Verônica Nascimento
08/06/2018 10:43 - Atualizado em 09/06/2018 15:19
O preocupante aumento da violência nas duas principais cidades do Norte Fluminense foi tema de audiências públicas nas Câmaras Municipais de Campos e Macaé. Na maior cidade do interior, o encontro, proposto pelo vereador Thiago Ferrugem (PR), aconteceu nesta sexta-feira e contou com a presença de autoridades de segurança e políticos. Um dos principais assuntos foi o crescimento da criminalidade, especialmente na região de Guarus, que 65% dos homicídios em Campos desde o início do ano, segundo dados da Folha da Manhã consolidados com o Instituto de Segurança Pública (ISP). O comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (Campos), tenente-coronel Fabiano Souza, alertou: “Temos de aproveitar o momento em que estamos sob intervenção federal (na Segurança Pública do Estado) para buscar soluções. A PM tem uma tropa comprometida com a região, somos daqui, nossas famílias residem aqui e não queremos chegar a um ponto de sermos caçados por sermos policiais militares”.
Ferrugem abriu a audiência com a apresentação da estatística de homicídios em Campos registrada pela Folha. “O objetivo é oficiar ao presidente Michel Temer e ao general Braga Netto, do Gabinete de Intervenção, as demandas que verificamos na audiência e conseguirmos mudar essa situação de violência em nosso município”.
Fabiano Souza ainda comentou sobre a concentração da violência em alguns bairros de Guarus e disse que existe um mapeamento da área feito pela Polícia Militar. “Temos mapeados os pontos com mais homicídios, áreas como Calabouço, Eldorado e Codin. No Novo Eldorado, nas casinhas (conjunto habitacional do Morar Feliz), que chamamos de “Faixa de Gaza”, aparecendo no mapa coincidentemente com a imagem de um fuzil. Temos, inclusive, o trailer da PM, no local, mas uma pessoa pode ser morta por atravessar a rua. Temos um Ciep próximo dali, onde nem todos os jovens podem estudar. Podemos colocar todas as forças nas ruas que não vai adiantar, não vai resolver. A Segurança Pública é dever do Estado, mas responsabilidade de toda a sociedade”, ressaltou.
Delegado adjunto da 134ª DP do Centro, Pedro Emílio Braga explicou que, sem aporte de recursos financeiros nas principais instituições da Segurança Pública, mesmo no cenário da intervenção federal, a criminalidade estabelecida em Guarus ameaça não só o município de Campos, mas todo Norte Fluminense.
Thiago Ferrugem informou que, entre as solicitações que serão enviadas ao presidente da República e ao interventor federal, já foi formulado o pedido de reforço imediato do efetivo do 8º BPM, já que existem, segundo ele, cerca de 800 concursados não convocados. Também será avaliado, junto à Prefeitura, o desenvolvimento de ações da Saúde, Educação, entre outras áreas, para fomentar políticas públicas na região.
O delegado titular da 146ª Delegacia de Guarus, Luís Maurício Armond, falou que, sem efetivar a intervenção federal e sem políticas públicas para os mais de 200 mil habitantes da região, o Estado vai perder o controle de Guarus, comprometendo a segurança da população de todo o Norte Fluminense.
Também participaram da audiência o vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da Alerj, Bruno Dauaire (PR), o delegado regional do interior, Daniel Bandeira, o comandante da Guarda Civil Municipal (GCM), Fabiano Mariano, e o superintendente de Paz e Ordem Social, Carlos Amaral.
“Estamos em guerra, os números mostram”
O antropólogo e fundador da organização não governamental (ONG) Viva Rio, Rubem César Fernandes, esteve nesta sexta-feira na Câmara Municipal de Macaé para falar sobre a crescente onda de violência no interior. Na ocasião, ele afirmou que não se trata apenas de uma crise de Segurança Pública: “Estamos em guerra. Os números da violência nos mostram isso”. Recentemente, ele se filiou ao PPS, visando uma possível candidatura ao Governo do Estado.
Para Rubem esta não é uma guerra convencional, pois envolve o enfrentamento das forças do Estado e de um conjunto de pessoas organizadas que se espalham pelo território em ações criminosas. A entrada dos cidadãos nessa guerra, sobretudo em áreas carentes, seria fruto da desigualdade social, da falta de oportunidades e da ausência de políticas públicas de Educação, Cultura, esporte, lazer, trabalho e renda.
O antropólogo defendeu as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em comunidades de pequeno e médio porte, mas não em grandes territórios, como o Complexo do Alemão. “Para Macaé acho que seria uma boa estratégia, capaz de dar conta das demandas locais”. Ele também se mostrou favorável a entrada do Exército para conter a violência no Rio. “Acho um desperdício não utilizar forças que têm essa competência e podem contribuir com ações e estratégias de forma macro. Assim, é possível deixar que a polícia atue no varejo, isto é, no dia a dia das ruas.”
Rubem César terminou a palestra afirmando o caminho é a união de forças municipais, estaduais e federais no enfrentamento do problema, além da recuperação da confiança e da capacidade das polícias. “Hoje, a média é de dois a três PMs mortos por semana no Rio. Eles sofrem com a desvalorização do Estado e o deboche da população desacreditada. Somado a isso, vivem em um ambiente de grande risco e pressão, o que favorece a depressão, o suicídio e os desvios de conduta dentro das corporações”, relatou.