidade mais segura a todos”.

Na tarde do último sábado (9), um adolescente identificado como Jairo Nascimento, de 16 anos, foi morto a tiros e um homem baleado na rua Altino Campos, no Parque Bandeirantes. O bairro, assim como os parques Eldorado, Santa Rosa, Custodópolis, Santa Clara, Prazeres e Codin, faz parte de uma das áreas de conflito mais perigosas do interior fluminense, que já foi conhecida como “Faixa de Gaza” entre policiais e, hoje, começa a ser compara até com a Síria. Este é o primeiro homicídio registrado em Campos no mês de junho, aumentando para 110 o número de assassinatos neste ano.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, agentes foram acionados por volta das 13h15. O menor foi atingido por pelo menos três disparos e veio a óbito no local antes mesmo da chegada dos Bombeiros. Já o baleado foi socorrido por populares para o Hospital Ferreira Machado (HFM).

Até o fechamento desta matéria, a polícia não havia divulgado informações sobre suspeitos ou possível autoria do crime. O caso está registrado na 146ª Delegacia de Polícia (DP), de Guarus. O corpo de Jairo foi levado para o Instituto Médico Legal (IML).